quinta-feira, 18 de março de 2010

Tentativa

Tentamos... sorrir.
A vida é um barco que navega ao sabor da corrente. Por vezes, encontramos águas mais agitadas; por vezes, inundamos. No fim, naufragamos, sempre.
Quanto tecido das tuas velas chegará a terra?
Tentamos... viver um dia de cada vez.
Não há, contudo, quem não olhe o futuro. Se a brisa se tornará vento e o barco virará. Se as ondas são demasiado fortes e o amanhã não chegará.
Tememos.
Tentamos, mas tememos.
Nenhum inventor jamais inventou binóculos que vissem na distância do tempo. Vencemos o espaço. Perdemo-nos no tempo. Há que esperar pelo futuro para o ver.
Há que viver.
Tentamos... tentar não olhar o amanhã.
Não olhamos. Mas imaginamos por tanto tempo quanto dura o hoje. Falhamos. Jamais prevemos todas as ondas, todas as brisas, todos os passos do mundo ao nosso encontro.
Seremos... barcos à deriva, até mais não.
Cantemos, então, enquanto temos vozes para furar a tempestade. Ouçamo-nos. Sejamos honestos e admitamos que estamos perdidos. Todos, sem rumo, num rumo que decidimos a cada instante.
Tentamos... e seguimos tentando.
Não há tentativa de sorte que detenha o azar quando este gira num furacão que arranca velas, destrói mastros e afoga sonhos. Mas há sonhos de azar que são ilusões de medo de furacões que destroem velas e arrancam mastros. Previsões? Um dia estarão todas certas.
Um dia, o mundo vai acabar. Um dia.
Tentamos... Tentemos então. O hoje. O agora. O momento. O sorriso. Não abandonemos a esperança de ser hoje o que não sabemos se poderemos ser amanhã.
Filosofias só servem para encher livros.
A verdade: ainda continuamos perdidos, à deriva, depois de milhares de árvores arrancadas e toneladas de papel impresso. Ainda continuamos sem saber. Talvez não devamos saber.
Tentemos... acreditar que não precisamos de saber.
Tentemos... ser felizes sem saber.
Tentemos... voltar o rosto para o Sol e não pensar na chuva.
Tentemos... dar voz à tentativa.
À tentativa de não desejar mudar mundos. Apenas aceitá-los.


Bruges, Bélgica

2 comentários:

catharà disse...

adorei.
adorei ler

"GOJTO"

Rafaela Neves disse...

andamos muito filosoficas;D