terça-feira, 11 de agosto de 2009

Entre o Sol e a Lua

Eu tenho de escrever algo. Tenho de deixar algo aqui todos os dias. Uma parte de mim de entre as milhares que posso doar, que posso emprestar, que continuará todavia a ser minha.
Estava a pensar no Sol e na Lua. Na luz de ambos, a verdadeira e a falsa, mas, de qualquer forma, igualmente reais para nós. Neste ciclo interminável que também somos nós. Como ondas de um mar que vai e vem, do romper do dia, ao cair da noite e em todas essas horas de vazia escuridão. Uma vida ele é. A nossa vida. Crescendo nos seus braços orlados de espuma com o brilho da inocência. Aspirando a mais e então cruzando os oceanos em busca de um horizonte que nunca se alcança. E adormecendo por fim, nos negros confins das suas águas profundas. O Sol que se põe e a luz que dá lugar à escuridão.
Esta perfeição sem palavras, o ciclo contínuo que ninguém quebra, que existiu e existirá. Terá sempre existido? Há quando tempo o Sol e a Lua cruzam os céus numa perseguição que nunca termina, mesmo quando, aos nossos olhos, eles se sobrepõem? Não é uma questão religiosa, é uma questão nossa, plenamente humana, que nada tem de divino. E os astros ascendem na abobada celeste há tanto tempo quanto nós, cá em baixo, fazemos perguntas para as quais não temos – e provavelmente jamais teremos – resposta.
Não importa realmente. Não importa se sempre foi assim ou se sempre o será. Não importa porque temos a ingrata certeza de que amanhã não mudará. E mais: enquanto formos vivos, é cedo demais para mudar. Um dia, alguém discordará disso, se essa eternidade astral não for assim tão eterna, apenas com a duração da vida de um mundo. O nosso mundo. É certo que não viveríamos sem Sol, chama que nos aquece e beija de paixão o nosso caminho íngreme por uma estrada desconhecida. Mas o nosso mundo, a nossa Terra, seria a mesma Terra sem a Lua? Acredito que não. E não me refiro à magia que se perde como caldeirão de poção irremediavelmente entornado. Não. O vai e vem do mar em que navegamos como conchas perdidas à deriva, o vai vem das ondas que nos embalam e nos arrastam, que nos afagam e nos sufocam, que dão vida e dão morte, é ela, é a Lua que comanda. Sem ela, nada seria igual. O mar pararia. E as nossas vidas sucumbiriam à plácida monotonia de um espelho de reflexo parado, ora ofuscante demais para o fitarmos, ora tão negro como um buraco que ameaça nos engolir.
E nós, pérolas sem brilho, afundadas e enterradas nas areias do fundo do mar.

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