O silêncio é de pedra e a noite de gelo. O abraço da chuva não tem nome mas é memória fria e húmida da hora que antecedeu o fim de tudo. As palavras rangem. É o momento.
Não sei mais por onde caminhar. Não há mais véus para levantar nesta cortina de luz e escuridão que encobre as mentiras plácidas da humanidade. O abrigo é de papel e derreteu. Só tu sabes como o sol queima neste dia nublado. Mais arde a ausência das vozes que não percebes. E as perguntas são as mesmas em todas as gerações.
Um dia seremos grandes conquistadores em cavalos de madeira e espadas de plástico. Encontraremos o fim do arco-íris e o pote de ouro. A vitória é uma criança que ganhou um doce em forma de coração. E tudo o que esperamos de amanhã é acordar. Um beijo nesta face gélida e a rua ganhou novas cores. Mas a distância que separas dois corpos é a meta mais difícil de se ultrapassar. Compreendemo-lo ao crescer, quando a inocência é pecado e os gestos são todos obscenos. Quando um abraço tem o preço de mil amores comprados e um milhão de dívidas para saldar.
A oração é baixa e para ninguém. A ajuda é ilusão dos pobres e dos afogados, e o divino é crença dos ricos e dos que ainda têm esperança. O chapinhar dos pés descalços na rua molhada sim é a canção dos deuses. E nas mão calejadas e imundas está a sabedoria mais amarga desta vida e da outra. Sob a sombra do preconceito, nascem artistas e anjos. E à luz do sangue dourado que bombeia nas raízes deste mundo, morrem todos os outros corações. Porque a arte permanece e a bondade escasseia mas subsiste, para alimentar com água pura as almas daqueles quem têm olhos para ver e não para se deixarem cegar.
A história é longa e na verdade nenhuma. Gasto insano de palavras e papel. A moral não existe fora das nossas consciências.
1 comentário:
gostei muito do texto, está muito profundo. (eu já encontrei o final do arco-íris)
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