sexta-feira, 29 de maio de 2009

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Uma História de Saber

Sabes que não sabes. E sabes que não queres saber.
Olhos de longas pestanas negras que fitam o mundo com a indolência bêbeda dos movimentos que espiralam a diferentes ritmos em seu redor. Palavras incoerentes murmuradas sob o manto do secretismo, loucas de desejos infantis, que balbuciam na monotonia agitada da voz que se repete sobre todas as outras. Um riso abafado de exagero desrespeitoso, a par com um bocejo mal disfarçado por um Baco lânguida que já nada diz.
Era uma história. Uma história comprida, complexa, com muitas personagens e muitas reviravoltas, mas ainda assim uma história. Costumava-mos gostar de histórias… Por alguma razão, não queremos ouvir esta que, no fundo, é a nossa história. Talvez seja porque não tem um final feliz… não tem fim de todo. É História…
Sabes que não sabes. E sabes que nunca vais saber.
Os teus passos seguem tal caminho. O chão que pisas é novo a cada segundo, mas o trilho começa muito antes de tu nascerem, de teres caído a meio do percurso, com a ordem incontestável de seguir em frente. Não se volta para trás. Mas podes desequilibrar-te e sair do caminho. E é o fim.
Sabes que sabes que não sabes…

quarta-feira, 27 de maio de 2009

São apenas flores de plástico...

... Sonhando serem olhadas como Flores Verdadeiras...

Como há muitas pessoas de plástico neste mundo...!

terça-feira, 26 de maio de 2009

E depois quem diz a verdade é o mal visto

Não sei ao certo por onde começar. Sei que isto não foi um sonho, mas também não foi nenhum pesadelo. É a vida, crua e nua. São as pessoas, na sua natureza mais vil. E as pessoas não prestam.
Está dito. Ponto.
Penso em alguém – vários alguéns – em concreto, mas, lamentavelmente, isto aplica-se a todo mundo. Talvez até a mim, sim, certamente a mim – às vezes.
É estúpido como somos capazes de permanecer calados muitas vezes. Como conseguimos engolir as palavras. Eu ainda engoli algumas. Digo e repito: eu sou demasiado boa (de extremos: preto ou branco). Silencio para não magoar os outros. Porque quando é para ser má…
De qualquer forma, há coisas que não suporto. Talvez devesse ter-me calado também naquele dia, mas porquê? Não faz parte da minha natureza encobrir mentiras. Pode ter sido uma vingançazinha infantil, mas eu prefiro acreditar que não. Há coisas que não se fazem e eu já estava indignada muito antes dela se ter plantado à porta da sala depois de ter pedido para sair 20 minutos (20, não 5 como dizia hoje!) mais cedo para supostamente apanhar um autocarro – e bastariam esses 5. Teve azar de ter sido eu a vê-la. E eu tive azar porque fui que, que num comentário pouco discreto, a denunciei. E no final, quem agiu incorrectamente? Eu, dizem. De quem será a culpa se o professor não voltar a deixar sair mais cedo? Minha, claro. E esses mesmos que criticam e apontam o dedo são aqueles que se vêm colar a mim quando há algum trabalho para fazer. Porquê? Porque a excelente nota dá-lhes imenso jeito. Para mim, só há um nome para isto: oportunismo. E este foi só um exemplo.
Ao que parece, hoje foi um óptimo dia para revelar o carácter das pessoas. Podia também falar do teste que roubaram à professora de Português enquanto esta se debatia com o problema de ter pago o bilhete para o teatro de alunos que decidiram que já não valia perder tempo a ir, mas não vale a pena. E sinceramente, já não me surpreende. Todos os que nos rodeiam parecem ter o dom inato de, mais tarde ou mais cedo, nos desiludirem. Talvez seja essa a fraqueza do seu humano… Ou o problema se chame mesmo egoísmo.
Não me chamo de santa, mas há limites para tudo, não? Eu gostava de acreditar que sim.

Fúria


segunda-feira, 25 de maio de 2009

Vamos falar sobre algo...

Vamos falar sobre algo. E que tal: eu não tenho nada para falar? Mentira =D
Hoje, o meu dia não correu exactamente como estava previsto. (E não é sempre assim?) O estranho é que costuma acontecer precisamente o contrário do que aconteceu.
Já vos aconteceu estarem extraordinariamente bem-dispostos, quer tenham acordado assim, quer tenha sido algo que vos pôs felizes, e então vem algum «parasita inconveniente» e estraga tudo? Pois, eu não acordei bem disposta, bem pelo contrário. Deitara-me tarde, acordara cedo - isso bastava para não estar muito bem. Tinha Educação Física à primeira hora (dança - que enjoo) e teste de inglês à última (das 16 às 18 - que tédio).
É engraçado como as coisas mudam... O teste correu-me muito bem (fiz uma composição muito bonita, a meu ver - vamos ver se isso se reflecte na nota) e a E.F, bem, depois da dança (que foi má, mas suportável - podia ser bem pior dado os antecedentes), tive a compensação de jogar um bocado de vólei. E como até tive Filosofia hoje (uma hora a jogar ao Stop porque o professor decidiu que não ia dar mais matéria para o teste e eu não queria de todo estudar) vamos lá à moral da história: as circunstâncias mudam, não podemos fazer juízos precipitados, etc, etc, etc. (É verdade, eu tencionava passar muito tempo a escrever no iPod e mal lhe toquei, embora tenha tido um furo de 4h e 45') De qualquer forma, não sou muito dada a moralidades. Mas tinha de arranjar alguma coisa para falar. O meu dia pareceu-me interessante: hora e meia aos pulinhos, planos para saídas (que prevejo serem alteradas mais umas 100x até sábado), ver um filme (e apanhar falta a uma substituição que nem sabia haver), ouvir histórias de bebedeiras de colegas que se revelaram veteranas em cenas, jogar ao Stop, e a coisa mais séria que fiz hoje: teste de Inglês. Um dia perfeito na vida de uma estudante.
Querem contar-me o vosso?

sábado, 23 de maio de 2009

Como viver cada dia?


Esquecera-me desta bela obra em que o homem esculpira a Natureza de acordo com a sua natureza: um ser com duas faces, uma triste e uma alegre. Dessa mesma raiz surge tão grande antagonismo. E essa planta que ganhou rosto olhar para nós da mesma forma que nós olhamos para ela: uma vezes sorrindo, admirando a beleza por detrás do espinhos - e então ela também nos sorri - e outras lamentando, pensando em como é inútil, em como fere - e então ela olha-nos como se pudesse chorar. E assim, nessa dualidade tão humana, vivemos cada objecto, cada ser, cada sentimento, cada momento. E qual das duas faces é a nossa? Depende de cada dia...

P.S. Tenho de ir ver se esta planta ainda lá está, triste ou feliz, feliz e triste! Tal como nós...
(Ao meu avô devo esta brincadeira. É uma pessoa espectacular, e só com uma face. Adivinha qual! ;)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Pensar que um dia dissemos "Para Sempre"...

É sabido de todo o mundo que nunca podemos dar nada como certo na vida. Nada se controla realmente, nada depende exclusivamente de nós. Mas continuamos a pensar que há certas coisas que estão nas nossas mãos. E há. Mas o que nós fazemos com as nossas mãos também não é controlado somente por nós e o que sentimos, o que dizemos, de coração, muda à revelia dos nossos desejos.
Falo de relações entre pessoas. Que mistério é esse que as coisas nunca acontecem conforme queremos. É típico desejar algo e, quando o temos, já não nos interessa. É vulgar até com pessoas, mas não neste caso. A questão aqui é mais pensar que tínhamos aquele sentimento - amizade, cumplicidade - dado como certo - "para sempre" dissemos - e então, graças a uma estupidez qualquer, acabou. Talvez o problema seja nunca conhecemos realmente uma pessoa. Desilusões acontecem... Eu percebi que me é muito fácil deixar as pessoas partir - porventura, porque nunca me ligo demasiado a elas, ou porque agarro muito bem as poucas que são mesmo, mesmo importantes. Mas é estranho olhar para trás e ver como era... Aquelas fotografias tão bonitas de amigas que agora se cruzam e não se cumprimentam... e nunca sequer se chegaram a chatear. É triste. Não posso dizer que sinta saudade, apenas que é triste olhar para o presente e pensar que um dia dissemos "Para Sempre"...

terça-feira, 19 de maio de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Palavras que nos beijam

O silêncio não dói. O silêncio não magoa, mas o silêncio também não nos acaricia os sentidos. O silêncio não é nada: vazio que não se sente. O silêncio é ausência de sentimentos, nem bem, nem mal: nem amor, nem ódio. O silêncio não nos diz nada, então o silêncio não nos mata, nem nos ajuda a viver. O silêncio é o contrário das palavras. Elas, sim, são as rosas e são os punhais. Elas não o negro, o sangue, mas o amarelo e a esperança. Elas são tudo o que podemos ser, o que podemos dizer; elas são tudo o que sentimos, e mandam em tudo o que sentimos. Ordenam sorrisos tímidos, risos histéricos, expressões sérias, lágrimas dolorosas. Ditam o princípio e o fim: a vida e a morte. São as armas mais perigosas, porque comandam as mais perigosas armas. Podem ser cruéis, frias, mortíferas. Mas também há palavras que nos beijam...
Tu conheces essas palavras, todos conhecem essas palavras. São pequeninas, simples, bonitas; são cor-de-rosa e brancas, são brilhantes e suaves e escorregam pelos lábios fazendo cócegas. São tão fáceis de dizer - não custam nada! - mas todos, todos têm medo de as dizer. Engolem-nas, aprisionam-nas, esquecem-se que elas existem: esquecem-se que há alguém que precisa delas, ouvidos ansiosos por um elogio, lábios aguardando o momento certo para presentear alguém com um sorriso de agradecimento, acompanhando por um rubor adorável nas faces mais tímidas. Valem tanto para quem as escuta... ou talvez seja só para mim. Há quem as ignora, não lhes dá importância, de tão comuns que são, mas, claro, depois há quem as anseia: alguém para quem têm verdadeiramente significado; alguém que precisa delas e não as tem nunca. Palavras que nos beijam...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O tempo passa, tudo muda, e tudo permanece: igual nuns dias, diferente noutros

No limiar das suas forças, ela arranjava energia para chorar. Os olhos custavam a abrir, receando ver as cores apagadas do mundo, desbotadas de lágrimas. Queria escrever, mas os pensamentos haviam-se afogado, imersos num mar de emoções, presos pela rede do cansaço. A música martelava-lhe os ouvidos, a garganta doía, os dedos detinham-se a cada palavra, esperando a ordem da sua mente esgotada, que desejava somente viver para aquele momento, mas que se perdera até lá chegar. Foram horas demasiado longas, vozes demasiado altas e confusas, risos demasiados incompreensíveis. E estivera muito frio. As folhas revolteavam pelo ar, atraído olhares perplexos, sonhando com o céu azul, mas acabando por cair novamente, para serem pisadas e desfeitas por aqueles que já as haviam olhado deslumbrados. Era um pouco como a vida: sobe-se, cai-se, quebra-se. E tudo deixa de fazer sentido tão rapidamente, que nos perguntamos para que serviu tanto esforço. Eu pensava que sabia… Já nem sei. A vontade de fazer algo não é suficiente quando o mundo nos arrasta na direcção contrária; quando chegamos ao momento de soltar a inspiração e caem lágrimas; quando imaginamos somente o vazio de uma cama, o silêncio de uma noite. É demasiado para um coração tão frágil, para uma mente tão sensível. Pois quem pensa que tudo passa ao lado, engana-se. Mesmo quem não vê, olha; mesmo que nem não escuta, ouve. E na inconsciência, tudo fica, nada se esquece.
No limiar das suas forças, ela arranjava energia para lutar, para travar as lágrimas e continuar. Porque se não fosse aquele momento, ao final do dia, ela não teria coragem para abrir os olhos todas as manhãs.
24-Novembro-2008

segunda-feira, 11 de maio de 2009

domingo, 10 de maio de 2009

De Realidade a Sonho

Sim, eu não me enganei a escrever o título. O habitual para a maioria das pessoas seria sonhar algo e tão, se tivesse realmente muita sorte, vê-lo tornar-se realidade - ou então, passar o resto da vida desejando-o. Eu também costumo funcionar assim. Mas há noites em que as coisas se passar ligeiramente ao contrário e torna-se muito difícil perceber em que momento a realidade se transforma num sonho - e quando dito sonho, eu refiro-me mesmo a sonhos, daqueles que temos quando estamos a dormir. É como se a nossa cabeça saltasse o momento em que caí na almofada e continuasse a agir tal qual faria se não houvesse aquela pausa, aquele fim: por esta noite já chega, vamos dormir. Eu queria continuar lá, dançando toda a noite, aproveitando, aproveitando, aproveitando, cada minuto, cada segundo, sorrindo, rindo, rindo, desmanchando-me a rir, cambaleando o suficiente para não andar direita, mas perfeitamente capaz de dançar, dançar, dançar sem parar, naquele ritmo contagiante, como talvez nunca havia conhecido. Mas isso acabou. Eu voltei para casa e adormeci. Então voltei lá, em sonhos, para continuar a dançar noite fora, para me esquecer da minha mãe e deixá-la meia hora à espera, à porta discoteca, para que ela entrasse para me vir buscar, e então para ficar ainda mais uns minutos, dançando, dançando. É claro que eu não faria isso na realidade, mas naquele sonho, essa era a minha consciência de realidade, porque estava muito próximo dela. Daí eu ter ficado tão preocupada... Foi no mínimo estranho, mas não inédito. Como o tempo acordada não fora o suficiente, eu vivi o resto sonhando.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Eu e tu ou tu e eu?

O que é que preferes?

1. - O nascer do Sol ou o pôr-do-Sol?
R: O pôr-do-Sol

2. - A Lua em quarto crescente ou em quarto minguante?
R: Em quarto minguante

3. - O Sol ou a Lua?
R: A Lua

4. - O meio-dia ou a meia-noite?
R: A meia-noite

5. - A terra ou o mar?
R: O mar

6. - Os animais ou as plantas?
R: As plantas

7. - Os rapazes ou as raparigas?
R: As raparigas

8. - O sim ou o não?
R: O sim

9. - A esquerda ou a direita?
R: A direita

10. - Tudo ou nada?
R: Tudo

11. - Adormecer ou acordar?
R: Adormecer

12. - Ler ou escrever?
R: Escrever

13. - Um olhar ou um sorriso?
R: Um olhar

14. - Um beijo ou um abraço?
R: Um abraço

15. - Uma borboleta ou uma flor?
R: Uma borboleta

16. - Um coração ou uma estrela?
R: Um coração

17. - O som ou o silêncio?
R: O silêncio

18. - A luz ou a escuridão?
R: A escuridão

19. - Uma canção ou um poema?
R: Uma canção

20. - Um familiar ou um amigo?
R: Os familiares também são amigos

terça-feira, 5 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Na linha que separa os sonhos dos pesadelos

Dizem que o mundo é feito de pólos: o bem e o mal, positivo e negativo, Céu e Inferno, anjos e demónios, sonhos e pesadelos. Ou estamos de um lado, ou estamos do outro. Podemos oscilar de um lado para o outro, ao longo da nossa vida, mas, obrigatoriamente, estamos de um dos lados, não interessa qual. Mas, e se não fosse sempre assim? E se eu não for assim? Se não houver bem ou mal em mim; e se houver as duas coisas; ou se eu não tiver nenhuma delas? Se simplesmente não encaixar em nenhum dos pólos, por qualquer defeito de nascença viver à parte dessa realidades opostas; boa demais para o Inferno, má demais para o Céu? Se para além de não ter lugar marcado no meu pequeno mundo, não ter lugar no Mundo? Não me surpreendia. Há muito tempo que me tenho vindo a debater silenciosa e secretamente sobre a possibilidade de viver num universo completamente diferente do do resto da Humanidade. E esse universo arrasta a minha vida para um nada, um vazio entre mundos, demasiado perfeito para ser mau, ilusório demais para chegar efectivamente a ser bom. A linha que separa os sonhos dos pesadelos.
Neste momento, a linha balouça para o lado dos pesadelos: as minhas mãos tocam as chamas, os meus olhos não vêm mais do que escuridão, as lágrimas correm, geladas, pelo meu rosto; os fantasmas riem-se à minha volta, seus olhos negros, chispando, presos naquela criança pequena e assustada, que começara o dia com um tímido sorriso, e que acabara desejando poder fugir da noite, das sombras aterradoras dos seus pensamentos acutilantes, do horror das suas memórias inofensivas, passivas, mortíferas.
Na linha que separa os sonhos dos pesadelos, não se é infeliz, mas também não se é feliz. Na linha que separa os sonhos dos pesadelos, não se morre, mas também não se vive.

domingo, 3 de maio de 2009

sábado, 2 de maio de 2009

Uma Mentira Subtil

Nós nunca somos o que dizemos. E muitas vezes, quase sempre, infelizmente, não somos o que fazemos. Dou por escutando a minha voz dissolvendo-se no ar, e pergunto-me: fui isso que disse isto, desta forma, com esta voz irreconhecível? E fui, lamentavelmente fui. E, meio segundo depois de ter dito as palavras, já estou arrependida. Por não gostar - odiar - a forma como a minha voz soa; por saber que não é verdade, que não é sentido, ou que é desnecessário, fútil, vazio. Porque muitas vezes o que dizemos, e fazemos, é assim: desnecessário, fútil e vazio. Uma mentira. Ou melhor, uma farsa. Tentemos ser reais e veremos que nunca conseguimos dar 100% de nós mesmos. Sinceridade absoluta é algo que, por vezes, nem sequer existe nos nossos próprios pensamentos. Como gostamos de nos enganar, de tapar os nossos próprios olhos. Talvez seja bom ser-se cego dessa forma: ver somente o que queremos e como queremos. No fundo, tudo o que vemos já está, à partida, condicionado pelos nossos olhos, como óculos que moldamos à nossa personalidade, à nossa razão. (O que se aprende nas aulas de Filosofia) O que nós fazemos, é simplesmente tornar esses óculos muito escuros, extremamente embaciados. Tanto que, ao deixar de ter noção exacta do que os outros fazem, deixamos também de ter noção do que nós fazemos. E do dizemos. Talvez então nós nunca sejamos o que dizemos/fazemos, unicamente porque nós sabemos que somos...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Albufeira


O mar faz-me bem. A Natureza faz-me bem. Acho o que o problema da humanidade é precisamente esse: demasiada humanidade e pouca Natureza. Muitos homens, muitas ruas, muitos prédios a perder de vista, ocultando o céu, carros sem fim, vozes sobre o vento, alcatrão sobre a terra, cimento sobre a vida. Há falta de verde, de azul, de uma brisa fresca com cheiro a mar. Do som das gaivotas - que lamentavelmente não consigo descrever. Das suas sombras ocultando-nos o Sol por efémeros momentos. Vida, liberdade. Elas têm o céu. Nós nem sequer temos a terra. As máquinas, o cimento conquistou-a em nosso lugar. Muito poderosos, senhores de si, no topo da cadeia alimentar, matando tudo abaixo deles porque, com a sua infalível tecnologia, podes criar tudo eles próprios... Vulneráveis, apesar de tudo, pequenos - minúsculos - no mundo. Frágeis como folhas ao vento. Destrutíveis como folha na água. Muito dizem e pouco fazem. E o que fazem não vale nada. Não tem o brilho, a beleza da Natureza. Não acalma, tranquiliza, relaxa. Não nos lava a alma, pelo contrário, intoxica-a. E então há aqueles casos raros em que a humanidade e a Natureza se conjugam, num equilíbrio precário e, ainda assim, naquele momento que o Sol resplandeciam no céu e as gaivotas cortavam o ar em direcção a terra, em que o barcos rasgava a água e os olhares silenciosos se prendiam no horizonte, num harmonia perfeita.


Esta tarde, o palco do meu sonho foi a Marina de Albufeira. As cores contrastantes dos edifícios gritando vida, como construções de Legos de uma criança; os barcos, alinhados, com os seus mastros ousando tocar o céu; a água, um espelho ora azul, ora negro, acolhendo diversos peixes, que sob a transparência miravam o mundo com um olhar completamente diferente; a brisa, suave, fresca, com cheiro, sabor a mar, tão agradável; o céu, azul, azul, sem nuvens, e as gaivotas, soberanas, cruzando-o de brancas asas abertas, também elas com um visão completamente diferente da nossa. Num palavra: pacífico. Homem e Natureza unidos como peças de um puzzle que encaixam uma na outra, complementando-se. E não é preciso dizer mais nada.