terça-feira, 21 de abril de 2009

Ouro sobre azul


É tão certo com o calor do sol no meu rosto que há algo de errado aqui. Planos sob um céu azul para um dia que vai ser negro. Para mim.
Ouro sobre azul, só agora compreendo. Sol e céu, céu de Verão. Um brilho falso, de exuberância forçada, entre o que é realmente natural. Uma nuvem perdida, sozinha nessa vastidão. Não as há, eu não vejo nenhuma. Talvez não devesse olhar para o céu mas para um espelho. Mas tal como eu, todos. Ninguém a vê.
Uma promessa calada de que algo melhor estará para vir, é este dia. O prenúncio de um calor que não queima mas aquece; um delírio de sol a mais. Cheiro a Verão, e o que verão esses olhos posto no céu se não mais que essa vastidão infinita, até onde a imaginação pode alcançar, para lá da vista. Um sonho. Aquela madrugada de hoje, repetida anos e anos sem realmente ver: ouro sobre azul. Acordar com esse sol gentil no meu rosto, com esse brilho de esperança, pálido e intenso, forte e vulnerável. Foi perfeito nesse instante.
Agora é errado, muito forte. Queima. Encandeia. Personifica aquelas vozes, planeando; palavras tentadoras que não são para mim. A história da nuvem invisível esquecida nesse dia de sol. O brilho é demasiado intenso para a poderem ver, mas está lá. Esteve sempre, sempre lá.
Como ouro sobre azul, rico e privilegiado. Privilégio de todos nesse dia, excepto dos que preferiam a noite, mágica e singela, pois se a nuvem é obrigada a estar sozinha, antes na escuridão onde ninguém a pode ver, do que sob o brilho do sol num dia de céu azul, onde ninguém a quer ver.

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