segunda-feira, 4 de maio de 2009

Na linha que separa os sonhos dos pesadelos

Dizem que o mundo é feito de pólos: o bem e o mal, positivo e negativo, Céu e Inferno, anjos e demónios, sonhos e pesadelos. Ou estamos de um lado, ou estamos do outro. Podemos oscilar de um lado para o outro, ao longo da nossa vida, mas, obrigatoriamente, estamos de um dos lados, não interessa qual. Mas, e se não fosse sempre assim? E se eu não for assim? Se não houver bem ou mal em mim; e se houver as duas coisas; ou se eu não tiver nenhuma delas? Se simplesmente não encaixar em nenhum dos pólos, por qualquer defeito de nascença viver à parte dessa realidades opostas; boa demais para o Inferno, má demais para o Céu? Se para além de não ter lugar marcado no meu pequeno mundo, não ter lugar no Mundo? Não me surpreendia. Há muito tempo que me tenho vindo a debater silenciosa e secretamente sobre a possibilidade de viver num universo completamente diferente do do resto da Humanidade. E esse universo arrasta a minha vida para um nada, um vazio entre mundos, demasiado perfeito para ser mau, ilusório demais para chegar efectivamente a ser bom. A linha que separa os sonhos dos pesadelos.
Neste momento, a linha balouça para o lado dos pesadelos: as minhas mãos tocam as chamas, os meus olhos não vêm mais do que escuridão, as lágrimas correm, geladas, pelo meu rosto; os fantasmas riem-se à minha volta, seus olhos negros, chispando, presos naquela criança pequena e assustada, que começara o dia com um tímido sorriso, e que acabara desejando poder fugir da noite, das sombras aterradoras dos seus pensamentos acutilantes, do horror das suas memórias inofensivas, passivas, mortíferas.
Na linha que separa os sonhos dos pesadelos, não se é infeliz, mas também não se é feliz. Na linha que separa os sonhos dos pesadelos, não se morre, mas também não se vive.

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