domingo, 27 de março de 2011

Nunca nunca

Vou guardar esta semana na memória, por tudo o que fiz que jamais havia feito, pelo imprevisível tornar-se real, por escrever novas linhas na minha história e redefinir a minha personalidade, por moldar a minha mente a uma nova perspectiva da vida.
Nunca é uma palavra que perdeu o peso e a moralidade. De princípio inabalável, converteu-se num acessório, num apêndice sem significado que teimamos em colocar no meio das nossas palavras. Lixo dos tempos modernos.
É estranho como crescemos, como mudamos. Como passamos a dizer fervorosamente que sim àquilo que antes dizíamos terminantemente que não. É incrível o que descobrimos quando nos testamos. As muralhas do preconceito caem à nossa frente como castelos de cartas, e é tudo mais simples.
Basta dizer que sim.

sexta-feira, 25 de março de 2011

vidinha...

Preciso de um massagista.
Esta semana tem sido demasiado cheia de novidade. A minha mente não pára. Tomara que tudo fosse tão fácil e simples, que acabasse quando acaba.
Tomara que as memórias não viessem com sentimentos atrelados.
Tomara que voltassem a acontecer...

terça-feira, 22 de março de 2011

Se te puser num pedestal, Caio

Ainda sinto o teu cheiro na minha roupa. Esse odor forte e suculento que me embalou durante uma noite e me persegue, como um ensaio sobre o desejo e a improbabilidade da repetição.
Não consigo afastar a tua memória, impregnada como tinta permanente no tecido dos meus pensamentos. Não consigo calar a incredulidade, como se tivesse acabado de acordar de um sonho, doce e efémero, tão incorruptível.
Ainda oiço a tua voz rouca e sensual, rogando-me num murmúrio, e revivo trinta vezes por dia o choque de te saber partilhado assim, a nu e a cru, neste segredo que guardam três paredes.
Tento calar a voz que persegue o teu silêncio como cobrador de pecados.
A nossa dívida está saldada.

domingo, 20 de março de 2011

Mortal

Tu és o ar que eu respiro, tóxico e venenoso. As mentiras que eu digo, cruéis e afiadas, como um punhal entre as costelas. Tu é o reflexo do espelho, triste e abandonado, igual a mim.
Tu é a mancha de gordura na toalha do meu dia. As palavras amargas que alguém disse. És a verdade nua e crua que eu projectei.
Tu és a merda que eu pisei. O lixo que eu apanhei pensando que era de valor. Tu és tudo o que de pior há em mim, tudo o que eu quis esconder, tudo o que eu fingi que não existia. Tu és a minha história escrita ao contrário.
Tu és aquela que eu não quero ouvir. Tu és aquela que me dá nojo ver. A escória, a reles, a meretriz, a que sempre invejei. Tu és a podridão que me invade a alma.
Mas quando a noite cai, é contigo que eu sonho, agarrada a mim, como estilhaço de uma vida violada. Sufoco com a memória do teu cheiro, a ardência do teu calor, e grito.
És a morte nas minhas veias.

Olha-te


Bom Jesus, Braga

domingo, 13 de março de 2011

Arranca-me o coração e dá-o a comer aos pobres

As minhas mãos fedem com o cheio de vidas queimadas.

As malas então no chão e o bilhete no lixo. A viajem acabou aqui, na hora da partida. O comboio ainda não chegou, mas o meu corpo já jaz desfeito nos carris, despedaçado pelo choque frontal com a vida. O meu rosto está voltado para o céu cor de sangue. Estas lágrimas são doces.

Na plataforma, ninguém me vê. O ar está cheio de um silêncio murmurado, uma ansiedade borbulhante, uma antecipação febril pelo encontro com o futuro.

Levanto-me, reunindo todos os fragmentos de mim, sem esquecer o coração, músculo cansado por anos de esforços vãos, e resistindo à tentação de deixar para trás as mãos, armas do pecado. Não levo as malas. Não preciso delas.

À meia-noite em ponto, uma mendiga vai coxear pela plataforma, em busca dos bancos protegidos por painéis de vidro, onde poderá dormir mais aconchegada, e ficará feliz por encontrar as malas abandonadas. Isto se outras mãos gananciosas não as tiverem levando antes.

Ainda assim, a possibilidade de uma boa acção acalenta-me a alma. Ponho cada esforço desde corpo na árdua tarefa de avançar em frente, ao longo da linha. O ar arranha-me a garganta e a cor brilhante do céu faz-me arder os olhos. É fogo divino, consumindo as minhas memórias negras.

O comboio aproxima-se. Não há obstáculos à sua frente desta vez. Não, ele já levou a minha vida antes. Seria cruel levá-la de novo.

Vejo-o passar, como o sonho de um futuro que se perdeu. Não pára. O mesmo comboio nunca pára duas vezes na mesma estação. Ou agarras a oportunidade à primeira, ou juntas-te a mim, sentada no chão, no final da plataforma, fitando a cidade que morre tão lentamente como tu, cobrindo-se de um cinzento cada vez mais enlutado.

Inspiro fundo o ar viciado e fecho os olhos. Penso.

Não matei. Não traí. Não roubei. Mas o meu coração é um destroço pulsante de vida e o mundo parece todo vermelho. As minhas mãos ainda cheiram a queimado. A minha alma ainda se encolhe perante a luz.

Porque tu mataste, traíste, roubaste. E eu estava ao teu lado e não fiz nada.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Destino? O céu


"O poder do homem deve exceder o seu alcance.
Senão, para que serviria o céu?"
Robert Browning

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ópio

Deixa-te caminhar para esse delírio ardente que são as ilusões de uma vida a três: eu, tu e o mundo condensado, desfeito em pó, soprado nos nossos olhos até nos cegarmos com as cores da paixão, negro e carmim; sangue é vida. E a vida é assim.
Sente como o coração bate célere, como se perseguisse o último comboio para a terra da perfeição, tão forte e seguro, mas tão desesperado e assustado, ainda assim tão cheio de esperança que quase rebenta, gritando uma batida atrás da outra, no ritmo frenético de uma ataque cardíaco.
As pálpebras tremem e a visão desfoca; estas cores são mais belas. As lágrimas brotam num sorriso louco, enquanto as letras se misturam e o amor e o ódio fundem-se numa palavra apenas; quando nada faz sentido é que tudo tem sentido. A realidade não importa; não importa saber se é mesmo a realidade. Sonhamos que somos uma flor, ou somos uma flor a sonhar que é humana? As flores não sonham, diz-se. Mas só o saberíamos se fossemos flores...
As mão tremem e o verão e o inverno começam a sua disputa arrojada nas veias e artérias do nosso corpo, como o bem e o mal das história para crianças. Carregamo-los a ambos dentro de nós, o puro e o impuro, o sangue que cura e o que envenena; vida e morte num ciclo intermitente dentro de nós. Vermelho e azul, como calor e frio, como esses suores que se alternam, vestir e despir, arder e congelar, fazer amor e definhar na solidão.
E quando o mundo inteiro torna o nosso corpo o campo de batalha para a sua guerra, estamos em posição para erguer a bandeira branca e partir em busca do nosso próprio delírio. Fazer as estrelas brilharem de dia e o sol de noite, inverter os pólos e pagar em pedras o ouro; riscar todas as palavras do dicionário e inventar uma nova linguagem; fechar os olhos para acordar e abri-los para dormir. Rir dos nossos próprios medos. É tão fácil esquecer o que nos dói quando rimos... É tão fácil esquecer que um dia tudo isto vai acabar.
E então vibramos na insanidade de segurar as nossas vidas nas mãos por uns momentos, olhar o mundo de frente com desdém e desafio, como se o pudéssemos obrigar a reagir, a mudar de atitude. Como se ele ainda pudesse aprender alguma coisa senão a forma mais rápida de levar alguém às lágrimas.
E nisto apagamos. As trevas caem sobre esta febril visão ensombrada por sorrisos de criança e mãos enrugadas, feridas abertas e folhas queimadas, pedaços de história pelo chão dos anos que passam lento demais para lhes darmos valor, mas rápido demais para os lembrarmos. O coração esmorece como uma flor murcha e o silêncio abafada a sua pulsação envergonhada. A escuridão reina.
A nossa dose de ópio chegou ao fim.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Never-ending Journey


Wake up, it's time, little girl.
Wake up.
All the best of what we've done is yet to come.


Wake up, it's time, little girl.
Wake up.
Just remember who I am in the morning.


You're losing your memory now

You're losing your memory now

You're losing your memory now

You're losing your memory now...


Ryan Star - Losing Your Memory