sexta-feira, 9 de julho de 2010

Olhar-me de frente

O ar frio da ventoinha vai e vem, vai e vem. A janela está aberta. A janela está sempre aberta.
O telemóvel só tocou uma vez hoje. Não chegou o e-mail que devia chegar. As pessoas não sabem cumprir prazos.
Levanto o olhar e o espelho olha-me de frente. Não me sinto observada. Nem todos conseguem olhar-se de frente. A espera é longa e os subterfúgios tentadores. As desculpas revestem o chão que pisamos. As mentiras voam à nossa frente como correntes abafadas que já sufocaram uma ou duas vidas. E as palavras, ah, as palavras, são o único presente eterno que o homem deu ao mundo. Mesmo quando tudo tiver destruído, mesmo quando todas as existências cessem, a palavra permanece e ela é "nada".
Estes desvarios são momentos doces de lágrimas nos olhos e sorriso nos lábios. São tranquilidade satisfeita a comprazer-se dos segundos ainda não devorados da insatisfação que já anunciou a sua chegada desde o instante em que nascemos.
Hoje estou aqui para não dizer nada do que queiram ouvir. Estou aqui somente para assinalar presença. Foi um grande dia, com as mesmas vinte e quatro horas de todos os outros. Porque os grandes dias são como as noites escuras, iguais a todos os outros, excepto na subjectiva percepção de quem os olha.
Então por estar aqui, que maior atenção merecem as minhas palavras, também iguais a todas as outras, mas jogadas para cima do tabuleiro de jogo por umas mãos diferentes de todas as outras; sim, que maior atenção mereço? Tu decides. És tu quem continua a ler. E não vais parar agora porque estou quase no fim.
Não sei. Não sei. Diz-me tu porque lês isto. Eu encaro o reflexo de frente e ele concorda comigo. Isto não é para ti, é para mim. Mas podemos sempre partilhar, não é assim?

1 comentário:

Dark Soul disse...

leio porque gosto do que escreves...