terça-feira, 31 de agosto de 2010

You can only move

Hoje estava a ouvir esta música "Breathe Today", pela vigésima ou trigésima vez, e reparei nesta frase que sempre me havia passado ao lado.

"You can only move as fast as
Who's in front of you"

E ela simplesmente ficou, pulsando cheia de um significado só então apreendido, como se fosse a derradeira verdade da nossa vida, tão banalmente encaixada em dois versos de uma canção. Porque é assim. Não estamos sozinhos no mundo, por muito que gritemos, esperneemos, nos isolemos e tranquemos as portas. Simplesmente não estamos, por quantas grades e muros e barreiras de betão armados ergamos à nossa volta. De uma forma ou de outra, acabamos atraídos, influenciados, moldados e condicionados. E só podes dar liberdade ao teu corpo e espírito e correr, voar, mudar até ao alcance das tuas correntes... ou até ires de encontro a quem está à tua frente. E não importa que avises, clames, supliques, porque nós, humanos, raramente damos passagem a alguém.
Habituemo-nos? Ou talvez, com jeitinho, possamos incentivar quem está à nossa frente a andar um pouco mais depressa...

domingo, 29 de agosto de 2010

E com Setembro quase aí...

Possivelmente eu vou perceber que eu vou sair de casa, eu vou mudar de cidade, eu vou estar a mais de 500 quilómetros quando eu vir o meu nome nas colocações para a universidade.
Há coisas para fazer? Planear? Não sei.
Sítio onde ficar? Esperar para ver. E realmente para ver.
A consciência de que em duas semanas isto tudo vai mudar? Ups. Não sei. Talvez tenha congelado algures no meio do mês de Julho.

Que bom que não me sinto nervosa. Ou ansiosa. Ou preocupada.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Dentro e fora do Espelho

Às vezes dá-me estas inspirações rasgadas de dentro de emoções que alguém colocou em mim. Às vezes olho ao espelho e o meu corpo move-se sozinho, a expressão no meu rosto é um reflexo claro de um sentimento que não é meu. Às vezes surpreende-me a facilidade do fingimento.
Talvez então pense que as emoções são minhas.
Às vezes descubro uma música que solta algo de mim que não sabia que estava lá. Uma fúria, um desespero, um grito não-posso-mais-assim. Uma declaração. Às vezes a necessidade de o expressar é tanta que a dor parece bonita reflectida no vidro. Mas de que mais é reflexo o próprio reflexo?
Talvez não se possa fingir de todo algo que nunca se sentiu.
Às vezes questiono o meu quociente de loucura de formas que ninguém jamais viu. Às vezes revelamo-nos para nós próprios e descobrimos que não somos mais que emoções trancadas. Às vezes não percebo como me atrai mais aquele olhar a-vida-não-é-perfeita do que um mero sorriso porventura genuíno. Às vezes admito este quase sadio fascínio por histórias tristes.
Mas sou menina de preferir finais felizes.
Talvez existam duas de mim, uma dentro e outra fora do espelho.
A de dentro sente a angústia, a de fora olha e admira. A de fora deseja secretamente o final feliz, a de dentro olha e não acredita.
Como uma sombra que ganha a nossa forma no vidro...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

All Around Us

No escuro tu vês — o que a luz do dia cega
Um infinito de nada com aspiração a entrar na categoria de tudo
Lá de baixo tu vês — o que parece insignificante de cima
Mas a realidade é ela mesmo insignificante
O bom e brilhante raramente passa de uma ilusão montada para nosso engano
Cá de baixo nós vemos — e não importa que não gostemos do que vemos
O desespero é combustível que acende a revolta trancada em corpos
E as colunas de fumo ascendem no ar porque, depois de tudo, só destruímos
O meio mais rápido de acabar com a dor é matá-la na origem — nós próprios
E se as nossas vozes alcançassem a intensidade dos gritos das nossas almas...
Como música batendo fortemente nos tímpanos — expressão
Mais que lágrimas que secam na pele — perpetuação do sentimento
E as cores derramam-se pelas paredes no quebrar da visão — e do mundo
No escuro tu vês — o que a luz do dia cega
Porque sentes — mais do que vês — que não estás só na solidão
Solitário vagabundos, todos nós, somente a procurar uma melhor voz para gritar
No fundo todos iguais — não importa a perda, a ferida, a tragédia, a assombração
Todo membros do clube dos condenados
E no escuro, não nos conhecemos — não nos vemos
Mas sentimos — All Around Us

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O tema disto é a inexistência de um. Ou simplesmente eu

Faço a mim mesma esta promessa inconsequente de que hoje vamos escrever alguma coisa a sério, e enfrento a realidade de que ou estou muito inspirada hoje — dado o número de páginas satisfatório que acumulei hoje — e isto vai sair bem, ou já esgotei o stock de ideias brilhantes e... seja o que Deus quiser.
Verdade seja dita que após isto bato contra uma valente parede de "e agora?".
Suponho que não esteja consciencializada. Com a história da Universidade e tal, e Aveiro e afins. A minha mãe perguntou-se se eu estava ansiosa — ou nervosa, nem sei — e eu muito honestamente respondi que não. Acho que não penso muito nisso. Acho que deveria pensar mais. Deveria?
Não, talvez não. Afinal de contas, quem precisa de nervosos e ansiedade? As coisas chegam quando têm de chegar. Devo ter demorado muito anos a aceitar isto — e ainda custa às vezes — mas parece-me que vou num bom caminho. Se bem que por vezes encaro a aceitação de tudo como um defeito. Ah, mas enganem-se se acham que aceito tu-do. Ou talvez me engane eu. De qualquer forma, estou positivamente segura de que já falei sobre isto.
Engraçado... este positivamente que pode nem ter nada a ver com optimismo. Fazia-me confusão antes vê-lo como sinónimo de certamente e seguramente. Mas até faz sentido. Boa ou má, ter uma certeza é sempre algo positivo.
Ok, estou a divagar. É frequente também. E não faz mal à saúde. (Não perguntem porque escrevi isto.) O que importa — se é que realmente importa — é que eu nem sequer sei como é que esta frase supostamente deveria acabar. Eu não faço a menor ideia do que estou a fazer. Não sei para onde é que isto — e neste caso, embora esta seja uma grande (ênfase no grande) metáfora, o "isto" é meramente este texto — caminha. Não sei o final. E a magia de escrever assim tem sido uma das cordas que puxam os meus dedos através do teclado. Mesmo quando falamos de mais do que um texto com meia dúzia de parágrafos.
É curioso como tenho escrito histórias e — tento — livros assim, impensadamente, ao sabor da corrente, sem fazer a menor ideia de para onde é que isto vai. Tem a sua piada. O ponto é, contudo, que eu não costumava trabalhar assim. Eu planeava as coisas — e planeava com mais do que vinte páginas de antecedência. Pergunto-me se isso diz algo acerca de mim, que me estou a tornar mais inconsequente, mais espontânea, mais vive-ao-sabor-da-corrente-sem-planear-as-coisas. Não faço ideia. E, ah, esta coisa do hífens é outra mania que peguei e que estou a tentar controlar, mas que se está a manifestar cada vez mais frequentemente — para referência futura. A culpa é da escritora que estou a ler.
Suponho que falhei redondamente o meu propósito de escrever a sério desta vez. Mas vá, escrevi. E soube bem. Sabe sempre bem.
Mas eu vou tentar mantê-lo em small doses :)

E isto

Sinto-me em stand by
.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Horóscopos e oráculos dizem...

Eu vou contar como é que isto começou: eu estava a passear no Facebook sem nada para fazer. Depois encontrei o horóscopo do Sapo. É assim, eu não sou muito crente nestas coisas, porque se há pessoas em que as características do signo são todas certinhas, eu tenho uma mão cheia que bate bem ao lado — a não ser que haja outra faceta de mim por descobrir.
Mas adiante, eu cheguei a esta página em que dizia "Características do signo" (Sagitário, by the way). Um dos tópicos era:

Profissões: Professor, escritor, aviador, desportista, explorador, religioso, carreiras liberais, ebanista, medicina, magistratura, político, teólogo, importador-exportador.

Ok, até aqui tudo bem. Pode ser coincidência. E então eu segui explorando até encontrar uma coisa chamada Vibração do Nome. E experimentei.
O resultado foi este:

Nome: Raquel Martinez Neves
Vibração do Nome: 2
São pessoas capazes de assimilar as ideias e valorizá-las, satisfazendo todos os envolvidos. Possuem facilidade de unir e manter atado o que parece disperso. Podem ter sucesso como: psicólogo, professor, árbitro, diplomata, contador, bibliotecário, escritor, músico...

Certo, a partir daqui que já não me pareceu assim tanta coincidência. Espero honestamente que isto seja um bom sinal.
E já que estou nisto, vou deixar mais algumas coisinhas para a posterioridade :)

SEU NÚMERO DA PERSONALIDADE: 2

O núcleo familiar é um dos seus mais importantes valores. Por isso sua capacidade para trabalhar em grupos e de forma cooperativa. Gentileza e sociabilidade são características marcantes, juntamente com o respeito pelos demais. Prefere os trabalhos cheios de detalhes e necessidade de controles refinados. Observe e evite sua tendência a se colocar em segundo plano talvez pela timidez que encobre. Evite ser suscetível, ceder à timidez, às indecisões, e a se menosprezar. Vincula-se a intelecto, casamento, entendimento do oculto. Seus símbolos ocultos são a Papisa, Eva, Isis e Juno. Sua vibração é lunar. Sua marca é a cooperação.

O NÚMERO DO SEU DESTINO: 5

Liberdade! Este é o grito do seu interior. Viver, aventurar, experimentar, viajar. Tudo sem limitações.


quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Falsa Analogia

Tu e eu somos uma falsa analogia. Quem quer que seja o tu e quem quer que seja o eu.
Tu e eu não funcionamos sequer para uma reles comparação de gente cega. Declarar as semelhanças é a morte do artista.
Podes fazer metáforas com o resto do mundo, mas não coloques tu e eu lado a lado na mesma frase. Se os igualas, tudo perde o sentido. A tua opinião perde o sentido. As tuas palavras perdem o sentido.
Se insistires com o tu e eu, não sobra a diferença ou a ousadia para te impores e dizeres que é assim. E tu não queres ser a causa do fim da originalidade da vida.
Deixa que um lado da balança pese mais que o outro, não importa quem esteja em cima ou em baixo. Raros são os que sabem realmente de que lado estão. As evidências mentem. A evidência do tu e eu mente.
Poupa-me aos comentários que já toda a gente vez. Vamos construir a verdade por uma vez. Aceitá-lo, tão mitigá-lo. Chega de nos encaixotar, de categorizar pessoas e atirar o tu e o eu para o mesmo saco em que vais acabar por colocar tudo o que respira, caminha em duas pernas e se apelida de racional.
Acabemos com o que fica bonito dizer. Se assim fosse, jamais alguém precisava de o dizer. Não há nada de similar entre o tu e o eu. Quem quer que eles sejam. Não ponhas todos perto da ideia de igualdade. Não ponhas o tu e o eu.
Não escrevas essa falsa analogia. A não ser que percebas que só somos iguais a quebrá-la.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Second Chance

Deparei-me com o video desta música já muito conhecida minha ontem, e achei que se podia adequar a muitas realidades de jovens, sobretudo nesta minha fase de transição. Pareceu-me ainda mais apropriada hoje. O video e o som não são grande coisa, por isso aconselho a quem queira tirar uns minutos que veja o original aqui.


Tell my mother, tell my father
I've done the best I can
To make them realize
This is my life
I hope they understand
I'm not angry, I'm just saying
Sometimes goodbye is a second chance

Shinedown - Second Chance

domingo, 15 de agosto de 2010

Com pequenos números se escrevem os grandes

É a hora. Asseguro-te. E não devemos brincar com a segurança.
Vem correndo para os braços que te abraçam, e nestes parcos enlaços, tecemos a nossa vida em conjunto. Separações são rasgões na carne que levam o seu tempo a sarar. Mas há feridas que não sangram, e nem tudo o que sangra é uma ferida.
Fiquemos. Juntos até que dê. Se doer demasiado é sinal que ainda estamos vivos. E estar vivo é o que basta, quando nada mais basta. A existência ainda é a fonte de todo o bem e todo o mal. Vamos somente suster cada um na sua mão. É do confronto que nascem os problemas. É na coexistência que nos matamos.
Não revires os olhos às evidências. O que jaz à superfície é a pedra fria que esconde o fogo que corre por debaixo. Permite-me mostrar-se exactamente onde está a brecha para cravar a alavanca que fez e fará novamente girar o mundo. Acredita. A fé é esperança camuflada em dogmas que todos seguem e ninguém entende. Pergunta. A diferença não ultrapassa uma acentuação interrogativa no final da frase. Não há que ter vergonha de parecer ignorante.
Todos nós somos ignorantes. Do minuto em que nascemos ao minuto em que morremos. O progresso está em ser um pouco menos. Nem sempre a evolução significa mais. Como quando te aproximas e a distância diminui. Com pequenos números se escrevem os grandes.
O cansaço é realidade e a desistência tentação. Mas se fosse para jogarem com facilidades os pais não se dariam ao trabalho de ter os filhos. Criar alguém como nós é uma batalha. Somos o equilíbrio instável dessas forças que borbulham nas palmas das nossas mãos. E se já mal conseguimos lidar com a divisão eterna de nós próprios...
A coragem é mais do que uma palavra que fica bonita escrita em qualquer lado. Sejamos francos connosco próprios e vamos ver com quanta facilidade corremos com o rabo entre as pernas. Sem desculpas para o calão. Por isso te afastas quando dói um pouco e não ficamos. És um número que escreve pequenos números. Não olhas para lá da realidade imediata da dor que é mais efémera que o teu medo. Mais efémera que tu. Mais efémera que nós.
Convenhamos, o mundo humano é tão mais conhecido pelo seu egoísmo do que pelo seu altruísmo, e o que o faz mudar não é o amor mas o ódio. O amor mantem-no antes no sítio. Ponto final.

sábado, 14 de agosto de 2010

Sábado

Intrigam-me estes sábados que não parecem sábados, noites de horas mortas presas num livro, sem conversas paralelas com quem quer que seja. Convidam-me para descer e desfrutar da noite que caiu, mas há algo de muito atraente no leito de almofadas e na música constante que de tão nova e ouvida brevemente se tornará gasta.
O espelho olha-me e eu olho-o. Fitámo-nos assim toda a tarde, e quase via os meus balões de pensamento reflectidos nele, enquanto as engrenagens da minha imaginação giravam, umas vezes com desenvoltura, outras com esforço, até me encontrar frente a frente com a necessidade de um desses momentos vazios para pensar no depois.
Suponho que vá matar mais uma hora ou duas num livro, que as palavras escritas hoje já saem com mais esforço. Foi um sábado que não foi sábado, mas, afinal, não sei ao certo o que faz um sábado.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Desafio: as minhas 27 coisas

Eu já recusei e tal um desafio que andou a ocupar as cabeças do pessoal que eu sigo durante um mês, mas este pareceu-me rápido e simples — será? —, assim que, porque não?
Vejamos no que dá.

A coisa mais importante da minha vida: (ok, adeus rápido e simples) ... hmm... as pessoas são importantes, muito importantes, e no entanto, dou por mim pensando se queria viver uma vida onde não tivesse esta racionalidade inata e aguçada que me permite pensar sobre as coisas, escrever, sonhar, olhar o mundo com olhos de ver... pronto, estou a divagar. Eu tenho — felizmente — essa racionalidade, então, sei, a coisa mais importante são as pessoas, família, amigos; a certeza de que não estou nunca sozinha, mesmo quando o esteja.

Três coisas que não esperava fazer este ano: uma sessão fotográfica onde fingisse de morta; ter apanhado uma bebedeira valente na minha viagem de finalistas; ter de ir a Lisboa por causa de uma menção honrosa num concurso de escrita a nível nacional.

Três pessoas importantes para ti: (só três?) a minha mãe, a minha irmã e a minha BF Dulcineia (sorry prima).

Cinco coisas que esperava fazer este ano e não fiz: acabar o "Solstício"; aprender a cozinhar; conseguir uma resposta afirmativa por parte das editoras; manter contacto durante o Verão com o pessoal do liceu; colocar o meu livro no Bubok (está para breve. acho.)

Cinco coisas que quero fazer em breve: colocar o livro no Bubok; entrar na Universidade; ler todos os livros da minha lista do Goodreads; corrigir e mandar imprimir o resto dos meus livros acabados; não morrer de saudades do Algarve e das pessoas de cá quando, eventualmente, for para Aveiro.

Cinco coisas que já fiz e quero repetir: voluntariado; fazer sessões fotográficas; jogar voleibol na praia; fazer uma direita com a minha prima; sair com amigas até de manhã.

Cinco coisas que vou fazer um dia: publicar um livro; viajar (muito); ter carta e carro; trabalhar para mim própria; viver numa cidade.

Coerência, procura-se

Vamos tentar não adormecer em cima do teclado. Por favor?
As luzes magoam-me os olhos. Ainda não compreendi muito bem. Tenho sono mas não quero dormir. Talvez esteja cansada e pretenda que não. Há muitos dias que não escrevo.
Um bocadinho mais de coerência, talvez... se não for pedir muito.
Hmm, deixem lá isso. Isto depois de dormir pouco num sotão quente, passar umas horitas a fingir de morta, ser semi estrangulada, brincar com sangue falso com sabor a chocolate, ah, e carregar uma arma como se fosse uma boneca, não sobra muito de coerência.
Mas calma, eu não estou assssssim tão mal.
As coisas que se fazem numa sessão fotográfica... Não vou dizer mais nada. Brevemente perceberão a que me refiro.
Pronto eu não devia escrever disparates a esta hora da manhã (3:17 by the way), mas enfim. A cama ainda não me chama alto o suficiente.
Estou algures entre querer fechar os olhos e continuar com esta música. Hmm... estar sentada também já não é muito tentador, diga-se de passagem.
E qual é o problema das minhas paredes que cai tudo?
Certo e seguro, tu não te vais chatear hoje por causa de autocolantes em queda-livre.
Ok, já chega, Raquel. Não é por isto que alguém lê o que escreves.
Amanhã melhora. Prometo.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Yes Woman

Chego ao final do dia com um sorriso no rosto. Ao voltar da praia, pensava que aquele momento no campo de vólei me lembrava aquelas amizades de um dia, que fazia no Verão, quando era pequena, à beira-mar a construir piscinas e castelos. Foi algo agradável de recordar.
E o sorriso perdurou, como memória dourada dessa hora em que o mundo se fechou numa inocente bola saltando sobre a areia. Talvez devesse avisar a minha prima, que não achou tanta piada como eu, a moderar os comentários.
Há pessoas que não entendem que não há nada de errado em sermos simpáticos e sociais. Há pessoas que não entendem que não tem de haver segundas intenções quando um estranho se dirige a nós.
Às vezes, se formos mais nós próprios e dissermos que sim, podemos, futuramente, não vir a ganhar nada mais do que uma memória de rostos desfocados. Mas, presentemente, podemos sorrir e dizer "valeu a pena".

domingo, 8 de agosto de 2010

Balada para vós, seres de papel

Tem um gosto agradável quando alguém dá por falta de ler isto. Mas juntem à equação pais de férias, mais família cá e ainda uma dose considerável de preguiça — muito bem justificada — e vão compreender a minha ausência.
Apetece-me... ser poética.
Mas oiço uma porta e percebo que provavelmente não vou ter tempo. Outra porta e confirmo que tenho razão. São oito e meia em ponto, compreendam.
Espero que a inspiração não fuja na pausa para jantar...

Esbarro contra as 50 mil palavras de um livro sem meio e fim. Preciso de uma viagem, de carro ou barco. Preciso do isolamento de um dia na ilha. Preciso de um longo momento para pensar. Os fios jazem todos nas minhas mãos, colados à ideia do resultado, mas esta é vaga e não conta cada gesto, cada cruzamento, cada passo na construção da teia. Há quem ache que o mais complicado é escrever os diálogos. Eu voto na acção. As falas vêm com a naturalidade das personagens que ganharam vida, mas cada movimento tem de ser pensado no seio de um quarto cuja imagem muda se for puxado o fio errado. Quero uma imagem precisa e real. Mas vou fechar nas 50 mil por hoje e agarrar-me a um livro acabado.
Isto de contar histórias tem por certo mais piada quando elas se contam sozinhas, quando não sabemos o que acontecer a seguir, até chegarmos lá. Quebrei muitas metas e pus de lado outros objectivos para me agarrar a estas vidas que cresceram tão repentinamente que não posso recordar há quão pouco tempo foi. E 50 mil depois ainda vou apresentado personagens de um rol que sempre aumenta, e cada uma arrasta uma história dentro da história, e eu já não sei o que veio de mim e o que veio delas. Depois oiço esta música de lembro-me delas como se fossem gente. Às vezes incluso choro como se fossem gente. Como se fosse verdade, o realismo engole-me e perco-me na incerteza de elas serem o meu sonho, ou eu ser o sonho delas. Construo assim castelos sobre areia, num mundo que é este, afinal de contas. Porque há algo de muito humano, tão humano que me faz sorrir e chorar, sentir culpa e pena, lutar com elas pelo felizes para sempre. Porque há algo de tão humano que me transcende, e às vezes deliro que falo com elas, que as tenho comigo nesta inóspita solidão. Quero dar-lhes a mão e trazê-las para este mundo. E a pouco e pouco, palavra a palavra, elas transladam-se com toda a sua vida, emoções, histórias, e eu somente lhes dou os meus dedos, para caminharem com amparo no solo que eu própria acidentei, sem saber o futuro, como também eu não o sei. E por ser assim, parece tão real, tão certo e seguro, que apaixona escrever.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Where oceans bleed into the sky

Posso repetir-me. Fazer copy-paste e já está. Mas a graça da vida está em reinventá-la. Não sei porquê, isto lembra-me a minha professora de Português... E, bem, suponho que essa "teoria da reinvenção" se aplique também à escrita. De certeza que sim.
Mas dou por mim sem palavras, cansada ao final de um dia literalmente salgado, com o peso do Sol sobre os ombros, e o refrão desta música que me perseguiu todo o dia a ecoar-me ainda na cabeça. E um único verso que magicamente conservava a essência do meu dia.

Where oceans bleed into the sky

Penso... no horizonte. No sem fim de possibilidades. Na infinidade de olhares que o fitaram, cheios das mesmas e distintas dúvidas, perguntas eternas, esperanças que vacilam como a maré, sonhos que lutam por se manter à superfície.
Penso... como não há uma verdadeira linha a separar o que quer que seja neste mundo. Tudo se mistura, tudo se funde, tudo sangra e se dilui. Tudo sobrevive, nalgum sítio, nalgum lugar. Um memória distante passada de geração em geração.
Penso... que poderíamos inverter os oceanos e o céu. Poderíamos inverter muita coisa neste mundo. Deveríamos fazê-lo. Deveríamos realmente fazê-lo...

God bless us everyone
We're a broken people living under loaded gun

Linkin Park - The Catalyst

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Um Verão assim

Gosto do Verão assim:
Um pequeno barco na ria de Faro. O vento a bater-me no rosto, sentada na proa. As ondas salgadas a roçarem-me os pés. O areal suave, salpicado de conchas, de uma praia quase deserta lá bem no final da ilha. O panorama da cidade, destacado frente às silhuetas dos montes longínquos. Imagem capturada pela objectiva da câmara, há dois anos. Desde então, longe deste olhar. Oferecia-vos uma fotografia, mas não tenho o disco externo comigo...
Sim, este é o Verão que adoro. Não as praias de Quarteira, repletas de gente, que aparecem nos noticiários televisivos. Não, este, sim, é o Algarve que eu gosto. É assim a praia que eu gosto. O reflexo do Sol nas águas da ria. Uma pedra saltando na superfície vítrea. As minhas mãos enterrando-se na areia. A minha irmã gritando: vamos para aquela ilha! Um mergulho de uma hora, um passeio à beira mar.
Gosto do Verão assim.