quarta-feira, 13 de maio de 2009

O tempo passa, tudo muda, e tudo permanece: igual nuns dias, diferente noutros

No limiar das suas forças, ela arranjava energia para chorar. Os olhos custavam a abrir, receando ver as cores apagadas do mundo, desbotadas de lágrimas. Queria escrever, mas os pensamentos haviam-se afogado, imersos num mar de emoções, presos pela rede do cansaço. A música martelava-lhe os ouvidos, a garganta doía, os dedos detinham-se a cada palavra, esperando a ordem da sua mente esgotada, que desejava somente viver para aquele momento, mas que se perdera até lá chegar. Foram horas demasiado longas, vozes demasiado altas e confusas, risos demasiados incompreensíveis. E estivera muito frio. As folhas revolteavam pelo ar, atraído olhares perplexos, sonhando com o céu azul, mas acabando por cair novamente, para serem pisadas e desfeitas por aqueles que já as haviam olhado deslumbrados. Era um pouco como a vida: sobe-se, cai-se, quebra-se. E tudo deixa de fazer sentido tão rapidamente, que nos perguntamos para que serviu tanto esforço. Eu pensava que sabia… Já nem sei. A vontade de fazer algo não é suficiente quando o mundo nos arrasta na direcção contrária; quando chegamos ao momento de soltar a inspiração e caem lágrimas; quando imaginamos somente o vazio de uma cama, o silêncio de uma noite. É demasiado para um coração tão frágil, para uma mente tão sensível. Pois quem pensa que tudo passa ao lado, engana-se. Mesmo quem não vê, olha; mesmo que nem não escuta, ouve. E na inconsciência, tudo fica, nada se esquece.
No limiar das suas forças, ela arranjava energia para lutar, para travar as lágrimas e continuar. Porque se não fosse aquele momento, ao final do dia, ela não teria coragem para abrir os olhos todas as manhãs.
24-Novembro-2008

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