Às vezes dá-me estas inspirações rasgadas de dentro de emoções que alguém colocou em mim. Às vezes olho ao espelho e o meu corpo move-se sozinho, a expressão no meu rosto é um reflexo claro de um sentimento que não é meu. Às vezes surpreende-me a facilidade do fingimento.
Talvez então pense que as emoções são minhas.
Às vezes descubro uma música que solta algo de mim que não sabia que estava lá. Uma fúria, um desespero, um grito não-posso-mais-assim. Uma declaração. Às vezes a necessidade de o expressar é tanta que a dor parece bonita reflectida no vidro. Mas de que mais é reflexo o próprio reflexo?
Talvez não se possa fingir de todo algo que nunca se sentiu.
Às vezes questiono o meu quociente de loucura de formas que ninguém jamais viu. Às vezes revelamo-nos para nós próprios e descobrimos que não somos mais que emoções trancadas. Às vezes não percebo como me atrai mais aquele olhar a-vida-não-é-perfeita do que um mero sorriso porventura genuíno. Às vezes admito este quase sadio fascínio por histórias tristes.
Mas sou menina de preferir finais felizes.
Talvez existam duas de mim, uma dentro e outra fora do espelho.
A de dentro sente a angústia, a de fora olha e admira. A de fora deseja secretamente o final feliz, a de dentro olha e não acredita.
Como uma sombra que ganha a nossa forma no vidro...
Sem comentários:
Enviar um comentário