segunda-feira, 19 de julho de 2010

Palavras, levem-me

Dei voltas e voltas à cabeça, à procura de um bom começo, um tema que lançasse as palavras como folhas ao vento, mas há na minha razão um pesado manto trágico com o qual não quero cobrir o desabafo desta noite.
Não sou do género optimista, mas sou racional o suficiente para admitir que temos sempre de ver o lado positivo das coisas, ou não veremos de todo. Não sei que lado positivo procuro, ou onde o procuro, neste agora, marca o relógio 1:16. Talvez não procure nada. Talvez enfrente somente a realidade de que, por vezes, deixo fugir esta filosofia de vida de levar tudo com a mesma serenidade deste tranquilo momento em que me sento frente ao computador e largo simplesmente uma voz sem som, em palavras desenhadas frente aos vossos olhos. Queria ter este plácido sorriso durante mais tempo, mas sinto-me frequentemente governada por emoções que me fogem ao controlo, e o mar calmo revolta-se na intempestividade das minhas reacções. Mas isto de aceitar tudo como se nada fosse, não, não serei tão leviana assim, e prezo muito as emoções. Contudo, às vezes, vezes que desejava apagar, perco o controlo, perco a cabeça, deixo o sangue bater célere e a raiva comandar a razão, num lapso de mim própria. Recordo... Ricardo Reis. Ah, mas ele levava tudo ao extremo. Sempre me ficaram as palavras que diziam para nada termos nas mãos, pois quando nos pusessem o óbolo último, ao abrirem-nos as mão, nada cairia. Não, não sejamos tão levianos. Eu nunca concordei com ele. "Rather hurt than feel nothing at all" E no entanto, havia uma certa razão na sua filosofia, a aceitação, a tranquilidade, o carpe diem...
Não, não sei como acabei a falar da poesia de Fernando Pessoa. Parece que as palavras voaram mesmo como folhas ao vento. E sorrio porque, este ano, Português deixou uma marca em mim. E este é um dos motivos pelo qual sou apaixonada pela língua e pela literatura.

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