sábado, 14 de novembro de 2009

Diálogo com a Consciência

– Não é justo – disse-me a consciência.
– E o que é a Justiça? – perguntei eu.
– Se tu não sabes, eu também não – respondeu ela.
– Vamos perguntar ao subconsciente – sugeri.
– Ele sabe tanto quanto tu. Apenas dá mais importância ao que tu queres ignorar.
– Talvez eu saiba e não me lembre.
– Não, ninguém sabe.
– Não concordo.
– Claro que concordas. Sou a tua consciência, lembras-te? Custa-te é admitir que é verdade.
– A Justiça existe – declarei.
– Evidentemente que sim. No mundo das ideias.
– Então é uma ideia. Definível. Alguém tem de saber o que é.
– Oh, todos sabem o que é!
– Estás-te a contradizer um bocado, não?
– Não, nem por isso. Eu sou a consciência, eu sei onde te levará este raciocínio.
– Eu não, por isso começa a explicar.
– O mundo das ideias não é universal.
– Mundo é sinónimo de universo. É, de facto, o primeiro sinónimo que nos dá o Word.
– Esquece o Word. O mundo das ideias é individual. Cada um tem o seu. Assim como uma consciência.
– Assim como tu.
– Sim, como eu. E a ideia de justiça varia de mundo para mundo, de pessoa para pessoa.
– Mas então todos sabemos o que é a Justiça.
– Sabemos o que ela é para nós. Não para o Mundo.
– Mas supõem-se que essas ideias de Justiça partiram todas do mesmo conceito, certo?
– Sim, se tu assim o achas, eu tenho de concordar. É limitada a liberdade de uma consciência, sabes? Não posso verdadeiramente ter uma opinião diferente da que tu tens, só que às vezes nem te apercebes que tens.
– Então a resposta é sim.
– Partiremos desse pressuposto.
– Assim, esse conceito é a verdadeira noção de Justiça.
– Faz sentido.
– Ou seja, a origem.
– Sim.
– E alguém tem de o saber, não?
– Não. Por acaso sabemos a origem do mundo? Da espécie humana, com toda a certeza? Não. E continuamos aqui.
– Realmente não faz sentido nenhum. Tu confundes-me.
– Não, tu já estás confusa. Por isso eu não posso pensar claramente.
– O que importa afinal?
– Foste tu que colocaste a questão.
– Pois bem, desisto de encontrar a resposta. Apenas concordo contigo, é injusto.
– Sim. É pena que o resto do mundo não possa ver isso.

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