quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Epifania

Quando os medos que se alojam no teu coração gritam mais alto que o teu desejo mudo de os silenciar, a tua alma adoeceu.

Pisamos estradas de calçada irregular, lama suja, pedras afiadas e alcatrão ardente de pés descalços. As feridas são o passar dos anos gravados na pele, as cicatrizes memórias da vida. A dor é um dos mil possíveis resultados da experiência, que é tão somente fruto da coragem. O medo é reservado para os que não vivem, ou para os que não têm coragem de viver.
Todas as histórias são escritas com sangue, lágrimas e suor. A tinta é o sangue negro de uma alma morta que se recusou cruzar as portas da segurança e a provar o mundo, que sabe que por vezes ele é amargo, intragável quase, mas que desconhece que outras vezes pode igualmente ser muito doce.
O espaço reservado para o amor depende inteiramente das fronteiras do ódio. E se amar é fácil, odiar é mais fácil ainda. Porque amar magoa e
odiar não, é preciso coragem para o fazer. E não é maior a loucura dos loucos do que a loucura dos que se deixam
assombrar pelo medo ou arrebatar-se por uma paixão cega. Porque mais loucos ainda, são os que
pensam que podem amar alguém sem antes se amarem a si próprios.
Olhamos para os outros da forma que nos olhamos ao espelho.

Se não puderes sorrir perante o teu reflexo, a tua alma adoeceu.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Veio e foi. Natal.

Nestes dias de barretes vermelhos e árvores decoradas, desejos de presentes e jantares com muita gente, penso o que sempre pensei. A Consoada não pareceu como uma Consoada.
Recordo uma vez que era pequena e passei a véspera de Natal em casa do meu avô paterno com os meus tios. Nunca gostei daquela casa. Nunca gostei das prendas que ele escolhia, isto quando ele ainda se lembrava de oferecer alguma coisa. Agora, já é bom que telefone. Mas, por alguma razão, essa noite assentava melhor no ideal de uma Consoada. A família reunida, confusão, a mãe stressada, a prima chateada, enfim.
O geral é nunca ter nada disso. À mesa somos poucos e tendeu a diminuir. Não são os lugares à mesa que contam, sei, mas parece, cada vez mais, que há muito pouco de natalício neste Natal. Talvez porque é habitual sermos nós cinco à mesa. Bem, quando eu estou em casa. Antes era diferente. Antes descia à casa da avó no rés-do-chão para o almoço de Natal. Antes éramos seis à mesa e a Raquel está a ficar comovida. A questão é: antes costumávamos ser só quatro no dia-a-dia, e sempre havia que somar mais dois no Natal para fazer a diferença. Mesmo que fosse igual a todos os almoços de domingo, aqueles que nunca mais tivemos, na casa dos avós. Geralmente, nós descíamos. Eles dois só subiam em ocasiões importantes.
Então, se não fossem as travessas exageradas de doces, os bolos, as tartes, não teria havido grande diferença entre a Consoada e qualquer outra noite.
Dia 25 foi algo diferente, mais natalício, se não lhe tivesse perdido o espírito. Mais família, tios, primas. Talvez tenha posto as coisas de forma errada. Mais família não é igual a mais Natal. Faltou-me o calor, faltou-me a magia.
Faltou ser criança.
Tenho saudades dos tempos em que havia pelo menos um presente cujo conteúdo eu não sabia qual era. Tenho saudades da curiosidade, quando a minha mãe não embrulhava os presentes no próprio dia e fazíamos uma pilha com eles a um canto. Não são saudades do tempo em que podia fazer uma pilha com eles, mas sim daquele momento em que olhávamos para as etiquetas e dizíamos "este é para ti".
Tenho que comprar uma prenda para a minha mãe. Lamento não ter tido oportunidade antes.
No fundo, o Natal realmente é das crianças e, mais não seja, tenho saudades de quando a minha irmã ainda era realmente criança, e pedia brinquedos de crianças, e eu gostava quase mais de a ver abrir as prendas dela do que as minhas.
Afinal de contas, não é só um dia em família. Porque todos os dias devem ser dias em família. Natal é mais que isso. Foram sonhos, esperanças, coisas de criança que se perdem quando temos idade para pintar o mundo com as suas verdadeiras cores. O espírito de Natal mede-se pela intensidade com que fazemos a contagem decrescente e, este ano, senti-me como se tivesse tropeçado na data, olhado para o calendário e perguntado "já é Natal?".
Era. Veio e foi. Deixou gravada uma marcada entretanto, chamada nostalgia.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Home Sweet Home

Sofá, lareira, voltar a escrever.

Só e apenas. Hoje chega-me.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Tempo para reviver

Preciso de dar uma volta ao uso que faço de cada hora destes dias. A contagem decrescente começou desde que regressei, e se é muito o tempo, também são muitas as coisas que tenciono fazer.
O calendário vai enchendo com compromissos. Iludo-me com o depois da passagem de ano, quando só eu estiver de férias. Não será bem assim. O tempo tem a sua própria táctica para desaparecer. E eu preciso...
. de estar com as pessoas.
. de voltar a escrever. Sobretudo de voltar a escrever.
Tenho de abrandar o meu ritmo de vida. É estranho como o que antes era familiar se torna diferente, raro.
Talvez devesse começar a usar bem o tempo agora. Mas é tarde e ando com horas de sono para cobrar...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

RED

Encontras o caminho e paras.
Olhas para os dois lados. Atravessas.
A história escreve-se do outro lado.
O sinal estava vermelho.

"Só sei que nada sei". Apetece-me viver.
Ponto final.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

(des)consolo

Desconsola-me. Há palavras que leio que não fazem sentido, desviam-se do significado que não quero que tenham, encostam-se a uma esperança mais cálida, pintada com cores mais acolhedoras.
Há meias verdades cuja meia mentira é frequentemente ignorada. E depois dói. Arde lá no fundo, desconfortável, como uma comichão da pele. Incomoda muita gente que não consegue dormir, que não consegue escrever, que não consegue fechar a porta ao problema.
Os códigos que regem este nosso mundo são uma coisa demasiado complexa para nós que os inventámos percebermos. Como um poeta que não entende o sentido dos seus versos. Infantil, criar sonhos grandes demais para uma vida tão pequena.
E tudo o que eu queria era ver. Ver por dentro. Nas entranhas do teu coração, ver se bate depressa ou devagar, quando pára, quando se encolhe, quando sangra. Pintá-lo em cada momento, para guardá-lo para a posterioridade, para um dia em que ele não reaja, não me veja. Se não for hoje esse o dia.
Amar é uma oportunidade. Como tudo na vida, tem um prazo de validade. Só que não vem explicitamente expresso.
Há quem se esqueça que os sentimentos mudam. Há quem não perceba que as pessoas crescem. O tempo não é um desfile de dias e meses. É real, físico, concreto. E sente-se da pele aos ossos.
Demasiado tarde, compreendemos que podia ter sido de outra forma.
Demasiado tarde, percebemos que podíamos ter dito outra coisa, feito outra coisa.
Mas se a esperança é verdade, não nos cai ao pés, arrastada pelo vento, lavada pela chuva, seca pelo sol. Há que dar-lhe vida, tomar nas mãos o seu corpo inerte, soprar-lhe nos lábios, inchar-lhe o peito de ar, até bater o seu coração.
É preciso agir. Ser pró-activo.
É preciso querer.
Desconsola-me. Quando não fazemos o que é preciso para merecer essa oportunidade.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

And that's it. 18

Preciso de reflectir. Calma, lenta e profundamente.
O velocímetro da minha vida tem disparados todos os radares. Cabeça, corpo e mente, num rodopio de luzes e cores, vozes e sensações. Soterrada. Encantada. Cansada. Entusiasmada. Tudo, Tudo.
Preciso de um tempo em frente à lareira, enrolada nas mantas, em minha casa, com a televisão ligada e a família ao redor. Preciso deste Natal por aquilo que ele significa realmente; não são as prendas, não é a árvore, não é a comida. É a família. Preciso de parar e voltar a casa, voltar à família. Parar, assentar, olhar em redor e perceber: algo mudou. O tempo passou, num calendário diferente com o mesmo número de dias. E é tão diferente que parece mentira. Como fazer anos e não estar em casa, não ser acordada pela mãe pela manhã, não ter um embrulho à esperar, beijos para dar... E estas lágrimas são de saudade. Esperaram muito por cair. 18... o que é isso? Foi uma noite espectacular, foi receber mais mensagens (90% via FB) de parabéns do que alguma vez antes, foi rir, foi recordar como é patinar no gelo, foi acabar na noite seguinte a ver Chocolat e no mesmíssimo dia a prof. de Inglês passar o filme na aula. Foi bom, em todos os sentidos. Mas foi também diferente. Como se passasse a nevar no verão.
E ainda não acabou. Amanhã vou para o Algarve. Eu amo estas pessoas, mas também preciso de comemorar esta dita importante data com as pessoas que há tantos anos estão presentes neste dia. Preciso de um forte abraço vosso, hoje, amanhã, depois.
Preciso de parar de chorar. Está quase... Falta um dia, falta uma semana. Férias... Depois de três meses, mais de três dias em casa vai ser tão estranho como óptimo. E então, a vida dá mais uma volta, ano novo, vida nova; ela já é nova desde Setembro, mas o novo estará lá, no fim do primeiro semestre, exames, mudar de casa em Março; sim, vou, e quero tanto!
Depois de um mês a lareira, voltarei a disparar os radares. Agora, só quero dar um beijo a todas as pessoas especiais que estão no Algarve. Se pudesse, não voltava para a última semana, mas a agenda está preenchida, como sempre.
E cada dia vale a pena. Até ao fim.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Silêncio

O silêncio é um monstro invisível que absorve o espaço, encolhe-se e alarga-se, molda-se ao limite das paredes desta casa, destes quartos. Tão fácil de quebrar, ele intensifica-se e cresce, tão denso como a água, tão transparente quanto ela, ocupando cada vazio, cada ausência.
O silêncio é como o nada, tão banal, tão desprezado, impossível de ter e de querer, mas doce de sentir, rápido de dar.
É a voz desta casa neste fim de semana.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Todas as horas são certas

Não é tarde nem é cedo, todas as horas são certas. É como chegar a casa e começar a chover; querer entrar e abrirem-nos em porta; oferecerem-nos algo antes de pedirmos.
Com a certeza porém de que são poucos os que dão o que não é pedido, pago ou requerido, podemos sonhar com a generosidade humana, ou, se tanto não basta, com a probabilidade de sermos tocados por uma divina coincidência que de divina geralmente pouco tem.
Insisto em recriminar-me por frases tão longas, mas bem vistas as coisas, não há pontuação que regule o pensamentos. Não há inclusive regras que ponham e disponham das ideias que saltam e ressaltam, que caiem e descaem, que nos conduzem e nos atropelam; enfim, que nos mudam.
O nossa mente é um sítio complexo para se viver. E não importa o que se diga ou desdiga, não se compreende a teoria de uma dor de cabeça, se é física, mas não batemos com ela em lado nenhum, são as ideias a fazer pressão nas veias do cérebro, é a mente convulsionando pelos problemas que lhe arranjamos.
E no final, para retomar o que se perdeu quando as palavras tomam a rédea do discurso e falam por si, todas as horas são boas horas, porque, reclamem os filósofos, protestem os religiosos, batam palmas os ateus, não se pode adiar viver.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Desejo Paradoxal

Esta noite fria é minha e tua, para recordar os desejos perdidos de ser o que nunca fomos. No abraço incerto deste meu corpo, não há memórias, apenas lembranças, e na solidão dos cobertores, o calor nunca é quente. Ao som da música que bate com força entre os pensamentos dispersos desta mente, já caíram demasiadas lágrimas, mais do que chora hoje o céu.
A poesia é algo que já não me inspira confiança. Quebrem-se ou não as palavras, amontoem-se ou alinhem-se as palavras, o caminho sem fim que um cérebro poeticamente programado traça leva sempre à mesma crua realidade.
Os olhos comem mas não alimentam a alma.
A necessidade corrói um ser por dentro, e as mão andam cegas a apalpar o mundo, mas só virando a pele do avesso poderíamos absorver alguma coisa. Estamos cirurgicamente fechados ao prazer. Tudo é tão efémero que se torna inútil, tudo está tão visto que somos cegos. E água já não basta para matar a sede.
O tempo é a eterna constante do nada, e para nada há sempre tempo. Esperamos e desesperamos, estranhamos mas entranhamos; as palavras dos outros são a nossa voz no futuro. Amamos e prendemos, mas odiamos que nos prendam.
Somos um paradoxo caminhante e está tudo dito.
Uma vez mais, como tudo na vida, o começo é sempre o mesmo. Mas os finais variam a cada momento.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nocturna sobriedade em gélida solidão

Falta qualquer coisa na noite que cai, no riso do ar gelado que afaga as gargantas como promessas luxuriosas de um amor que está por vir. No frio do luar caiado de branco num céu com cor de carvão, as ilusões são tantas como as estrelas que brilham no tecto negro do mundo, e mais ainda as contamos quando a visão falha fruto do copo que sustemos em parco equilíbrio na mão.
As mentiras não coabitam neste infame segundo que se arrasta como uma hora ao sol pelo derramar da luz nos becos imundos onde afogamos as nossas mágoas um dia atrás do outro.
Neste momento a perdição é um alegre sonho onde o esquecimento é um banho de água quente sobre os ossos enregelados pelos dedos cruéis da vida não-misericordiosa que nos abraça com um sorriso falso a cada amanhecer, como um despertador suave que vai ganhando intensidade com a nossa resistência em aceitar o que está para vir.
A história é sempre longa, mas já foi dito e sobredito que o final, meus amigos, é sempre o mesmo, e não importa que o sol brilhe tanto que cegue, a noite vem sempre cobrar pelos pecados adiados e a cobrança é ferro em brasa sobre a pele, até que os moribundos se atirem ao chão e chorem as desgraças e os males de que foram vítimas e culpados em virtude do único crime que foi terem nascido humanos.
Este é o século do declínio, e a descida faz-se num caminho ascendente, porque os sentidos vivem deturpados por imaginações infantis e ingénuas e pelos delírios vendidos de que se pode comprar a felicidade e apagar os erros fatais que em tempos idos condenavam o infame a uma ida directa para o inferno. A coberto da noite, os sussurros são brandos e sob a longas capas dos pecadores se transacciona as drogas que vão pôr o mundo a sorrir durante o dia, seja uma agulha bem destilada, uma nota verde de inveja e vermelha de sangue, ou um encontro clandestino nas traseiras do bar do ócio e da paixão, quando os desejos são carnais e o espírito é uma palavra que só filósofos e religiosos usam, que a alma essa já derreteu e se arrasta aos nossas pés como uma sombra tão substancial como um fantasma preso à terra.
Na loucura encontramos o berço que nos aquece sobre a chuva gelada que nos ensopa a ambição e disfarça as lágrimas que de outra forma só cairiam no canto escuro do quarto mal iluminado onde a solidão pesa demais e nos pressiona até que as vísceras se sintam tentadas a fluir pelos poros, deixando um corpo seco e vazio de vontade, que a liberdade foi aprisionada pelos pesadelos que a humanidade injectou no nosso cérebro desde tenra idade.
Vencer, vencem os heróis dos contos de fadas, onde a imortalidade é tão banal como o amor eterno, mas sabemos nós com quantos problemas esta imunda e imoral sociedade se depararia se a morte tirasse umas férias e pudéssemos sonhar com um certo e seguro para sempre.
E o que falta esta noite é o calor de um outro corpo, um beijo nos lábios e palavras doces que murmurariam às minhas mãos para sossegarem esta euforia maníaca que as pôs a comando de uma consciência tortuosa que se perde em vocabulários tão fundos que a luz da verdade é tão real e próxima como a da lua. Mas o silêncio é vibrante e ensurdecedor, e a realidade grita lá fora por uma voz para cantar as suas mágoas, e não importa que o que diga não faça sentido aos ouvidos do homem, há sempre alguém que encontra algo de si somente de olhar para as letras esquizofrénicas que alguém atirou para aqui. E isso é tudo o que importa.

sábado, 20 de novembro de 2010

Pensar na vida...

Algarve, de novo. É estranho ver como passaram tão rápido estas três semanas. Ou assustador como certas memórias permanecem tão vívidas e fortes, que é como se tivesse sido ontem. Estar longe arrasta o antigo habitual para essa categoria de incomum que nos marca de forma diferente. Mas há algo de muito bom nisso. As velhas relações deterioram-se como papel no chão pisado vezes sem contada a cada passo de distância, mas aquelas que permanecem ganham uma importância sublime destacada pela saudade.
É com orgulho que declaro nenhum arrependimento nas escolhas que fiz. Não me canso de o dizer porque não me canso de o constatar. É como ter o melhor dos dois mundos, e ainda me assombra como tudo ficou tão bem e tão certo com uma única decisão.
No fundo, tudo se resume a pessoas. É tão simples quanto isso. Proclamamos independência, aspiramos a governar a nossa vida sozinhos e a construir com as nossas mão a tão cobiçada felicidade, mas ela não depende unicamente de nós. Depende, sim, de estarmos rodeados pelas pessoas certas. Lembro-me quando há uns meses me imaginava na universidade e censuro-me por desejar essa suprema independência de fazer tudo a contar só comigo. O melhor de Aveiro são as pessoas, e só compreendendo isso alguém percebe porque é que nós, algarvios, não morremos de amores pelos fins-de-semana lá — porque quando eles vão para casa, nós ficamos, mas não é igual.
Enfim surpreende-me que só faltem quatro semanas. Choca-me até. Eu gosto realmente daquilo, e embora quisesse poder alargar um pouco este curtíssimo fim-de-semana em casa, sinto-me algo dividida. E nunca volto triste para Aveiro.

domingo, 14 de novembro de 2010

Coração

Quando um coração de gelo racha, os pedaços são demasiado pequenos e derretem demasiado depressa para que os consigamos devolver ao lugar.
Se te abrem uma brecha na alma, derramam-se-te os fluídos cardíacos e é ver o amor e o ódio rolar pelo chão como contas de um colar de pérolas. Por dentro, somos todos algum tipo de pedra, uns diamantes, outros carvão. E cada um se quebra de modo diferente.
O gelo é o revestimento preferido dos quentes de espírito mas frios por experiência. A condensação das mágoas é por natureza uma nuvem muito carregada mas que nunca se precipita. E porque não chovem lágrimas, elas gelam contra o miocárdio, umas sobre as outras, numa parede transparente de sonhos desfeitos.
Mas água é sempre água, e uma chama quente consegue o milagre que nenhuma palavra no mundo pode. Às vezes o fogo é real, outras materializado num gesto, num olhar, num beijo.
Ou numa esperança.

sábado, 13 de novembro de 2010

Just a thing

Porque toda a gente anda a usar os blogs para escrever histórias???
I have NO time, and NO memory to remind it all.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

K.I.S.S.

A semana caiu. Não sei bem como a apanhar, se a deixo ir, se me perco até ela voltar.
Tenho a consciência do muito e a vontade do pouco. Mas não são senão os antagonismos a nossa especialidade? E distorcer a realidade, com sal para tempero e pimenta para aquecer a língua. Como se não tremesse já o corpo, que este delírio é frio e a febre é uma desculpa para amainar a dor com analgésicos.
O conforto de um colchão é todavia doce demais e lutar contra a preguiça que faz de todos nós pecadores. Vamos lá, vamos lá. Ando sem paciência para textos longos, quer lê-los ou escrevê-los. Quando mais palavras, mais mentiras. Aprendam a regra do beijo.
KISS - Keep It Short and Simple
Talvez ande a aprender alguma coisa em inglês... Mas de momento penso que algures nos próximos dois dias terei de me reprogramar para o modo espanhol. Universidad...
Mas há no português este lirismo só nosso, um modo de conjugar as palavras em metáforas que resultem, expludam, marquem! Compreende quem compreende.
E vamos seguir o beijo a acabar agora. Curto, sim. Simples? Ahahah. Quem quer literatura simples que compre livros para crianças!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Touch of White

Stay close to the nightfall. Drop the tears one by one, in the silent of this broken heart. Know the story of humanity since the beginning of hate. It’s a hell painted in white and written in red. The truth about love lies in the back of revenge, and the face of anger is in fact an overdose of passion. Let me be simple. We don’t know how to use words to describe the world. We don’t know how to do it. Our vision set the rules, our eyes command our mind, and they are the toys of society. Feelings are impossible to write down. These lines are lies and compulsive imagination. Just shut up and listen the night. The silence is a utopia. Peace is a dream. And nightmares are the reflections of our fears. Let us be fearless. The reason is the reason of hypocrisy. All of us are sinners once in a while. Dear God, whoever you are, you know that. Perfection is to breathe and to love — unconditionally. Kindness is to forgive. And be human is to wake up every morning, rather rains, or the sun sparkles, and have the ability of smile and the conscience that a new day is coming.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tentativa de post

Tinha saudades de me rir e dizer asneiras com a minha prima.
Não tinha saudades desta chuva e vento que quase me levantam do chão.
O primeiro suplanta o segundo. Depois de um momento de nostalgia à janela, estou surpreendentemente bem disposta.
Parece que não tusso à muito tempo; o xarope começou a fazer efeito rapidamente — eu provavelmente não tinha referido isto antes mas não importa, tosse é tosse and sucks — ups, não estou assim tão curada.
Não me apetece continuar. Há uma coisa chamada Skype que o mais próximo que posso estar dos meus amores algarvios.
See u

Lamento Selenita

O silêncio é de pedra e a noite de gelo. O abraço da chuva não tem nome mas é memória fria e húmida da hora que antecedeu o fim de tudo. As palavras rangem. É o momento.
Não sei mais por onde caminhar. Não há mais véus para levantar nesta cortina de luz e escuridão que encobre as mentiras plácidas da humanidade. O abrigo é de papel e derreteu. Só tu sabes como o sol queima neste dia nublado. Mais arde a ausência das vozes que não percebes. E as perguntas são as mesmas em todas as gerações.
Um dia seremos grandes conquistadores em cavalos de madeira e espadas de plástico. Encontraremos o fim do arco-íris e o pote de ouro. A vitória é uma criança que ganhou um doce em forma de coração. E tudo o que esperamos de amanhã é acordar. Um beijo nesta face gélida e a rua ganhou novas cores. Mas a distância que separas dois corpos é a meta mais difícil de se ultrapassar. Compreendemo-lo ao crescer, quando a inocência é pecado e os gestos são todos obscenos. Quando um abraço tem o preço de mil amores comprados e um milhão de dívidas para saldar.
A oração é baixa e para ninguém. A ajuda é ilusão dos pobres e dos afogados, e o divino é crença dos ricos e dos que ainda têm esperança. O chapinhar dos pés descalços na rua molhada sim é a canção dos deuses. E nas mão calejadas e imundas está a sabedoria mais amarga desta vida e da outra. Sob a sombra do preconceito, nascem artistas e anjos. E à luz do sangue dourado que bombeia nas raízes deste mundo, morrem todos os outros corações. Porque a arte permanece e a bondade escasseia mas subsiste, para alimentar com água pura as almas daqueles quem têm olhos para ver e não para se deixarem cegar.
A história é longa e na verdade nenhuma. Gasto insano de palavras e papel. A moral não existe fora das nossas consciências.

sábado, 6 de novembro de 2010

Juízo Final

Vamos medir a consciência do mundo com uma fita métrica e somar todas as lágrimas que caem num segundo. Então subtrair cada beijo sincero por metro quadrado e dividir o valor por todas a vezes numa vida que alguém diz "amo-te" de verdade. No fim, multiplicamos tudo pelo número de pecados que cabem num minuto e percebemos que restam muitos anos de penitência à Humanidade.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Humor 'de trazer por casa'

Estou com um humor complicado. Chama-se ser mulher. Dançando na corda bamba entre a vontade de bater em alguém e tapar o rosto e deprimir. Chama-se cansaço também, que é o que acontece quando nos obrigamos a nós próprios a sair da cama para ir ter aulas depois de cinco horas mal dormidas após um dia de ressaca (não contem a ninguém).
Apetece-me aterrar definitivamente na cama, mas não quero dormir. O tempo livre em frente a um pc ou com um livro parece tão curto, mas que literatura resiste quando a mente desiste?
Nunca tinha sido uma pessoa de pessoas. É bom, mas eu preciso de escrever. Não funciona quando o tempo é todo dos outros, e todavia, não se sinto egoísta a esse respeito, como bem me lembro de ter sido com algumas pessoas. Quero dar esse tempo. Apenas sinto falta que me sobre algum. Neste momento tenho-o. Mas não sei se consigo pôr a cabeça no sítio — ou por quantos mais minutos me manterei assim desperta.
Still... pode ser que não responda torto a mais ninguém hoje.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

(re)tomar a paixão

Tenho que retomar o ritmo diário disto. Agora já não desculpas.
Aveiro está mais frio, mas a vida segue sendo quente nestes laços que se aprofundam como irmandades de corações que estão fora dos círculos das suas casas e precisam de uns braços para os confortar; e tão meigos são os que encontram, que esta é já a sua nova casa.
O conceito de tempo é uma variável ainda mais relativa quando nos referimos à amizade. Nem sempre os anos fortalecem os sentimentos. Por vezes, fazem exactamente o contrário...
Por vezes é a distância que nos mostra o que queremos e a proximidade que nos diz o que não queremos. Talvez tenha deixado algo a amadurecer no Algarve e só agora me aperceba...
Ainda não peguei na máquina fotográfica e fui tirar fotos pela cidade. Quem sabe este fim de semana. Há um sem fim de possibilidade quando temos o tempo e os meios para ir onde quer que queiramos nesta formosa cidade — isto porque só a pé vemos a beleza da paisagem.
Já tenho madrinha (aka patroa, segundo o vocabulário aveirense). Tenho de pensar numa cartinha bonita e original para completar o pedido.
Hoje há jogo de futsal de LEE. E festa. Que possamos comemorar uma vitória também, que as meninas merecem! ;) Go, LEE, Go!

domingo, 31 de outubro de 2010

Atitude Morta

O delírio era doce e consciente, enquanto deitada na cama pequena demais para o seu tamanho. A luz no tecto tinha um pesado ar hospitalar e zumbia. O chão era o refúgio cansado dos objectos que sustentam a vida humana. Lixo pago a peso do ouro para ser usado como papel.

Não sonhava. Estava demasiado acordada para isso. Enquanto o mundo gritava a bebedeira lá fora, o vidro tão transparente impedia todavia o desespero de entrar onde já reina a ruína. Talvez houvessem estrelas no céu negro, não sabia. O brilho artificial feria os olhos e corroía a alma. Cegava com a eficiência do ácido e a suavidade do algodão.

Havia um grito preso na garganta, mas não mais voz digna das palavras para mudar o mundo; se é que tal coisa existe. O silêncio é a resposta dos deuses.

As caixas de medicamentos e os frascos de comprimidos empilhavam-se como uma torre de desejos frustrados ao alcance das mãos, primeiro intocados, depois tentados, logo usurpados, no fim derramados. E o pesadelo começa quando não se consegue encontrar a inconsciência. Na esperança do vazio foi plantada a semente do desconhecimento, e quando o universo respira ar salgado de lágrimas, queremos tão somente poder calar o sentimento de injustiça que não nos deixa dormir.

A história é a mesma não importa em que livro se leia. Os lençóis são ásperos sobre a pele nua e febril, mas o coração é eterno bloco de pedra gelado, à espera de um relâmpago que atinja o sistema nervoso e com uma descarga de electricidade vermelha quebre a abstinência de emoções. Mas após o choque, os sintomas de alucinação deslizam numa nostalgia casta até caírem na realidade que se escondia discretamente por detrás da ilusão.

A mentira é sempre difícil de engolir, em especial quando nos beija o rosto e dança à nossa frente a coberto de um manto branco sob o qual morreu a pomba. E o chão é escorregadio debaixo dos pés; a porta recuando com um sorriso manhoso, erguendo a maçaneta para longe dos dedos, que a clausura é o melhor remédio para a insanidade.

É impossível sonhar nestas noites que se derretem na existência veloz deste novo ser. A exaustação infiltra-se nos músculos e pesa nos ossos; a mente não pensa como antigamente, carregando nos seus pulmões a nicotina dos outros, que a droga é cara mas anda a solta nas ruas à espera de lábios que a inspirem. Um lento abraço mortal como um fantasma que vagueia no escuro do quarto enquanto os espíritos despertos acreditam que ainda conseguem ver. Enigma escrito na areia para o mar apagar, que o tempo mostra todas as soluções e são sempre iguais.

Melancolia refinada sob o luar apaixonado, que a cadência deste peito é tão regular como o tiquetaque de um relógio. Se o sol brilhasse de noite, estaria a dormir. Mas o irresistível não é o convencional, e malas desfeitas são vidas abertas para o encanto de perder umas horas para as viver.


24-Out-10


sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Lack of sunshine

O beijo desta história é contado às três da madrugada e sabe a acre.
Quando os ricos vencem, os pobres viram a cara e tentam de novo. Às vezes as palavras acumulam-se na garganta e é difícil respirar. Mas os que superam essa provação são superiores de consciência e controlados de alma.
Nem todos os contos de fadas têm finais felizes. Por vezes não há sequer fadas para embelezar a metáfora de uma humanidade que se declara pintada de negro por luto à inteligência de metade. A metade esperta. A metade falsa.
Devia riscar de uma vez palavras pejorativas do meu dicionário. Devia eliminar emoções que me impedem de olhar por mais de vinte segundos para rostos que estiveram tão próximos do meu. Sinto-me mal por isso.
Gostava de poder olhar todas as pessoas de frente. Mas quando sabemos de mais, o interior sujo explode para o exterior e os meus olhos rebelam-se contra a visão da verdade que por uns tempos fingimos ignorar.
A história do pecado é um faz de conta que começa com um traje angelical e acaba com a imagem de chifres e tridentes. Mas vamos fingir que ninguém viu nada e cobrir a face com um lenço branco para tudo parecer menos negro e vermelho.
Filosofias de vida, ah, para que servem! Quero o meu Algarve por uma semana, que nestes dias sobram os distantes e os arrependidos a dançar nas águas na ria. Porque nada é o que desejávamos ser e o comboio para casa parte em dez minutos.
Por que longínquo lugar me fui apaixonar! Tão semelhante na paisagem, no cheiro, na cor, no Sol que brilha com a mesma intensidade. Mas quando os outros voltam a casa, faltam-me os braços para me abraçar.
Uma semana. Desta precisa hora a uma semana. Não vou contar as horas. Não quero entrar em desespero. Mas hoje o Sol não brilha em Aveiro com a intensidade algarvia e falta qualquer coisa aqui.
Inspiro fundo. Está quase.
O Sol vai brilhar de novo.
E o comboio já partiu.

22/10, 0:22

O ar é áspero na minha garganta e no vazio no meu olhar escondem-se palavras que ninguém deveria jamais ler. A história é longa para ser contada, mas tal é a urgência que se saltam parágrafos e dos argumentos passa-se para a revolta que é o fruto da injustiça e da falsidade. Quando o sangue ferve tanto que abriria um buraco na parede, o coração bate acelerado e a língua não se contem. As mãos avançam mais rápido e censuram os insultos que deveriam ser proferidos como estaladas na cara daqueles que têm tanto de honestidade como de respeito pelos outros. A fúria sim é o mote dos deuses, que deviam erradicar certos Homens como certos Homens erradicam a verdade, mas se esperarmos por justiça no mundo vamos morrer na feliz ignorância de não conhecer a realidade negra e crua em que vivemos. Que seja então frustrada, peso pesado na consciência do ser e chão para pisar por acreditar que ainda há gente sincera. Não posso gritar mais alto que a minha voz, mas pintaria um megafone à minha frente para que ouçam que esta merda não se faz!

domingo, 17 de outubro de 2010

Saudades

Uma semana mais. Cada domingo é uma provação. Eu vou chegar ao final deste post com lágrimas no olhos. Talvez até no primeiro parágrafo. Tenho saudades de casa, mais tenho saudades de abraçar os meus pais, de ver a minha irmã. Queria estar lá hoje.
Este fim-de-semana eles foram à feira de Faro. Queria estar lá. Queria tanto. A minha irmã gritou que me adorava do topo de um daqueles carrosséis que quase te põe de cabeça para baixo. Eu também a adoro.
Queria poder estar um pouco mais perto e ir lá para a semana. Mas faltam outras duas. E hoje as saudades apertam mais que no comum dos dias. Não sei porquê. Ou talvez saiba. Hoje a minha família está toda junta e falto eu. Pronto, eu sabia que ia chorar.
Devia ir para casa (aqui em Aveiro, digo); estou no shopping porque não tenho net em casa. É uma treta. Preciso de ver as pessoas em vez que ouvi-las somente. Preciso de um abraço. Preciso da minha BF, da minha prima, do meu Algarve.
Preciso de parar de escrever.

AMO-VOS <3

domingo, 10 de outubro de 2010

Chove em Aveiro, mas o meu Sol brilha

Já sei de cor a paisagem do meu novo berço, o cheiro da ria e a brisa que arrefece os corpos e aquece os corações. Já sei de cor o caminho, já abracei esta agradável rotina que é tanto nova e inesperada, volátil e, todavia, já estável nos rostos que me acompanham. Cheguei depressa onde queria. E há noites em que a felicidade é tão embriagante que não consigo dormir.
Vou coleccionando memórias como sorrisos. Há dois dias estive em Lisboa. O motivo da viagem não valeu a viagem. Mas visitar aquela amiga fê-lo valer a pena. É em momentos como estes que se vê a verdade das amizades que somamos ao longo dos tempos. E nessa noite olhámos para velhas fotografias e rimos e recordámos, e eu senti que cada passo até hoje esteve certo. Não importa as lágrimas que alagaram o caminho, hoje sou uma pessoa feliz. E é estranho como dizem isso de mim. Costumava ser mais calada e sombria e, sim, por vezes triste. Aveiro iluminou-me. Mudou-me de uma forma que só esta viragem radical poderia ter desencadeado.
Agora, estou satisfeita. Podia fazer mais por mim. Podia lutar com mais força para publicar os meus livros, mas não sinto esse ímpeto, não sinto essa insatisfação. Esse sonho permanece enquanto outro está a ser vivido, e completa-me de tal forma que não há espaço para querer ardentemente algo mais.
Sou feliz. Ponto final.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Viagem

Procuro um pouco de espaço
Cada superfície da minha vida está coberta
Os pequenos nadas acumulam-se em redor
Singulares objectos de necessidade humana
Peso irreal contrapondo-se às reais dimensões
Nada ocupa o espaço que deveria
E preciso de tudo nesta conjuntura banal
O futuro é adivinhação certa de gente incerta
Mas a lógica combate a imprevisibilidade
E a humanidade é mais feliz assim.

Olho em volta e sinto-me pequena
Somente com dois braços para carregar uma vida
E estas costas que se vergam sob o peso do passado
As roupas que embrulham o pecado da nossa alma
Livros que contam sonhos a enganados sonhadores
Água, papel e sabão, para reinventar a história
Sem erros desta vez, que a experiência dói
E as ligaduras ficam mal na fotografia.

Encontro um pouco de espaço
Na mala de um viajante cabe sempre a saudade
E a memória cálida da promessa de um regresso
Brevemente longínquo, que o mundo é grande
E a ansiedade por um pouco mais de novidade
Reverbera excitada na ébria vontade de partir
Que sempre vence a sóbria vontade de ficar
Não fosse este o início de outra viagem.

domingo, 3 de outubro de 2010

Consciência algarvia

Este Algarve parece uma realidade distante, de dois anos, dois meses, nunca duas semanas. Parece uma outra vida, ou acordar de um sonho e a outra vida é aquela que ficou em suspenso lá em Aveiro.
Este Algarve parece algo velho e familiar, insuficiente. Dá vontade de fundir as duas vidas, o melhor de cada numa só... encurtar um pouco a distância. Colocar o Algarve no Porto, sei lá!
Este Algarve, um presente que quero guardar, com pessoas que habitam nas cavernas do meu coração, mas ainda uma etapa para passar à frente.
Neste Algarve, parece que aquelas foras duas semanas sonhadas, uma vida de alguém que não eu, uma experiência noutro corpo. E não obstante as saudades, gentes para abraçar, novidades para contar cara a cara, quero voltar. Quero voltar.
Apaixona-me a intensidade com que a vida é vivida naquela cidade à beira da ria. Hipnotiza-me a verdade com que as coisas, as situações, os sentimentos tomam forma na minha própria pele. Numa me senti tão viva. Tão parte de algo. Tão livre. Tão eu própria para amar e odiar - mas amar sobretudo.
Sinto como se de repente, lentamente, a realidade superasse o refúgio da ficção e as palavras escritas perdessem valor junto das palavras ditas. É como chegar ao fim do dia, e com internet ou não, descobrir que a necessidade de desabafar para o "papel" perdeu-se na certeza de que todo o pensamento de valor já foi partilhado e, acima de tudo, já foi ouvido.
É alegre a saudade da solidão e é quente a decisão de encontrar alguns minutos para ela.
A vida recria-se e reconstrói-se e é doce o prazer de fazer melhor, como a expectativa do futuro que quando vem me abre um sorriso nos lábios.
E sei, com a certeza da decisão certa, que o palco da minha vida mudou.
Aqui no Algarve, estou por detrás das cortinas. Mas é um tranquilo lugar para se estar, recarregado a energia para viver o futuro que o presente prometeu.

sábado, 2 de outubro de 2010

Futuro a cores

O futuro tem cores, as cores do presente pintado com gargalhadas estridentes no meio da rua semi-vazia, onde um homem corre atrás do camião do lixo e os universitários olham estupefactos, com o sangue já aquecido pelo álcool.
O futuro tem o cheiro de um presente onde há boas experiências que fedem, como farinha e azeite com café e arroz, que deixa as pessoas ditas normais a perguntarem-se o raio se passou com aqueles miúdos de pijama.
O futuro tem as cores garridas das promessas que um companheirismo súbito rapidamente solidificado em amizade, que de tão espontâneo rompe as regras e desafia as separações da burocracia de gentes que nem sabem explicar as suas normas.
O futuro é um contraste que apaixona e reinventa a vida, trocando os pólos do conhecimento e colocando-os novamente no sítio, como o susto de uma realidade nova que se revela a melhor experiência de sempre.
O futuro tem cores, as cores do presente pintado com coragem e amor, e disparates às três da manhã, sonambulismo pela madrugada e uma canção para rebentar as vozes já roucas, que ser universitário requer muita gritaria.
Mas aconselha-se.

29-Set-10

sábado, 25 de setembro de 2010

Feeling Right

Sento-me, paro e penso. Não parece que só se passaram quatro dias.
Recordo-me vagamente como receava uma difícil integração, como assustava o novo e o desconhecido, o não conhecer ninguém. Parece irreal agora. A forma rápida e inesperada como se estabeleceram os laços, tão fortes e tão certos, surpreende e encanta. É como estar em casa. É como se este nosso pequeno grupo não tivesse quatro dias mais quatro anos (e não sou a única algarvia xD). É como se nos conhecesse-mos há muito tempo, e isso é absolutamente extraordinário. Pensar que foi tão fácil...
Adoro isto. Sinto-me tão longe do arrependimento que digo que esta foi a melhor escolha que alguma vez fiz. Não reclamar de nada é algo muito invulgar em mim. E ainda assim, não tenho nenhum senão. Não tenho sequer palavras. Tudo de bom, nada de mau, e isso diz o necessário e ainda mais.
A liberdade é uma doce conquista. A novidade é um mundo de possibilidades. E eu vejo um bom futuro nas minhas.
Pronto, estou muito optimista. Mas tenho razões para isso. Há muito tempo que não sentia que tudo estivesse certo. Claro, as saudades estão sempre cá e às vezes apetece mais do que falar, apetece ver aquela pessoa, abraçá-la, mas posso viver com isso. Tenho de. E saber que vale a pena torna tudo muito mais fácil.

UA rocks xD LEE!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Mente & Coração

A minha universidade é "especial". E a melhor do país dizem eles. Hum... orgulho.
Ponto um: ainda não fui praxada a sério. Toda a gente fala que quarta é O dia.
Eu sinto cada dia como se fosse O dia. E por muito que esta semana seja A semana, continuo ansiosamente à espera da normalidade.
Por agora, já sei pelo menos onde vou viver. Residência de meninas. 20 minutos a pé. Sem internet - AH! (Ponto dois: amanhã mudo-me de malas e bagagens.) Assim, se não der notícias aqui, já sabem o porquê.
Estou com boas expectativas todavia. E muito curiosa por conhecer a minha colega de quarto. Sim, vou ter uma. Vamos ver como corre.
Continuo a sentir-me optimista. É muito bom.
Amanhã vou conhecer o MEU departamento. E gente de minha área, espero. Vamos ver...
Entretanto...

Suspiro e o ar é brando. As pálpebras pesam e a emoção enche os olhos de uma humidade conhecedora, mas há um dócil e insistente sorriso que desabrocha ocasionalmente nos meus lábios. A saudade toca levezinho, recordando as palavras, e as lágrimas ameaçam como uma carícia não por pensar na falta que me fazem, mas na falta que sentem de mim. Um arrepio traça o meu corpo, e o frio nocturno é estranho nesta altura do ano, mas ainda assim tem um cálido calor que o sol abrasador do meio-dia não consegue ter.
E as horas caem, implorando pelas palavras, mas o coração aperta e não há espaço para viver de outra forma senão seguindo em frente.
Amo-vos.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Aqui lá

Cheguei às "terras lá de cima" de novo. Para ficar.
Ainda me sinto optimista. Mas amanhã vou ser praxada a sério.
Não sei se depois vou ter net para contar. Espero muuuito que sim.
E é tudo.

domingo, 19 de setembro de 2010

Cruzar a linha

Não olhes ao relógio. Não importa. Só importa a necessidade dos fortes de espírito e corajosos de coração. Não interessa que mal possa olhar o ecrã. Que chorem os olhos se for preciso. Hoje eu tenho de escrever. Tenho desesperadamente de escrever. Algo, não importa o quê.

Preciso de gravar da rocha do tempo este momento.

Amanhã, por esta hora, por horas antes, já nada será igual.

Fecha os olhos. Deixa que os dedos corram o teclado sozinho. Hoje as palavras saem de forma diferente, como se soubesse que não têm muito tempo para dizer o que têm a dizer.

Hoje sinto uma nostalgia embrulhada em expectativa e temperada com um agradável optimismo. Esta noite os olhos doem mas as lágrimas que se avizinham são mais que visão cansada, são antecipação e são orgulho, são sobretudo felicidade.

O percurso foi longo e este caminho é novo. Mas as setas sempre indicam em frente. Assim é a vida, como uma viagem de carro, onde tudo depende da companhia e da estrada. Mas a magia é que uma boa companhia pode tornar boa uma viagem na pior da estradas.

Não sinto que amanhã viaje sozinha. E isso faz-me sorrir.

De entre todos os medos, sobressai o desejo de viver. Derrubar as suposições e construir a verdade. Actuar sobre a matéria em bruto da própria vida. Avançar em frente, tão em frente que o passo assusta os fracos de espírito e temerosos de coração. Mas não hoje. Não durante as longas vinte e quatro horas desde domingo das quais já conto três. Não durante as vinte e quatro de amanhã.

Quero fazer isto e quero fazê-lo bem. Não são muitas as oportunidades que temos para construir uma nova realidade. Pegar no papel e caneta e desenhar o futuro. Moldar a massa de que somos feitos, rasgando cobertura atrás de cobertura, expondo com primor aquele interior que outrora obrigámos os outros a escavar.

Sinto-me destemida. E considero-me capaz. Sei de mim mais do que a maioria dos que me olham sem ver. Sei do desejo que mora cá dentro, aguardando em estado de ebulição, ávido por reclamar independência, sedento de novidade. Em breve será satisfeito.

Queria guardar este sentimento de determinação para mais logo. Vou precisar.

Já não ardem ou lacrimejam os olhos. Habituaram-se à luz. Como tudo na humanidade, nós regemo-nos pela única lei da perpétua habituação. Mais moldáveis que areia. Somos criaturas de hábitos. Mas, abençoados sejamos, somos seres com esta capacidade incrível de adaptação. E por isso vai estar tudo bem.

Daqui vinte horas darei notícias, do outro lado de Portugal. Ou quase. As distâncias são uma coisa tão relativa. E o que angustia não é não ver certa pessoa durante duas semanas. Não, é simplesmente o facto de sabê-la tão longe que não a podemos ver imediatamente se assim o quisermos. Mas, hei, as novas tecnologias são uma coisa extraordinária. E os serviços de conversação gratuita.

Não sei como acabar isto. Acho que não quero acabar isto. Já nem sei como comecei. Ah, o relógio. Já se passaram cerca vinte minutos entretanto. Mas o tempo também é uma coisa muito relativa.

Devia ir dormir. Vou. Devagar...

Até breve, muito breve.


Guarda-me pertinho do coração, pensa que estou na porta ao lado, e dentro de duas semanas estarei. <3

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Do sal ao sul

Algarve doce Algarve...
Não, nem por isso. E esta terra é um pouco salgada se é que me permitem.
Assim como Aveiro, já agora. Nenhuma crítica às pessoas. É só a tradição marítima e afins. Toda a história das praxes na Universidade? É a faina académica para começar. E há um rol infindável de termos cada um deles intimamente ligado à pesca.
Tradições a onde levas....
Mas bem, isto para dizer que estou de volta às terras do sul. Até domingo.
E mais não me apetece dizer.
Culpem o cansaço.

P.S. Ando a ter uns sonhos muitos estranhos =/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Notícias de Aveiro

Não sei o que escrever. Estou a olhar para este quadrado em branco há muito tempo e não posso nem definir o meu estado de espírito. Mas talvez algo como cheio até à exaustão sirva.
Estou cansada, física e emocionalmente. E a cabeça tão cheia de nova informação que lotou. É a estranheza de tudo que se converteu na novidade e na pequena tentativa de encontrar alguma familiaridade recorrente em tudo.
No geral, correu bem. Já não sou sem abrigo (:p) mas também desconheço os pormenores de para onde e como ou com quem vou. Já me desagradou mais. Chamaram-lhe "alojamento aventura" :)
E não dúvida que isto é uma Grande Aventura.
E é isto. Já não sei o que escrever. Amanhã volto ao Algarve. Vou ter dois dias para empacotar a minha vida a fim de trazê-la para o desconhecido.
É de tirar o fôlego a alguém.

P.S. Aveiro é uma cidade muito bonita :)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Viagem rumo ao futuro

E aqui estamos nós, a pensar no que não pode faltar, porque amanhã eu vou conhecer o meu futuro. Soa importante. Soa a algo que tem de ser pensado com cuidado.
Porém, os dados já foram lançamos, os números sorteados, agora só falta mover a peça em frente tantas casas quando aqueles que me calharam. E foram muitas em quilómetros.
O comboio espera-me bem de madrugada. Desta vez não vou sozinha. Mas só desta vez. Porque por muita que seja a vontade de levar certas pessoas na bagagem, esta é uma viagem que devo fazer sozinha.
Sinto-me a avançar para um degrau muito acima daquele em que estava. Por meses e meses isto foi o que eu pensei, isto foi o que eu planeie. Mas ir efectivamente lá, ir realmente matricular-me para este novo universo, parece ainda tão distante como nesses dias de há meses atrás, como se não houvesse forma do tempo ter passado tão depressa. Mas aqui estou eu, e a racionalidade é incontestável. Amanhã a viagem começa.
Não me preparei. Não fiz nada de diferente como preparação. E, no entanto, não acho que precise. Esta naturalidade com que sigo em frente impressiona-me, tenho-o dito há vários dias. A mente dispara em especulações é certo — sempre foi assim —, mas, desta vez, a ansiedade está controlada e eu não acredito que vá ter dificuldades em adormecer esta noite. Apenas quero-o. E o desejo prepara-nos de uma forma tão plena e natural como nada mais o consegue.
Ainda assim, desejem-me boa sorte se o quiserem. Preciso dela para a tarefa de arranjar uma casa.
Não acredito que vá ter net nos próximos dias, mas deixarei tudo registado quando voltar. Acredito que a minha mente vai disparar e os meus dedos se vão tornar esquizofrénicos nos próximos tempos.
Até ver :)

sábado, 11 de setembro de 2010

Destino oficial: Aveiro

Pronto, é oficial. Estou de partida.
Este sorriso automático é mais do que a constatação de muitas certezas formuladas tantas vezes e por tantos lábios. E no entanto, ainda não me sinto realmente nervosa — nada daqueles nervosos que roem o estômago e não nos deixam dormir. Talvez por ser tão certo.
Ou então ainda não bati com a cabeça na parede para perceber que, rapariga, tu vais para a universidade em Aveiro.
Claro que existe a remota possibilidade da minha alma ter aceite esta realidade com a mesma serenidade com que o dia dá lugar à noite — porque é assim que tem de ser e é assim que será.
Honestamente, não sei. Estou pouco certa de tudo excepto do próximo palco do meu futuro
Mas estou feliz.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Antecipação - parte 2

Falando em jantares de despedida. Parece tão certo e ainda assim errado. A sensação "vou ter saudades disto". Apetece ir, apetece ficar. Adiar um pouco mais.
Então as conversas explodem em torno do amanhã. Tão seguro mas tão incerto. "E tu para onde vais?" "E qual é o curso?" Praxes... planos. "Onde vais ficar?" Não sei.
É estranho rever rostos depois de dois meses de férias de isolamento. É estranho rever com a ideia de nos despedirmos. E aquelas frases feitas de "é a última vez que nos vemos" parecem tão erradas... Mesmo que acredite que assim vá ser em muitos casos. Não obstante, gosto de saber das pessoas. Gosto pelo menos de saber que estão bem.
Isto de pensar em despedidas quando ainda não se está 100% consciente da partida é... nem sei. Só não parece real.
Suponho que acreditarei quando vir.