sábado, 10 de julho de 2010

Momento suspenso no tempo

O relógio parou. Não sei quando o relógio parou.
As estrelas não se movem no céu. Não houve nuvens o dia todo. Não houve sequer um dia todo.
Houve um momento, um longo e imutável momento, que assim que acaba, começa de novo.
Houve uma noite má. Houve lágrimas de fúria e frustração.
Alguma vez ouviram aquele ditado: "se achas que és pequeno demais para fazer a diferença, tenta dormir num quarto com um mosquito"? Eu sei-o. Literalmente. E não tem piada.
Não houve manhã. Já não há brisa fresca ao entardecer. As disposições declinam, esmorecem, compadecem-se.
Três cadeiras. Três livros. Três histórias.
Tenho ainda marcas no corpo. Eu nunca ficava com marcas no corpo. Mas é o ódio e o desprezo que vejo. É a rejeição.
É a falta do teu tempo. Das tuas palavras.
É esta espera interminável de dias fluídos com noites num único momento de desespero por algo para fazer, por algo que ocupe um pensamento gritante angustiado por não poder saltar cá fora. Falar, simplesmente falar com significado.
Estas conversas de dentro de casa são palavras atiradas ao ar para calar perguntas que não precisavam de ser feitas. Eu não sei o que há de errado aqui. Enganem-se se acham que há algo de errado aqui.
Sê-lo-ia em qualquer canto solitário do mundo. O erro vem nas costas das minhas mãos, na comichão fantasma que me corrói a pele. O erro vem na espera que se arrasta comigo. Ou que me arrasta com ela.
Nada. Não sobra nada. Mas não falta tudo. Apenas uma voz que rompa o hipnotismo em que caiu o meu tempo. O meu momento suspenso.
E esta injustiça que é queixar-me...
Por muito que tentasse, nunca senti que conseguisse ser uma pessoa realmente justa, de qualquer das formas. Mas tu nem sabes.
Não, ninguém sabe o peso que tem uma consciência senão aquele que a carrega.
Não sinto a cabeça leve. Sinto antes uma pressão dolorosa nas têmporas, que grita que os meus olhos precisam urgentemente que acabe com isto. Ou vão ceder novamente.
Ainda me apetece arrancar-me a pele.
Ainda me apetece arrancá-la toda.
Se for psicológico, talvez me convença que um beijo teu curá-lo-ia.
Ah, mas tu não existes neste momento suspenso no tempo. E eu acabaria por ficar sem pele enquanto espero por ti.

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