domingo, 8 de agosto de 2010

Balada para vós, seres de papel

Tem um gosto agradável quando alguém dá por falta de ler isto. Mas juntem à equação pais de férias, mais família cá e ainda uma dose considerável de preguiça — muito bem justificada — e vão compreender a minha ausência.
Apetece-me... ser poética.
Mas oiço uma porta e percebo que provavelmente não vou ter tempo. Outra porta e confirmo que tenho razão. São oito e meia em ponto, compreendam.
Espero que a inspiração não fuja na pausa para jantar...

Esbarro contra as 50 mil palavras de um livro sem meio e fim. Preciso de uma viagem, de carro ou barco. Preciso do isolamento de um dia na ilha. Preciso de um longo momento para pensar. Os fios jazem todos nas minhas mãos, colados à ideia do resultado, mas esta é vaga e não conta cada gesto, cada cruzamento, cada passo na construção da teia. Há quem ache que o mais complicado é escrever os diálogos. Eu voto na acção. As falas vêm com a naturalidade das personagens que ganharam vida, mas cada movimento tem de ser pensado no seio de um quarto cuja imagem muda se for puxado o fio errado. Quero uma imagem precisa e real. Mas vou fechar nas 50 mil por hoje e agarrar-me a um livro acabado.
Isto de contar histórias tem por certo mais piada quando elas se contam sozinhas, quando não sabemos o que acontecer a seguir, até chegarmos lá. Quebrei muitas metas e pus de lado outros objectivos para me agarrar a estas vidas que cresceram tão repentinamente que não posso recordar há quão pouco tempo foi. E 50 mil depois ainda vou apresentado personagens de um rol que sempre aumenta, e cada uma arrasta uma história dentro da história, e eu já não sei o que veio de mim e o que veio delas. Depois oiço esta música de lembro-me delas como se fossem gente. Às vezes incluso choro como se fossem gente. Como se fosse verdade, o realismo engole-me e perco-me na incerteza de elas serem o meu sonho, ou eu ser o sonho delas. Construo assim castelos sobre areia, num mundo que é este, afinal de contas. Porque há algo de muito humano, tão humano que me faz sorrir e chorar, sentir culpa e pena, lutar com elas pelo felizes para sempre. Porque há algo de tão humano que me transcende, e às vezes deliro que falo com elas, que as tenho comigo nesta inóspita solidão. Quero dar-lhes a mão e trazê-las para este mundo. E a pouco e pouco, palavra a palavra, elas transladam-se com toda a sua vida, emoções, histórias, e eu somente lhes dou os meus dedos, para caminharem com amparo no solo que eu própria acidentei, sem saber o futuro, como também eu não o sei. E por ser assim, parece tão real, tão certo e seguro, que apaixona escrever.

1 comentário:

Dark Soul disse...

já estava com saudades de ler os teus posts :)
tens razão no que dizes sobre escrever, também sinto isso, embora talvez não tanto como tu.

beijos