domingo, 15 de agosto de 2010

Com pequenos números se escrevem os grandes

É a hora. Asseguro-te. E não devemos brincar com a segurança.
Vem correndo para os braços que te abraçam, e nestes parcos enlaços, tecemos a nossa vida em conjunto. Separações são rasgões na carne que levam o seu tempo a sarar. Mas há feridas que não sangram, e nem tudo o que sangra é uma ferida.
Fiquemos. Juntos até que dê. Se doer demasiado é sinal que ainda estamos vivos. E estar vivo é o que basta, quando nada mais basta. A existência ainda é a fonte de todo o bem e todo o mal. Vamos somente suster cada um na sua mão. É do confronto que nascem os problemas. É na coexistência que nos matamos.
Não revires os olhos às evidências. O que jaz à superfície é a pedra fria que esconde o fogo que corre por debaixo. Permite-me mostrar-se exactamente onde está a brecha para cravar a alavanca que fez e fará novamente girar o mundo. Acredita. A fé é esperança camuflada em dogmas que todos seguem e ninguém entende. Pergunta. A diferença não ultrapassa uma acentuação interrogativa no final da frase. Não há que ter vergonha de parecer ignorante.
Todos nós somos ignorantes. Do minuto em que nascemos ao minuto em que morremos. O progresso está em ser um pouco menos. Nem sempre a evolução significa mais. Como quando te aproximas e a distância diminui. Com pequenos números se escrevem os grandes.
O cansaço é realidade e a desistência tentação. Mas se fosse para jogarem com facilidades os pais não se dariam ao trabalho de ter os filhos. Criar alguém como nós é uma batalha. Somos o equilíbrio instável dessas forças que borbulham nas palmas das nossas mãos. E se já mal conseguimos lidar com a divisão eterna de nós próprios...
A coragem é mais do que uma palavra que fica bonita escrita em qualquer lado. Sejamos francos connosco próprios e vamos ver com quanta facilidade corremos com o rabo entre as pernas. Sem desculpas para o calão. Por isso te afastas quando dói um pouco e não ficamos. És um número que escreve pequenos números. Não olhas para lá da realidade imediata da dor que é mais efémera que o teu medo. Mais efémera que tu. Mais efémera que nós.
Convenhamos, o mundo humano é tão mais conhecido pelo seu egoísmo do que pelo seu altruísmo, e o que o faz mudar não é o amor mas o ódio. O amor mantem-no antes no sítio. Ponto final.

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