A noite cai negra. Esse manto espesso, sobre nós. É impossível ler. O foco amarelo do ecrã do telemóvel persegue as palavras, mas elas teimam em esconder-se na penumbra do crepúsculo. A lua ergue-se num círculo de luz perfeito e distante. O sol já lá vai, perdido do outro lado do mundo. A inspiração desce com o silêncio que abraça o parque da velha escola primária. Neste cair da noite, não estou sozinha. O baloiço chia nas correntes ferrugentas, para trás, para a frente. O ar enche-se de insectos que com um irritante beijo vêm tocar a minha pele. Alguém diz que se quer ir embora. Quem foi mesmo? Mais uma página peço. O clarão débil nas letra fugidias, impossíveis de ler sem essa luz. Uma e outra linha. Não está frio. O ar move-se com uma frescura quase agradável. Então um frágil arrepio. Não chega. Mas a luz apaga-se. As palavras fundem-se na folha branca. O livro fecha-se. Por quanto tempo? Horas? Somente até encontrar uma luz mais forte, um desejo redobrado por continuar essa história que dá vida a esta monotonia. As escadas do escorrega deslizam sob os meus pés. Toco o chão, terra molhada. Estiveram a limpar a escola... O parque fica para trás. Até amanhã! A calçada irregular passa no caminhar descontraído. A paisagem de casas sempre igual. Não me lembro como aqui cheguei. Não me lembro de subir as escadas em que agora estou sentada. Gesto que se repete e se perde na sua familiaridade. O singular guarda a memória. Há três anos, no mesmo parque, há mesma hora, um caderno e não um livro, uma história para escrever e não para ler, a luz morrendo, dando ordem ao regresso a casa. Tão igual! E no entanto, já nada é como era. Nada voltará a ser como era. O tempo não mudou o cenário, mas mudou o actor; a alma do actor. Contudo, a peça continua em exibição.
3-Setembro-2009
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