As horas chegam. Moles. Os dias passam. Enfadonhos. As conversas morrem. Lentamente.
Tudo está mal quando não acaba. Tudo está bem quando adiamos o final. Vamos marcá-lo no calendário. Sublinhá-lo com marcador amarelo.
O vestido está pendurado na porta. Os olhos passam e param. A noite é memória de cetim e copos de plástico. Não queremos vidro no chão. Poupem as agoniadas de tacões nas mãos.
A música toca suave. Não muda. O disco vira e revira, sempre igual. Sempre mundano. Ninguém se dá ao trabalho de o mudar. Ou de ouvir com atenção.
A febre é elevada. Não há quem nomeia a doença. Importa mais o milagre que a ciência. Mas há-de a fé cravar uma estaca de madeira do peito. Cruz de prata em sangue. Contas de terço no chão.
Lado a lado, santos e bêbedos. Ninguém vê a diferença. Ambos deliram. Ambos dizem o que julgam ser verdade. Ambos são ícones, exemplos. E sãos são ainda os loucos.
E amanhã os crentes dormem. Não há princípios de trabalho que os rejam. Não há vontade que os arranque do pecado da preguiça. Coitados, fazem o que podem. Só não podem mais porque não o fazem.
A história é a mesma para todas as gerações. A Bela e o Monstro. O Lobo e o Capuchinho Vermelho. A Bela Adormecida, cega e ignorante. O estereotipo de princípe que arruinou casamentos. O estereotipo de bruxa que criou casamentos. A mentira do viveram felizes para sempre.
Mas vai haver um baile. Vão haver vestidos de baile. Vai haver música de baile, nem que sejam breves minutos. Há o sonho do baile.
Como tudo na vida, outro sonho. Ao cair da noite, serão copos de plástico e cetim no chão. Tacões nas mãos. E gente alegre porque é bêbeda e santa.
1 comentário:
por vezes é bom ter a ilusão de que os sonhos se podem concretizar :D não digo que haja o "felizes para sempre" mas...
um baile é sempre bom :D e talvez não acabe com cetim e copos de plástico na mão. quanto aos bêbados e santos... concordo inteiramente contigo XD
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