quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Cansada. Perseguida. Lembrada.

Suponho não ter dormido o suficiente hoje. Os meus olhos estão húmidos, sinto-me gelada e desejosa de sair daqui. São 9:55 e estou na aula de Português. Quero muito ir lá para fora e sentar-me ao Sol. Se ao menos houvesse Sol…
Deveria analisar um poema. Alberto Caeiro. Mas não cola comigo, nenhum dos que estão no livro, pelo menos. Ele tem razão, muita razão. Mas que não posso deixar de pensar, por muito que sinta.
O problema foi o sonho…
Parei num poema e no fim diz: “E não teremos sonhos no nosso sono.”
Se ao menos eu pudesse para de pensar, nem que fosse enquanto durmo…
O toque está mesmo aí. Conto tudo depois, na aula de História.
Hoje não estou aqui. Filosofias a mais para a minha alma. Não hoje.

(…)

São oito e meia da noite. É exactamente isso, não houve oportunidade de escrever na aula de História. O que não significa que esta tenha sido interessante. Na verdade, eu estive todo o tempo lutando por manter os olhos abertos enquanto víamos um documentário sobre a Bauhaus. Foi realmente horrível, por eu tinha a sensação de que se fechasse os olhos por mais de cinco segundos adormeceria.
Não, continuava a não estar ali.
Também não o estava em Direito. A tarde já foi melhor, na escola, certo, mas sem aulas, e apesar de que a nossa sessão de cinema foi um completo fiasco. Mas bom, ainda passamos o filme, que não vi até ao fim, precisamente porque já o vira.
Mas era para falar sobre o sonho…
Quero contar, sim, mas nem sei com que palavras. Teve em parte a ver com ela – esse ela dos outros sonhos. E foi por culpa de andar a pensar no fim do ano. De alguma forma, o meu subconsciente magicou um cenário nem sei bem onde, no qual havia nomes – os nossos, os finalistas – e prendas. Qualquer coisa como eu quero felicitar a pessoa X, então deixo uma prenda no local do seu nome. (Sem dúvida uma ideia absurda que jamais me ocorreria desperta). O que é certo é que eu estava lá para descobrir o que me haviam deixado.
E é aqui que a coisa derrapa. Tragicamente de volta ao mesmo.
Não ia sozinha. A Catarina estava comigo, embora nem saiba porque, e mais outra pessoa, lá por acaso, calculo (ou talvez com a Catarina?). Não importa. Ambos se preocuparam e me perguntaram se estava tudo bem quando comecei a chorar. Obviamente que não o estava. Mas eu não conseguia explicar-lhes porquê.
Demasiado pessoal. Algo que só eu entenderia. Algo que mal recordava. Algo que só uma pessoa poderia ter feito.
Era duas telas pintadas à mão.
A segunda fez sentido então, encaixando como a primeira num realidade que era sonho, não verdade. Não acontecera o que lá estava. Era um reflexo da primeira, quase que um pagamento não hostil, marca por marca, amizade por amizade. Mas eu nunca parti o braço.
Mas a primeira sim. Essa fez correr as lágrimas, porque era verdade. Era uma memória, e o pensamento humedece-me os olhos. E nem sequer posso recordar esse dia. Apenas sei que a fizera cair há muitos anos e que ainda hoje tem a marca no joelho. Não era para ser um quadro artístico. Eram somente dois pares de pernas, uma delas com a calça subida e uma tira branca em volta do joelho ferido. Talvez houvesse mãos preocupadas, não sei.
O que sei foi que me quebrei em lágrimas. Não via aquilo como tendo implícito “tu fizeste-me isto”. Não.
Era uma amiga que nunca se chateou com a outra mesmo quando a fizera cair.
Amigas que mal se vêm, que há séculos como dias não se falam.
Não, ainda não lhe disse nada. Não sei se o espera e temo que nem o queira. Não o que lhe diria pelo menos – se o pudesse diz. Não me vim queixar tampouco. Apenas precisava de contar.
Apenas precisava de lembrar.
As crianças que um dia fomos…


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