Nós nunca somos o que dizemos. E muitas vezes, quase sempre, infelizmente, não somos o que fazemos. Dou por escutando a minha voz dissolvendo-se no ar, e pergunto-me: fui isso que disse isto, desta forma, com esta voz irreconhecível? E fui, lamentavelmente fui. E, meio segundo depois de ter dito as palavras, já estou arrependida. Por não gostar - odiar - a forma como a minha voz soa; por saber que não é verdade, que não é sentido, ou que é desnecessário, fútil, vazio. Porque muitas vezes o que dizemos, e fazemos, é assim: desnecessário, fútil e vazio. Uma mentira. Ou melhor, uma farsa. Tentemos ser reais e veremos que nunca conseguimos dar 100% de nós mesmos. Sinceridade absoluta é algo que, por vezes, nem sequer existe nos nossos próprios pensamentos. Como gostamos de nos enganar, de tapar os nossos próprios olhos. Talvez seja bom ser-se cego dessa forma: ver somente o que queremos e como queremos. No fundo, tudo o que vemos já está, à partida, condicionado pelos nossos olhos, como óculos que moldamos à nossa personalidade, à nossa razão. (O que se aprende nas aulas de Filosofia) O que nós fazemos, é simplesmente tornar esses óculos muito escuros, extremamente embaciados. Tanto que, ao deixar de ter noção exacta do que os outros fazem, deixamos também de ter noção do que nós fazemos. E do dizemos. Talvez então nós nunca sejamos o que dizemos/fazemos, unicamente porque nós sabemos que somos...
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