quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Clausura Silenciosa

Numa Prisão sem paredes, as Pessoas são os Cadeados

Sei que fui cruel, admito. Mas mergulhando bem fundo na minha consciência, não acho que tenha tido intenções de magoar. A única coisa que eu queria era conquistar a minha liberdade. Nem que tivesse de deitar a abaixo as paredes. Ou romper com os cadeados.

Há sempre algo que ficou por dizer. E depois há aquilo que era fundamental, obrigatório de dizer. Mas há certas palavras que não posso, não consigo dizer. Há certos momentos em que o silêncio pesa mais, mais do que o seu costume, já pesado. Se não amasse escrever, se não fosse escrevendo que vivo, diria que não era pessoa de palavras. Assim, talvez pense que elas perdem o valor quando proferidas. Talvez seja egoísta e queira guardá-las para mim.
Mas alguém me fez lembrar a aula de Português sobre F. Pessoa e sim, “há duas formas de dizer: falar e estar calado”. Será assim tão difícil de perceber o que digo em silêncio?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Amanhecer


Hoje quando acordei tinha esta surpresa à janela do meu quarto. Foi-me simplesmente impossível não ir a correr buscar a máquina fotográfica. E mesmo agora, dou por mim olhando de boca aberta para estas fotografias. A Natureza é fascinante, não acham?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Culpa do Não-Pecador

Sei, sei o que devo, sei o que não devo
Sei o que posso, sei o que não posso
Sei tudo o que tu sabes que eu sei
E tudo o que tu pensas que eu não sei

Sei o que está errado, sei o que não está
Sei o que sinto estar errado, quando não o está
Sei sentir demasiado o erro, sem estar a errar
E sei quando sei que estou errada por o saber

Sei quando a culpa pesa e o erro não está lá
Sei quando me amarram a moral, a bondade
Sei que pago com justiça ao que sinto
Mas o que sinto não é justo com o que pago

Sei que penso demais, sei quando não penso
Sei quando deixo deliberadamente de pensar
Sei quando faço sentido, sei que agora não
E que a verdade, guarda-a somente o coração

domingo, 27 de setembro de 2009

Vício

Estou-me descobrindo como uma completa viciada. Céus, desde quando é que isso é bom?! Sim, hoje estou numa de consciencialização de todas as m***** que ando a fazer, e as que não o são, mas bem, aparentam… enfim, é melhor nem sequer continuarem a ler isso. Eu prometo que vou ter cuidado com o que vou escrever, mas nunca se sabe. A sério, parem. Porque eu não posso.
Nem sei como estou aqui. No computador, escrevendo. Sim, parece estranho, eu sei. Eu não o liguei ontem. A foto? Batota. Sabem que mesmo uma postagem em branco, quando salva, e se posteriormente publicada, aparece no dia em que foi salva? Pois é. Uns cliques no iPod e está. Até dizia que nem me tinha aproximado do PC, mas estive todo o tempo mesmo a meu lado. Desligado. Afinal, para que é que o ligo todos os dias? Oh, pois, para escrever. Aqui… e nos livros. Bem, não ando inspirada. Definitivamente estranho. A verdade é que a vontade me dá a horas incompatíveis e há sempre algo melhor para fazer. Raios, ando com as vontades desreguladas! E muito pouco aceitáveis. (Se ainda estás a ler, Pára!) ****-**! Eu não devia mesmo ler tanto! Horas e horas… Todo o dia de ontem, metade de hoje. E inclusive sonhei que estava lendo, mesmo antes de acordar! Um discurso completo construído na minha cabeça… Isto é muito para mim. A sério, como o digo sem dizer? Eu sei que ainda estão a ler. Enfim… suponho que só uma pessoa esteja realmente consciente do porquê disto. (Só mesmo uma? Espero que sim.) É que o problema não é tanto ler, mas ler isto. Está a dar-me a volta a cabeça. Ou será a cabeça o termo correcto? Não é nada de racional. Então definitivamente o problema não está na cabeça. Mas não é algo que deseje parar. Comecei falando de estar viciada, lembram-se? Oh, Deus, eu não devia mesmo estar a escrever isto! Completamente desproporcionado. Não que esteja realmente arrependida. Estou? Não o bastante para deixar de continuar. Ok, nada. É bom demais. (Esqueçam, esqueçam, eu disse para não lerem. Só estou a escrever asneiras deste a primeira linha. Ao menos avisei.)
De facto, estou a fazer alguma coisa de errado? Ao c****** com a sociedade que dita essa moral que faz pesar consciências erradamente. Ao inferno com a religião. À m**** com as pessoas. E não, não estou irritada. Estou absolutamente calma. A sorrir. (Que idiota!) É ridículo. Tudo isto, de todas as maneiras, ao mais profundo nível, ridículo. Afinal, temos que ser nós a conseguir para nós próprios tudo aquilo que os outros não nos dão. Não é por eles não nos darem algo que não temos direito a isso, certo? Para tudo há caminhos alternativos. Não os melhores mas… bem, certamente melhor que nada. Um livro é um bom substituto. É humilhante! Mas importa realmente quando só eu sei?

sábado, 26 de setembro de 2009

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nada a Dizer

Eu sei que fiz uma promessa e tal, mas já contei a história vezes suficientes para me apetecer repeti-la. Não pretendo difamar ninguém. Posso não ter agido da melhor forma (ela certamente que saiu para o intervalo apelidando-me com alguns nomes de animais), admito que fui um bocadinho lixada por não ter dito nada, por tê-la feito pensar que chegávamos à aula sem ter feito o suposto trabalho de pares, quando eu tinha um individual, mas fui justa comigo mesmo. Não faço trabalhos em cima do joelho. Não faço trabalhos pelos outros. E não arrasto ninguém para fazer um trabalho pelo qual não se interessa. Eu tentei, e ela que vá para o inferno se disser o contrário! Pode ficar chateada à vontade, é para o lado que eu durmo melhor. E estou a ser completa e absolutamente sincera. Última vez. Com uma turma excelente… Chega de ser parva, atada a outros! Declaro a minha liberdade. Está dito.
Com tanto fervor, parece que não há mais para dizer. Não que tenha acontecido algo mais de interessante hoje… O que não importa realmente pois é sexta-feira e isso basta para que o dia de hoje seja óptimo. Enfim, suponho que possa dizer mais, eu posso sempre dizer mais, ou não, não no sentido de dizer, falar. Apensar escrever. Eu falo pouco. Muitas vezes não falo. Suponho que nada teria acontecido hoje se eu tivesse aberto o jogo, se tivesse falado. Mas por vezes, sinto que a minha voz vale demasiado para ser gasta em vão, ou então não vale nada, não ao ponto de ser ouvida. Não importa. O meu silêncio não é por medo, é por falta do que dizer, ou de o querer dizer. Assim como diz a música…

Talk to me
You never
Talk to me
Do we suffer
From
Social atrophy
And when the conversation's over
When the conversation's over

We've taken what's been given
And we throw it all away

Walk with me
Come on and
Walk with me
Take a look
Around you
Do you like
What you see

We've taken what's been given
And we throw it all away
It's hard to be forgiven
When there's nothing left to say

When the conversation's over
The silence just gets in the way
Conversation's over

Talk to me
Don't ever
Talk for me

Nothing Left To Say - Staind

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Toque de Natureza


(Hoje não me apetece escrever. Não adormeci na aula de História nem escrevi sequer. Tive uma espécie de problema com um trabalho de pares porque houve quem não se importasse. Fiz outro sozinha. E amanhã vai saber muito bem entregá-lo. Prometo que conto. Hoje estou em paz, dorida de EF, mas em paz. Não me importo com quem não se importa. "Na minha", como uma estrela-do-mar.)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dormência

Continuo perguntando-me porque preciso disto. O mundo em que vivemos hoje teve origem neste mundo, mas muda alguma coisa no presente conhecermos cada pormenor do passado? Com certeza há quem pense que sim. Se assim não fosse, porque se dariam ao trabalho de nos ensinar História? Por mera curiosidade, eu teria escolhido outra disciplina.
Nunca tive dificuldades em me manter acordada. Até às aulas de História do 12º ano. É certo que me aborrecia de morte nos outros anos, que saía dormente das aulas, mas nunca me custou manter os olhos abertos. Tudo bem que nunca antes andava a dormir tão pouco, mas são 10 da manhã e eu estava perfeitamente acordada no autocarro e na aula de Português. Há algo nesta voz lânguida, monótona, nas palavras que ecoam na minha cabeça e logo se vão, perdem-se numa memória sem sentido, sem interesse. Há algo nisso que desperta a sonolência, que faz as pálpebras pesar, o tempo passar mais devagar. Há algo de errado entre mim e as aulas de História.
Estou consciente de que não estou a prestar grande atenção. Muito oiço, mas pouco aprendo; perco o fio rapidamente… Isto é tão frustrantemente inútil! Os artigos vão sendo lidos – qual é mesmo o assunto? –, todos escutam, poucos percebem, o silêncio impossível como nunca vi, pesando como se todos dormissem de olhos abertos. Que valente seca! Costumava desenhar, mas desconfio que isso tornaria a minha desatenção demasiado óbvia. A professora é nova, não me conhece, não sabe como posso funcionar nos dois sentidos. Escrever é sempre “disfarçavel”. Talvez pense que esteja a tomar apontamentos (deixem-me rir!). Espero sinceramente que não seja assim todas as aulas. Já me sinto farta e só vamos na segunda aulas de matéria. Talvez o problema não seja a professora falar. O problema é que parece estar fazendo uma maratona de documentos, mandando lê-los em voz alta. Não apanho realmente nada, não sei do que se trata. Completamente perdida.
Isto não pode continuar assim. Terei mesmo de encontrar uma forma de suportar as aulas de História. Não é que tenha problemas com a disciplina (embora desfie que já não vai haver mais 19), mas tenho exame este ano. Passar a aula toda a escrever está fora de questão! (Veremos se consigo…)

Hoje

Hoje olhei pela janela do autocarro no momento em que passávamos em frente à agência funerária.
Hoje caminhei até a escola ouvindo a música nova da minha biblioteca e, por razão nenhuma, senti-me triste.
Hoje a professora de Português pediu-nos para fechar os olhos e imaginar a sala cheia de luz, mas eu tive de os abrir porque os senti a humedecer na escuridão.
Hoje a mesma professora pediu para completarmos a frase “Eu sou uma pessoa que ama…” e eu disse que amava o silêncio. Não sei porquê, é mentira. Eu não suporto o silêncio. Mas suporto ainda menos os murmúrios triviais das pessoas.
Hoje eu lembrei-me dele.
Hoje eu quis chorar.
Porque hoje eu senti saudades.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Fé?


Ainda acreditas em Deus?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O que é cair...?

Cair é...

O passo antes de nos levantarmos
Escorregar com muita força
Encontrar um apoio firme para nos suster até voltarmos a enfrentar a vida
Uma curva descendente na montanha-russa
Uma pausa forçada
Começar de novo
Subir a montanha desde a base
Ser humilde
Admitir que somos humanos e erramos
Deixar que as lágrimas limpem a alma
Seguir por outro caminho, quem sabe o certo
Simplesmente tocar o chão
Conhecer a terra debaixo do céu
Encontrar coragem para nos erguermos com orgulho
Fazer o que todo o mundo faz
Um passo de dança mal executado
Aproximarmo-nos um pouco mais da perfeição
Conhecer os nossos limites
Deixar o corpo pesar, a mente ir
Dizer que tentámos

Cair é viver.

domingo, 20 de setembro de 2009

Gosto & Não Gosto

Primeiro trabalho de casa do ano: Psicologia, uma ficha do caderno de actividade. Esperava eu algo entediante quando o que encontrei foi uma tomada de consciência sobre mim própria. As perguntas, se é que se aplica este termo, eram as seguintes:

A profissão que eu quero ter: Escritora (romancista)

O que mais gosto de fazer nos tempos livres: Escrever, ler, ouvir música, ver filmes/séries, estar com os amigos

O que gosto mais na escola: A conjugação entre o convívio e a aprendizagem de matérias novas

O meu prato preferido: Lasanha

Eu gosto de pessoas que: Sabem ser elas próprias adaptando-se às diferenças dos outros sem mudarem o que são ou oprimindo os outros

A minha revista favorita: Não leio revistas

O filme de que mais gostei: Não tenho nenhum filme favorito. Gosto muito de cinema, em especial terror e suspense, mas nenhum me marcou particularmente

O meu site preferido: (Este!) Escrevo um blog, então suponho que esse seja o meu site favorito. Do top também fazem parte os blogs de duas amigas

A personalidade do desporto que mais admiro: Não sou aficionada do desporto, mas qualquer desportista que luta pelo seu objectivo, em especial aqueles que têm deficiências, são dignos de admiração

O maior defeito de um professor: Arrogância, mostrar desprezo pelos alunos

O programa de TV de que mais gosto/gostei: Acompanho pela TV sobretudo séries, quer de terror, médicas ou policiais. Gosto particularmente de Sobrenatural, Dr. House e CSI

A pessoa que mais admiro: Os meus avós maternos, porque a eles devo a vida que tenho

O que gosto menos na escola: Aulas aborrecidas e repetitivas, em que o professor se limita a falar 90 minutos

A minha estação de rádio preferida: Rádio Comercial

A qualidade que mais gosto nas pessoas: Generosidade, afinal não estamos sozinhos no mundo e há que saber dar para receber de volta

O meu jogo favorito: Sims, embora seja pouco fã de jogos

O livro de que mais gostei: Gosto muito de ler e não tenho um livro favorito. Leio romances sobrenaturais e no meu top estão as colecções Crepúsculo, Sangue Fresco e Irmandade da Adaga Negra

Eu não gosto de pessoas que: Vivem centradas em si próprias e se esquecem que há pessoas à sua volta; que se acham superiores para dar a mão a quem precisa

O tipo de música de que mais gosto: Rock, metal, goth, punk rock, alternativa, pop rock

A melhor qualidade de um professor: Flexibilidade, saber ser o amigo, compreensivo e brincalhão, mas também impor as regras e o respeito quando preciso

A minha maior preocupação: Viver o tempo suficiente para concretizar os meus sonhos. Acredito em mim, sei ser capaz de alcançar a minha meta, basta que tenha tempo para isso

A minha maior qualidade: Acreditar. Apesar de tudo, continuar a acreditar que há esperança, que há mudança, que há um arco-íris depois da chuva, que há algo mais para além do que podemos ver. Sonhar

A minha banda/cantor preferido: Evanescence e Linkin Park, entre outros dentro do género

A minha viagem de sonho: Não há somente um sítio onde eu gostasse de ir. O mundo é tão grande e eu conheço tão pouco dele que a viagem de sonho teria de me levar aos quatro cantos deste

Outros registos que consideres oportuno fazer: Foi-me necessário uma profundo exame de consciência para responder a estas questões e dei-me conta de que muito mais facilmente aponto os maiores defeitos, o que menos gosto em alguém, do que ao contrario. E por isso acho que falta aqui uma questão: o meu pior defeito. Suponho que seja egoísmo, mas nunca um egoísmo a nível material, apensa a necessidade de manter algo unicamente para mim, ou uma qualidade só minha, manter-me singular e não mais um boneco cópia de toda a sociedade.

E aqui têm mais um pedaço de mim.

sábado, 19 de setembro de 2009

Muralhas

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Falsidade ou Bondade?

É estranho como algo tão antagónico como estes dois conceitos se pode tornar, no meu caso pelo menos, algo ambíguo. A distinção clara escorre pelas paredes de uma consciência que não sabe o porquê das acções que comanda. Falsidade ou bondade? O problema, a chave da questão: o perdão. Mas existe ele realmente?
Eu estava chateada. Do fundo do coração, eu estava chateada, magoada, furiosa em silêncio. Ninguém sabia. Os alvos, os responsáveis, não sabiam. É claro que não! Tirando outras coisas, eu estava chateada pelo telefone que não tocou, as notícias que não chegaram, a ruptura completa por três meses daquilo a que se supõe ser uma amizade. (Amizade, pois sim, aposto que a definição, nem que seja a do dicionário, não estamos sequer a falar do coração, não encaixa.) Mas então os três meses acabaram e elas foram obrigadas a encarar-me. Eu comparo-o a alguém que vive do turismo, que nos meses de inverno vive com os trocos porque os turistas lhe falham, mas que chegando ao verão lhes abre os braços e sorri, perdoando-os pela ausência, como se não tivesse sofrido por isso. Na realidade, teremos de inverter as estações. E levar tudo para o plano emocional. A parte importante: o perdão; o fingir que nada aconteceu, como se ontem eles tivessem estado lá e não há três meses. Repetir a rotina… Para onde foi o ressentimento? Eu não queria olhar para elas e agora sento-me a seu lado cada manhã no autocarro. Costume? Se eu tivesse realmente zangada, estava-me pouco importando para o costume, para não ser grosseira e manchar isto com calão. Mas não, era-me indiferente, como sempre foi. O que se passou? Não sou dependente elas (ao menos sei que sobrevivo, e talvez melhor, sem elas, sem culpa de deixar para trás – o quê? Um cadáver? Porventura tenho apenas esperança nesses poucos gesto humanos e generosos). Pergunto-me se as perdoei. Perdoei mesmo? Sei que não… Então, de volta à questão, agora perfeitamente contextualizada e com sentido, falsidade ou bondade?
Podemos não ter realmente perdoado, mas aceitado, tolerar e fingir que tudo está como devia ser (grande mentira, mas enfim). Podemos deixar passar aquelas conversas maldosas e mesquinhas de má índole que me chegaram aos ouvidos. Podemos ignorar, mesmo no fundo não esquecendo, mas com toda a certeza sabendo que nunca lhes vamos atirar nada daquilo à cara e oficializar hostilidades. Podemos ser melhores e passar por cima. Isso seria bondade, certo?
Mas é realmente? Ou por continuar no mesmo lugar de sempre, ao lado das pessoas de sempre, ouvindo as conversas de sempre, quando apesar dos sorrisos as condenamos por isto ou aquilo, não estamos a ser falsos? Por não ter dito o que pensei, por não ter jamais dito nada, além das palavras vazias do costume, não estarei a ser fingida? Passando essa imagem de que está tudo bem, de que me sinto bem… Mentira. Falsidade. Mas querendo ainda continuar ali, por alguma razão desconhecida. Ou tão simples como ainda gostar delas. Isso seria novamente bondade. Mas e o resto? O quer quem se deve ser e não o que se é; o dizer o que se deve dizer e ouvir então minha voz soando vazia, enquanto os pensamentos puros e sinceros são trancados, expressos talvez na expressão a que ninguém olha ou dá importância. Sou uma boa fingidora. No sentido literal de ambos os adjectivos. Ou ficaria melhor uma fingidora boa? Parece não colar de qualquer das formas. Mas contudo percebi que não se trata de ou bondade ou falsidade. A questão é: se por bondade somos falsos, ainda podemos dizer que somos bons?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Negócio da Felicidade

Vender simpatia a troco de sorrisos.

É incrível como um sorriso pode ser poderosos. Melhor que muitos remédios. Encantam, distraem, quebram o gelo. Os mesmo sinceros curam todos os males da alma. Valem mais que mil palavras e não precisam de tradução nas diversas línguas; não há confusão possível. São uma óptima alternativa ao Sol, naqueles dias cinzentos e triste onde parece não haver luz. Não pagam imposto ou qualquer taxa e não há restrições para o lugar onde decidem fazer a sua aparição. São capazes de subir a auto-estima e estancar as lágrimas, de silenciar ou fazer rir. Funcionam como agradecimento, pedidos de desculpa e cumprimentos. São ainda um bom meio de exibir o excelente trabalho do dentista. Estão disponíveis a qualquer hora do dia e da noite. Funcionam em dualidade: colectivo ou individual. Embelezam a expressão em 95% das vezes. São coleccionáveis na forma de memórias. Os puros, irradiam boa disposição, alegria; são óptimos a desinibir as pessoas. Compatíveis com personalidades extrovertidas ou introvertidas. Tem um prazo de validade indefinido, dependendo da autenticidade do sorriso. Se foram bem direccionados e prestarmos atenção, raramente se extraviam pelo caminho, não importa a distância.
E para isto basta cultivar um pouco de simpatia, porque os sorrisos são altamente contagiosos!

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Equilíbrio


Equilíbrio não é Igualdade,
Mas sim a Desigualdade em proporções Idênticas

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Novas Fronteiras

Primeiro dia de escola! Ou décimo segundo primeiro dia de escola. É incrível como ao fim de doze anos ainda sentia aquele nervosismo miúdo de quem não sabe o que esperar. No fundo, é compreensível. Como boa aluna que sou (e sou mesmo), não fui à apresentação, como já tinha dito. O mais que sabia da turma eram os rostos que vi na página da escola, nos quais, por mérito de sabe-se lá quem, o meu não consta. Uns quantos que eram da turma anterior, outros que conhecia de passagem e uma série de gente nova. Mas gente nova e, do pouco com quem me dei, muito simpática. Fiquei, se me permitem a expressão, radiante por dar por mim conversando com gente que não conhecia como se fossemos colegas há anos. Mas melhor que isso foi saber-me liberta desses antigos laços que não me interessavam realmente em cultivar (a flor que alguém deliberadamente não regou não sou eu que vou regar). É claro que seria impróprio ignorar supostos amigos para andar sozinha, mas o quadro tem novas cores e novas flores em crescimento.
De qualquer forma, o título deste post é para ler levado num sentido ainda mais literal. (E suponho que a isso – a ela, enfim – se deva um pouco do que falei anteriormente.) Comecemos pela parte invulgar: acho que não seria um grande exagero dizer que levei metade da tarde (e só tive aulas de tarde) a falar inglês (e não tenho mais a disciplina de inglês). Porquê? Algum programa (não sei o nome) similar a intercâmbio mas só com uma vertente trouxe para estudar em Portugal por um ano uma simpática rapariga da Turquia, que, sorte a minha (genuína e sinceramente falando), veio parar à minha turma. É certo que nada sabe de português (daí eu andar a treinar o meu excelente inglês – agora sim ironia), mas aprende bem depressa, garanto. Para o primeiro dia, já levou um grande leque de palavras. E eu acho fenomenal, alguém novo, esta troca de culturas, conhecimentos. Enfim, novas fronteiras. Parece que este ano promete!
P.S: Esqueci-me dos profs! Não há escola sem eles, claro. A de psicologia é muito fixe, algo cómica por vezes, acho que vou adorar a disciplina. Direito pareceu-me bem (excepto a falar inglês, o homem gagueja como tudo) e a de Educação Física nada de general (mulher, atenção), mas mais pormenores só depois das primeiras aulas a sério.

domingo, 13 de setembro de 2009

Nostalgia


Bruges, Bélgica, 9-Out-08

Justiça

Stop and stare
I think I'm moving but I go nowhere
Yeah I know that everyone gets scared
But I've become what I can't be, oh
Stop and stare
You start to wonder why you're here not there
And you'd give anything to get what's fair
BUT FAIR AIN'T WHAT YOU REALLY NEED
Oh, can u see what I see

Stop & Stare - OneRepublic


Não, não acredito que seja justiça o que realmente precisamos. A justiça não é mais do que um ideal subjectivo criado pelo mundo para justificar porque não somos igualmente felizes. A felicidade não advém da justiça e a justiça não são leis. As leis são uma tentativa falhada de impor uma justiça que por si só jamais se sustenta em pé. Nós não precisamos realmente de justiça. E egoístas como somos, nós nem a queremos, apenas o que nos toca e não importa o resto. Não, o que realmente precisamos não é justiça. É bondade. Generosidade. Amor. Num mundo claramente injusto, isto faria a diferença. Faria a justiça.

sábado, 12 de setembro de 2009

Non-Stop

Sinto como se ainda não tivesse parado um momento desde que cheguei, e no entanto aqui estou eu, faltam duas horas para sair de novo de casa, mas suponho que tenho tempo suficiente para me corrigir pela ausência de ontem. Parece que está tudo a acontecer ao mesmo tempo. Coisas boas, claro, saídas e afins, mas eu sou uma miúda de casa e pouco parei por cá desde que cheguei. Matar saudades dos amigos, claro que sim, mas é isso e tudo o mais. Escola! Baldei-me, se me permitem o calão, à apresentação de ontem, mas acabei por lá ir receber o prémio de excelência (mais um diploma para a parede, com moldura, atenção!). Depois não voltei para jantar em casa. Isto não estava programado. Acabei por não dormir também em casa. Não estava de todo programado. Hoje também não vou jantar cá. Não que as refeições sejam a banalidade do costume, tenho cá tios, mas bem, mal eles me vêm a cor. Isto não é sempre assim, devia alertá-los. Amanhã, bem, amanhã devo mesmo ficar por casa (e a dormir até ao almoço). Segunda-feira começa o martírio de levantar cedo, com a excepção de que não começa realmente segunda-feira. Eu explico: para minha felicidade, não tenho aulas segunda de manhã. Mas para todos os efeitos começa a escola e se não é num dia é no outro e terça lá vou eu estar a pé às sete da manhã. Como se isso fosse humanamente aceitável para quem tem dificuldades em adormecer antes da uma da manhã. Adeus, horário de Verão, vou ter saudades tuas! Enfim, não será o fim do mundo. Estou até curiosa, novas disciplinas, novos colegas… Mas sinceramente aguentava na boa a curiosidade por mais um mês. É pena a minha opinião não valer para nada, pelo menos neste assunto. Mas de volta ao tema inicial, este vaivém de compromissos até sabe bem depois de uma semana em nenhures. É bom voltar a ver as pessoas, ainda que eu dispensasse pôr os olhos nalgumas quantas. Soube de umas coisas que nem sei se me surpreenderam, se não; é a tal coisa de já se esperar tudo mas no fundo não acreditar que alguém pudesse descer tão baixo dizendo ou fazendo algo. Pergunto-me se é este ano que se me abre a boca. Há quem diga que sou boa demais e então calo-me, contudo, acabou-se a paciência para sorrisinhos fingidos e horas ao lado de alguém que não quero ver nem pintado, conversando sobre coisa nenhuma. Por mim, chega. E está a fazer-se hora de ir. Esperemos que desta vez, e ela que me desculpe, seja diferente exactamente por faltar alguém (não que me faça falta alguma). Mas até ao último minuto qualquer um pode mudar de ideias.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Azul e Verde


São Salvador

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Regresso

7:49
Acabei de sair de São Salvador – para as mentes menos informadas, a aldeiazinha do norte de Portugal a que carinhosamente apelidei de fim do mundo. Inicio a viagem de volta ao meu adorável Algarve. Só lá devo chegar a meio da tarde. Mas para a despedida, há memórias que ficam. Os galos cantando pela madrugada, nunca antes os ouvira em toda esta semana; várias gargantas num eco dissonante a saudarem o novo dia. A brisa fresca rompendo o torpor de uma má disposição crescente, ainda nem eu entrei no carro. As malas descendo até ao carro, deixando a casa vazia como se ninguém lá habitasse. A porta da entrada fechando sob a minha mão como um livro cuja história acabou, sem tristeza nem nostalgia, talvez até com algum alívio. Os sacos sendo carregados, enfiados onde ainda há espaço: batatas, cebolas, nozes, alguma fruta; pedaços deste mundo que se dão e se levam quando nada mais pode vir. As lágrimas nos olhos de uma mãe que fica e de um filho que parte, brotando a saudade nesta distância que cresce, florescendo por meses, quiçá anos, até um novo reencontro. O carro que por fim corre as suas de outro século, cruzando casas de outros tempos em que subsistem gentes deste; e ei-las no velho banco da paragem esperando o autocarro que já lá vem; é vermelho e moderno, não encaixa nas paredes de pedra e na calçada irregular; talvez por isso não suba e se fique pela boca da aldeia onde a estrada é alcatroada e as casas de tijolo e pintura branca, como as nossas. E continua o carro, galgando os quilómetros nas curvas e contra curvas deste relevo acidentado. A paisagem de agricultura em socalcos é uma imagem que ficaria bem no meu antigo livro de geografia. O ar entra pela janela, o meu estômago está vazio, mas um subtil enjoo prospera. Suponho que esta seja a altura para uma pausa.

8:27
Lembrei-me de uma coisa: eu não olhei para trás. Toda esta história de despedida traz consigo um certo déjà vu e eu recordo-me que, há três anos, enquanto o carro se afastava da casa do meu tio onde sempre ficamos, eu olhei para trás, como que para gravar essa última imagem. Mas não creio que precise de mais. Na imortalidade deste canto do mundo, qualquer antiga memória se funde com as mais recentes num quadro prefeito porque lá nada parece mudar.

10:31
Saio agora da Guarda. Aqui parámos para o pequeno-almoço. Estava enjoadíssima. Agora estou um pouco melhor. As estradas onduladas ao sabor das montanhas ficaram para trás. Não dormi como gostaria mas, tendo em consideração que, quando abri os olhos em frente ao café, me apercebi que a música no iPod acabara sem que me desse conta, deveria estar já a roçar a inconsciência e sem dúvida que adormeceria se não tivéssemos parado. O sol banha-me de calor, é um verdadeiro incómodo. Gracejo a frescura e escuridão dos dois túneis pelos quais acabámos de passar, mas, e ora vejam a ironia da expressão, foi sol de pouca dura. Apetecia-me ler mas não só não me é aconselhável como a estrada é tão boa que sinto o carro aos solavancos e seria impossível ler com as letras aos pulos. Talvez agora com o comprimido para o enjoo devesse tentar dormir mas passou-me a vontade, o que é uma pena. O tempo passa mais depressa quando não estamos conscientes de cada movimento do relógio.

19:40
Estou em casa há mais de duas horas. Era suposto ter escrito mais qualquer coisa pelo caminho, mas depois de ter parado em Évora para almoçar não mais me senti enjoada ou a sufocar. Vim o resto do percurso a ler. Enfim, deu-me a preguiça para a escrita e agora que aqui estou, computador já ligado, sinto-me simplesmente bem. Em casa.

PS: Quando à foto do casamento, ponho-a quando me chegar às mãos. Tudo depende da rapidez com que trabalham os fotógrafos no norte deste nosso país de nome Portugal.

Terá sido neste banco?

Abandono

Casamento

Faltam seis minutos para as três da manhã. Cheguei a casa há cerca de trinta e cinco minutos. Estou morta por dormir. Mas está claro que tal não é possível, senão não estaria a escrever. Por baixo do meu quarto, um rádio toca bem alto uma música bonita que não sei o nome; antes dessa, tocava La Camisa Negra. Ao que parece, todo o pimba do casamento não chegou ao meu tio. Eu já sei como ele gosta de pôr a rádio às tantas, mas bolas nunca esteve tão alto! A minha irmã mal podia abrir os olhos e agora está a jogar na Nintendo porque, obviamente, não consegue dormir. Acho que vou pôr os fones e ouvir a minha música. Depois de Tony Carreira e mais o cartório todo pimba preciso de algo decente. E parece que o rádio está para durar...
Enfim, andei o dia todo para escrever alguma coisa e nada. Não por me estar a divertir, julgo que apenas não surgiu a oportunidade. Talvez por parecer mal, não sei. Essa foi sem dúvida a razão na Igreja, porque eu estava a ponto de me deixar dormir. Deus! Ainda bem que eu nunca vou casar pela Igreja. O discurso do padre foi uma valente seca. Admito, não sou fã da Igreja Católica e apanhei umas quantas do padre que deram vontade de revirar os olhos. Para esclarecer, Cristianismo sim, Catolicismo não. Para mim, a Igreja é uma valente fantochada. Tão cheios de amor por Deus e pela Sua palavra e depois basta entrar numa Igreja para ver que nem sequer sabem interpretar uma das partes mais claras da Bíblia. Não repreendera Deus os hebreus por adorarem um bezerro de ouro? Não faz parte das Suas leis não adorar estátuas? Então o que fazem todos aquelas imagens mórbidas de santos e de Cristo pregado na cruz? Por amor de Deus! Resumindo, não achei piada nenhuma à cerimónia. Não acho que aos olhos de Deus um matrimónio se consagre comendo pão e bebendo vinho (um gole pequeno porque o resto é para o padre). Nem sequer houve beleza nas palavras de sempre, eternamente repetidas, embora os cânticos até não fossem maus, ainda que mais do mesmo. Definitivamente, eu não quero jamais algo assim. (Conveniente nem o poder por não ser sequer baptizada.) Sinceramente, nem sei se quero casar. A cerimónia vale zero para mim, o mais bonito são o vestido e as fotografias, dá tudo um trabalho dos diabos e custa uma fortuna! Não, muito obrigada.
Mas não era isto que eu queria começar por dizer. Afinal, saltei a parte em que fui arrancada da cama para tomar banho e de como no final pude sorrir e orgulhar-me. Sim, porque hoje eu sentia-me bonita e nada tinha a ver com o vestido. Gostei de como a maquilhagem realçou o meu olhar e de como o cabelo enquadrou o meu rosto. Não sabia realmente o que fazer com ele, mas felizmente não tive de me esforçar muito para que me agradasse. (Deixo depois uma fotografia para os curiosos!) O outro problema que me atormentava pela manhã era como ia aguentar todo o dia com os sapatos. Não houve propriamente uma solução para isso, apenas passar mais de metade do dia sentada. E no entanto doíam. Enfim... Já me dou por feliz por não ter experimentado o chão. Porque a calçada é o Inferno dos saltos altos e o calceteiro aqui da aldeia era o próprio Diabo! E, embora seja perto, o caminho da casa da noiva à Igreja é uma armadilha. Eu fi-lo quatro vezes. Uma experiência a tentar não repetir.
O raio do rádio ainda toca lá em baixo. São 3:40. Deus, será que ele não dorme? Eu já que agradecia. Por alguma razão, sinto-me bastante cansada. Não me tenha movido muito. Nem uma música dancei, e culpo a música, não os sapatos. Muito bom para quem aprecia o género. Eu não. Mas não foi mau de todo; a comida era boa, e entre água, sumo, cola, sangria, champanhe e algo delicioso e alcoólico para cortar o sabor entre os pratos, acho que bebi mais do que comi. Mas sinto-me bem. Tirando o peso das pálpebras. E por aquela foto linda, o dia valeu a pena! Estou a brincar, claro, mas gostei de uma fotografia minha sozinha que o fotógrafo se lembrou de tirar. E isso é coisa rara. Eu costumo odiar as minhas fotos. Mas hoje estávamos bonitos e felizes... excepto a minha prima que a certa altura que lhe deu para o amuo e a impertinência. (Ups, ela vai ler isto! Azar!) Foi... apenas um casamento. Como um casamento deve ser. Feliz. E espero sinceramente que essa felicidade dure.
Acho que agora vou tentar dormir. O rádio continua mas os olhos estão demasiado pesados. Raios, faltam dois minutos para as quatro da manhã! Um...
Talvez fique com a minha música. De olhos fechados. Quatro horas. Boa noite!

6-Setembro-2009

Onde o Sonho Começou


Escola Primária de São Salvador, Mirandela

Este é o refúgio, o pátio das brincadeiras, a morada das gargalhadas e dos gritos inocentes, o recanto para os momentos a sós, o sítio onde há três anos comecei a escrever.


Num destes bancos eu sentei-me com um caderno, num fim de tarde de Verão, e surgiram aí as primeiras linhas de uma história que ainda hoje não acabou. Tenho o caderno aqui bem perto na gaveta da secretária, mas resisto à tentação de ir ler essas palavras porque sei quais são. Enquanto o Sol se punha nesse parque, eu escrevia sobre a noite e começava "A Lua cheia..." E quis o destino que, nestes dias que aqui passei, três anos depois, brilhasse no céu uma Lua cheia.

Imortalidade

A noite cai negra. Esse manto espesso, sobre nós. É impossível ler. O foco amarelo do ecrã do telemóvel persegue as palavras, mas elas teimam em esconder-se na penumbra do crepúsculo. A lua ergue-se num círculo de luz perfeito e distante. O sol já lá vai, perdido do outro lado do mundo. A inspiração desce com o silêncio que abraça o parque da velha escola primária. Neste cair da noite, não estou sozinha. O baloiço chia nas correntes ferrugentas, para trás, para a frente. O ar enche-se de insectos que com um irritante beijo vêm tocar a minha pele. Alguém diz que se quer ir embora. Quem foi mesmo? Mais uma página peço. O clarão débil nas letra fugidias, impossíveis de ler sem essa luz. Uma e outra linha. Não está frio. O ar move-se com uma frescura quase agradável. Então um frágil arrepio. Não chega. Mas a luz apaga-se. As palavras fundem-se na folha branca. O livro fecha-se. Por quanto tempo? Horas? Somente até encontrar uma luz mais forte, um desejo redobrado por continuar essa história que dá vida a esta monotonia. As escadas do escorrega deslizam sob os meus pés. Toco o chão, terra molhada. Estiveram a limpar a escola... O parque fica para trás. Até amanhã! A calçada irregular passa no caminhar descontraído. A paisagem de casas sempre igual. Não me lembro como aqui cheguei. Não me lembro de subir as escadas em que agora estou sentada. Gesto que se repete e se perde na sua familiaridade. O singular guarda a memória. Há três anos, no mesmo parque, há mesma hora, um caderno e não um livro, uma história para escrever e não para ler, a luz morrendo, dando ordem ao regresso a casa. Tão igual! E no entanto, já nada é como era. Nada voltará a ser como era. O tempo não mudou o cenário, mas mudou o actor; a alma do actor. Contudo, a peça continua em exibição.

3-Setembro-2009

Apresento-vos São Salvador



Vistas da janela da casa do meu tio
São Salvador, Mirandela, Norte de Portugal

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Qualquer coisa como uma despedida

Vou de viagem. Parto amanhã, bem cedo, cedo demais para quem com certeza se vai deitar tarde. Destino: fim do mundo. Não literalmente, claro, mas faz justiça ao nome. Suponho que até hajam sítios piores, mas aquele é o pior que conheço. A pouquíssimos quilómetros de uma cidade, na aldeiazinha da minha avó paterna, eu sinto-me a léguas da civilização. Que bom que a vou levar comigo! Tecnologia na mala e biblioteca na bagageira. Ainda assim, o meu querido iPod que faz milagres (bem dito seja que me salva sempre que não tenho computador) não apanha internet em lado algum naquele desterro, por isso vou estar uma semana sem publicar nada. Felizmente que posso escrever (que faria da minha vida se não pudesse?), por isso eu venho cá deixar tudo quando regressar, para os interessados em saber o que pensa uma pessoa do século XXI numa terrinha parada no tempo há pelo menos cem anos.
Suponho que não estou tão pessimista em relação a esta viagem como pareço. Já agora, o motivo é o casamento da minha tia e rezo para que não seja outra valente seca! (Salva-me prima que vais lá estar para me entreter!) Não é nada contra a minha avó, mas eu espero sinceramente que seja a última vez que lá vou (embora duvide). É que para gastar o meu tempo a ler, em casa é mais confortável. E escrever no iPod não é prático (melhor que à mão, garanto, afinal, evita longas horas passando textos, mas não igual ao meu adorável teclado!). De qualquer forma, não pode ser assim tão mau. Bem-haja que as coisas que eu adoro fazer – ler, escrever e ouvir música – se podem fazer em qualquer lugar. Até no fim do mundo. De facto, foi lá que tudo começou, esta grande paixão pela escrita. (Até onde conduz o aborrecimento! Bem, desta vez agradeço-lhe por isto). Há três anos – parece tanto e tão pouco! – naquele parque vazio da escola primária, ao final da tarde, eu sentei-me com um caderno e comecei a escrever. Não lá voltei deste então. Mas escrevi quatro livros, reescrevi os dois primeiros e vou a meio do quinto. Agora volto lá. Bonito, não é? Algo romântico até. Torna-se um pouco impossível odiar aquele lugar. Na verdade, o parque daquela escola sempre foi o refúgio, o jardim das brincadeiras, o lugar para todos os bons momentos. Lembro-o na perfeição, como se fosse ontem. Mas foi na verdade há tanto tempo… Quero lá voltar. Apenas lá, onde tudo começou. Quero fotografar o banco em que me sentei a escrever. Quero mostrar-vos onde o sonho teve início. E se for realmente a última vez, quero ter a oportunidade de trazer uma recordação e de me despedir.
A vocês, até para a semana! Eu prometo que sobrevivo ao fim do mundo e regresso para mais histórias.