sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Como um Rio

Pensei subitamente nas amizades. No quão frequente e desagradável é cruzar-me com antigas colegas, antigas companheiras, antigas supostas amigas, com quem passei muitos bons momentos, nas casas das quais guardo memórias, que me convidavam para os seus aniversários, assim como eu as convidava para o meu.
Há muito tempo que não falo com elas. Mesmo que lhe diga "olá, tudo bem?" não é falar. Além de que a resposta é sempre a mesma. Já não sei nada das suas vidas, a não ser o que vejo quando as vejo. Mas também isso não é nada. Pergunto-me como será daqui a uns anos, se por acaso nos encontrássemos na rua. Seguiríamos o nosso caminho como se nem nos tivéssemos reconhecido ou realmente falaríamos uma à outra, aquela conversa "há tanto tempo que não te vejo! o que tens feito da vida?".
Gostaria que fosse a segunda. Mas tendo em conta o presente, há alguns casos em que não posso depositar confiança nisso.
Suponho que seja este o curso da vida. O rio que passa e os momentos ficam à margem, até se perderem de vista. Assim como algumas pessoas. Mas outras saltam para a água e vêm connosco.
São essas as que ficam. São essas as importantes.

(Não, não estava subitamente inspirada. Aula de Português, e a metáfora da vida como um rio é de Ricardo Reis, embora não concorde minimamente com ele. Não nos podemos meramente deixar arrastar até ao mar, ainda que, invariavelmente, lá terminemos o nosso caminho.)


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