Já não sei escrever aqui. Já não sei o que faço aqui. Não me sinto bem. Hoje é verdade, não me sinto bem.
Gosto do vento na cara. Nada mais.
Quero voltar. Ao tempo em que gostava desta música. Ao tempo em que gostava desta companhia. Ao tempo em que gostava do Verão.
Não gosto do Verão. Também não gosto do Inverno. Não gosto de nada. Não gosto de não gostar.
Quero voltar. Ao tempo das fotografias. Ao tempo em que escrevia à mão. Ao tempo em que me sentava na pilha madeira corta para o Inverno, escondida pela copa da árvore.
A árvore foi corta. Não há madeira. Não há Invernos quentes.
Quero parar. Quero ser. Quero encontrar: a verdade nas palavras que escrevo. Quero não ter a necessidade de as escrever como tenho de respirar. Gosto dos dias que se fecham sobre si tranquilos, e nada preciso de dizer. Quando está tudo bem. Não quero estas lágrimas detrás dos meus olhos. Não suporto as lágrimas atrás dos olhos. Antes chorar, dualidade da minha vida, amor e ódio condensado num único acto.
Quero não ser. Tão negra. Havia Lua Cheia quando nasci, mas é como se a minha alma não tivesse luz. Quero acreditar cegamente. Ser menos racional. Não posso. Não consigo.
Quero... Quero um abraço. Agora. Não vou tê-lo. Queria não saber tanto. São mais felizes os ignorantes...
Ouve-me com atenção. Não me ponho de joelhos. Fala comigo. Gosto quando falam comigo. Gosto de ouvir. Sentir atenção nas palavras. Dá-ma só um pouco, não sou exigente.
Queria voltar ao tempo em que ma davam, um pouco suficiente para ser completa.
Já não sei o que digo. Não consigo ficar contente porque o céu branco desta manhã, o céu branco que eu não gostava, já é azul.
Não consigo sorrir. Não consigo já chorar. Sinto-me cheia de nada. Indiferente, como me vêm os outros. Apática.
Não foi das memórias, dos objectos, do quem sou eu de psicologia. Foi antes disso. Antes da primeira palavra já os meus olhos estavam húmidos. Sensibilidade extrema, hoje. Não, progressiva. Sei o que foi. Foram pessoas e mais não digo.
Quero voltar ao tempo em que não havia pessoas. Na verdade, sempre as houve. E eu nunca as amei na medida certa. Há medidas para amar. Uma só. Chama-se equilíbrio.
Não sou equilibrada. Sou de extremos. Ou simplesmente não sou. Apátrida. Às voltas no mundo, à espera que ele mude. À espera de crescer. Sonhando acordada. Imaginando, parada no mesmo lugar.
Como criança subindo e descendo nas escadas rolantes.
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