No limiar das suas forças, ela arranjava energia para chorar. Os olhos custavam a abrir, receando ver as cores apagadas do mundo, desbotadas de lágrimas. Queria escrever, mas os pensamentos haviam-se afogado, imersos num mar de emoções, presos pela rede do cansaço. A música martelava-lhe os ouvidos, a garganta doía, os dedos detinham-se a cada palavra, esperando a ordem da sua mente esgotada, que desejava somente viver para aquele momento, mas que se perdera até lá chegar. Foram horas demasiado longas, vozes demasiado altas e confusas, risos demasiados incompreensíveis. E estivera muito frio. As folhas revolteavam pelo ar, atraído olhares perplexos, sonhando com o céu azul, mas acabando por cair novamente, para serem pisadas e desfeitas por aqueles que já as haviam olhado deslumbrados. Era um pouco como a vida: sobe-se, cai-se, quebra-se. E tudo deixa de fazer sentido tão rapidamente, que nos perguntamos para que serviu tanto esforço. Eu pensava que sabia… Já nem sei. A vontade de fazer algo não é suficiente quando o mundo nos arrasta na direcção contrária; quando chegamos ao momento de soltar a inspiração e caem lágrimas; quando imaginamos somente o vazio de uma cama, o silêncio de uma noite. É demasiado para um coração tão frágil, para uma mente tão sensível. Pois quem pensa que tudo passa ao lado, engana-se. Mesmo quem não vê, olha; mesmo que nem não escuta, ouve. E na inconsciência, tudo fica, nada se esquece.
No limiar das suas forças, ela arranjava energia para lutar, para travar as lágrimas e continuar. Porque se não fosse aquele momento, ao final do dia, ela não teria coragem para abrir os olhos todas as manhãs.
No limiar das suas forças, ela arranjava energia para lutar, para travar as lágrimas e continuar. Porque se não fosse aquele momento, ao final do dia, ela não teria coragem para abrir os olhos todas as manhãs.
24-Novembro-2008
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