domingo, 14 de novembro de 2010

Coração

Quando um coração de gelo racha, os pedaços são demasiado pequenos e derretem demasiado depressa para que os consigamos devolver ao lugar.
Se te abrem uma brecha na alma, derramam-se-te os fluídos cardíacos e é ver o amor e o ódio rolar pelo chão como contas de um colar de pérolas. Por dentro, somos todos algum tipo de pedra, uns diamantes, outros carvão. E cada um se quebra de modo diferente.
O gelo é o revestimento preferido dos quentes de espírito mas frios por experiência. A condensação das mágoas é por natureza uma nuvem muito carregada mas que nunca se precipita. E porque não chovem lágrimas, elas gelam contra o miocárdio, umas sobre as outras, numa parede transparente de sonhos desfeitos.
Mas água é sempre água, e uma chama quente consegue o milagre que nenhuma palavra no mundo pode. Às vezes o fogo é real, outras materializado num gesto, num olhar, num beijo.
Ou numa esperança.

Sem comentários: