segunda-feira, 20 de abril de 2009

Diário de um Sonho


O que faz sentido? A vida não faz certamente. As lágrimas não fazem definitivamente. A dor, a angústia, este nó na garganta que não deixa as palavras sair. Porquê? O que há de assim tão errado? Já vi vidas piores, e a minha é tão estupidamente perfeita, que me faz rir do quão ridículo é chorar. Mas não é. Nunca o é, porque afinal o espelho brilhante está partido, esquecido num canto escuro, reflectindo o vazio de memórias que nem lhe pertencem. Injustiça? Há tantas piores... E daí? Também ninguém vê as lágrimas. Estas lágrimas. Não fazem sentido, como tudo no mundo. E que mundo... Num universo tão grande, havia eu de ser confinada a este planeta minado de gente cega, surda e muda. A este poço de dor, outrora colorido, agora negro. Porquê? Ora, onde nada faz sentido, faria sentido existir uma resposta para esta pergunta?

Viver é uma lenda. Actualmente, a palavra correcta é sobreviver. Faz como podes, não há regras para este jogo e o objectivo é unicamente aguentar o máximo de dias possíveis. Eu não quero esta realidade. Eu não quero este mundo, que não é mundo. Ele não é natural, simples como deveria ser. É confuso, como um sonho. Distorcido do real, como um sonho. Não faz sentido, como um sonho. Por vezes, um pesadelo, tão difícil, tão cruel, que desejamos acordar, ou dormir profundamente para sempre. E no entanto, é e será sempre um sonho. Porque, bons ou maus, sonhos são sempre sonhos. E as palavras são os seus espelhos, o reflexo de um reflexo. Porque viver é sonhar, e sonhar, para mim, é escrever.

Então este será o Diário de um Sonho.

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