Há algo de deliciosamente comum no Natal. Embora, neste Natal, vá existir um lugar vago à mesa. Não é algo em que pense frequentemente, mas veio-me agora à mente, tão certo e simples, e não encontro nostalgia nas palavras, não encontro esse sentimento nessa certeza de que sim, este ano seremos só cinco à mesa.
Quando era criança, lembro-me de passar a consoada em casa do meu avô paterno, mas fora isso, sempre foi aqui em casa, com os avós maternos, e sempre éramos seis. Quando pensava naqueles Natais com a família toda reunida, achava que seria engraçado sermos muitos. Agora somos ainda menos, e percebo que seis era simplesmente perfeito.
Na cozinha cheira a bolos, a minha mãe e a minha avó estiveram todo o dia nisso, mas eu fui demasiado preguiçosa e fiquei-me pela sala a ler. Continuo aqui. Com a lareira acesa e um portátil, o meu quarto parece-me um sítio estranhamente hostil, e sentar-me à secretaria para escrever não me fascina tanto como aqui. As vozes não me incomodam. Neste momento, o meu pai está a fazer telefonemas para a família; já perdi a conta com quantas pessoas diferentes já falou. Muitas decerto.
Este ano vamos quebrar um pouco a tradição de abrir os presentes pela manhã. Não é algo pelo qual esteja ansiosa porque há muito pouco que me toca a mim. Digamos que gastei quase todo o meu plafond nos anos, com o portátil. A espera até à meia-noite faz-me lembrar essa consoada de criança, na casa do avô. É a única que me recordo de quando era menina, talvez porque tenha sido a única diferente, mas não melhor por isso. De resto sempre fora em casa, com as prendas pela manhã. Há anos que a minha irmã tem vindo a pedir para mudar esse hábito, e parece que este ano finalmente conseguiu.
Sinto-me estranhamente tranquila. Nenhuma felicidade esfuziante, mas há um pequeno sorriso nos meus lábios. Parece que está tudo bem, assim mesmo, como é. Não perfeito, mas tão perfeito quanto poderemos fazer com aquilo que temos.
Estou em família e isso basta-me. Estou bem. Muito bem.
Feliz Natal
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