Como barcos à deriva, navegamos sem rumo, num rumo construído a cada instante. Sabemos que um dia naufragaremos, e seguimos aportando de ilha em ilha, chegando, partindo, arriscando, desejando a perfeição, ou a imperfeição mais perfeita. Não nos satisfazemos. "Parar é morrer." E "ser descontente é ser homem."
Sempre houve no mundo pessoas conformadas, barcos que param e não partem mais. Todos nós o fazemos, uma vez ou outra, porque acreditamos que não estamos assim tão mal aqui, por temer um recuo nas nossas vidas ao invés de um avanço. Mas, felizmente, seguem barcos partindo, e o mundo não pára. Porque são esses, que corajosos insatisfeitos, não se limitam a reclamações silenciosas, a protestos sem acção, e partem, descobrem, conquistam, evoluem, e mudam o mundo.
Fernando Pessoa, na "Mensagem", encoraja os portugueses a partir. "É a Hora." Há muitas horas que "é hora". Há muito tempo que estamos parados, então, mais do que nunca, devemos partir. Há toda uma sociedade mal estruturada, injusta, cega. Tantos barcos encalhados na mesma ilha! E não basta falar. Basta, sim, de ser inerte descontente, não gostar do que se vê e virar a cara. Cada um de nós pode ajudar, fazer mais por nós, fazendo-o pelos outros. Talvez assim possamos obter respostas, indicações, quando navegarmos novamente à deriva. Talvez assim alguém nos dê a mão quando nos estivermos a afundar.
Sabemos que nada podemos para salvar o mundo. Mas podemos salvar uma pessoa. Sabemos que somos descontentes e queremos mais. Ainda podemos salvar duas pessoas. Antes primeiro salvemo-nos a nós de tentar salvar o mundo. Ele não cabe nas nossas mãos. Sabemo-lo, por isso desistimos. Mas uma pessoa de cada vez cabe, sim, nas nossas mãos.
Tentemos!
(A composição do meu teste de Português, inspirada no outro texto escrito antes)
Imagem:
lady-dementia.
deviantart.com
(just too perfect for this!!)
P.S. Afinal ainda houve tempo.