Amanhã faz um ano.
Vinha no autocarro, a olhar pela janela, quando os meus olhos se cruzaram com o placar publicitário. Era sobre o regresso do programa Salve-se Quem Puder. De tudo o que podia relacionar foram aquelas memórias que vieram como uma enxurrada que me deixou sem fôlego.
Verão passado. Junho. Todas as noites, eu e a minha irmã íamos para a sala ver o programa. Por vezes, era somente uma boa desculpa para fugir à cozinha cheia de gente. Era também uma boa desculpa para não vir fechar-me sozinha no meu quarto e chorar noite adentro. Não sabem como era a salvações dessas noite, em que tudo estava mal. Era uma distracção. Era uma hora em que nós não pensávamos do que tinha acontecido, faz amanhã um ano. (Miriam não chores.)
Recordando isto, tudo o resto veio como uma bola de neve crescente, até àquele dia.
Pensei que em breve faria um ano, e em como passara depressa. Depois apercebi-me.
Fora numa quarta-feira de Junho, no mesmo dia em que ele nascera. No dia em que realmente nascera, não no que consta do BI.
3 de Junho de 2009
Senti o coração apertado e as lágrimas nos olhos. Afinal, faz um ano amanhã. Amanhã.
A-ma-nhã.
Quando a minha mãe me foi buscar à paragem e me trouxe até casa disse: "Amanhã quero que todos se levantem cedo. Vai fazer um ano que o avô faleceu e nós vamos ao cemitério deixar lá umas flores."
Só pude dizer "Eu sei".
Sabia-o desde há dez minutos atrás. Sabia-o desde que vira o placar publicitário e me lembrara de tudo. E me apercebera de como o tempo passara, tão rápido, de como tudo mudara, tão depressa, de como a vida põe o turbo, mesmo quando acreditamos que aqueles dias longos e dolorosos jamais vão passar.
Queria poder não chorar agora. (Miriam não chores.) Queria dizer que está tudo bem. Na verdade, está tão bem como poderia estar. As partilhas correram pelo melhor, a vontade de minha avó prevaleceu, ela não perdeu nada do que era seu, embora tivesse de pagar por isso. E no entanto, para estar tudo bem eu não teria de ir amanhã ao cemitério.
Mas a vida é assim, não é? E nós vivêmo-la da melhor forma que sabemos. Embora custe.
Às vezes, quando vou na rua e algum homem mais velho passa por mim, eu viro-me para o olhar novamente, porque naquele breve relance, muitos são os rosto que se parecem contigo. É como se estivesse por todo o lado.
Tenho saudades tuas, avô.
Custa crer que já se passou um ano. UM ano.
Lembro-me do teu rosto como se fosse ontem. Tranquiliza-me a certeza de que nunca o vou esquecer. Admiro-te muito e sei que reclamarias comigo se me visses chorar assim, mas isso é porque eu gosto muito de ti.
Tu sabias que eu gosto muito de ti.
Até amanhã, Avô.
3 comentários:
realmente o tempo passa muito depressa... por vezes nem damos por isso. mas não chores... (nada mais sei que dizer para te poder confortar... acho que nada mais posso dizer... mas não chores, a vida é mesmo assim... tudo acaba, tanto coisas boas como más e nós não deveríamos ter de sofrer por isso...)
beijos fofinhos.
kuanto à miriam nao sei mas eu chorei. sim faz um ano. sim é doloroso. muito. e nao e so para ti ou as pessoas ai de casa. para mim tambem. claro que nao é tanto. eu nao o conheci como voces e tenho muita pena disso porque do que eu conheci ele era um homem extraordinário e vai continuar assim sempre nos coraçoes de cada um de nos. (ja sei ando a ficar lamechas tenho k trabalhar nisso:D) sinto.me uma beca mal. amanha outro concerto. muita coisa em k pensar sem k eu me possa lembrar muito disso. e todos os que aqui vao ficar vao pensar nisso o dia todo. amor o meu tele vai tar sempre ligado. liga! se precisares de alguma coisa nem que seja so para falar. liga!
Também me custa muito, pena uma grande heroí hoje não possa estar presente entre nós. (E não resisti, estou a chorar que nem uma doida)
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