No ar que ela respira, um milhão de partículas de cor, infinitos pedaços de vida, como fragmentos invisíveis de um espelho quebrado, soprados pelo vento, levando consigo essa parte ínfima e singular que pertencia ao grande retrato do mundo, trazendo até ela uma palavra da história contada nas milhares de páginas do inacabado livro da vida, um pouco do verde da esperança que vibra na natureza como um beijo sobre cada folha; um pouco do azul da tranquilidade que nos cerca, que reveste essa abóbada de infinito sobre as nossas cabeças e que com um sopro de cor brilha na superfície translúcida do mar, da beira orlada de espuma aos nossos pés até ao horizonte longínquo; um pouco também do vermelho quente, essa chama acesa revestia por um desejo sublime, paixão carnal líquida que lhe corre nas veias como fogo que não queima mas aquece; mais o amarelo da luz, o brilho da alegria de um sorriso, que se converte em notas musicais com o timbre de gargalhadas cintilantes, como raios de sol que são a essência da vida; e mais todas as variações dessas cores: o rosa do seu amor, o laranja da sua alma, o roxo da sua energia; e os pólos do mundo, a dualidade mágica que rege a vida, o equilibro entre a paz alva do seu ser e os seus mistérios obscuros, o sonho e o pesadelo, o amor e o ódio, um sussurro e um grito, a vida e a morte, o branco e o preto – e tudo isso se conjuga nessa partícula, que como a luz que reúne o arco-íris, guarda toda a essência do mundo apenas num fragmento do seu retrato, abençoado pelos elementos: nascido na terra, aquecido pelo fogo, arrefecido pela água, transportado pelo ar, até que ela o respira, e passa a fazer parte dele.
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