Não há nada de muito certo. As pessoas criam rotinas para depois desejarem conseguir quebrá-las, como se algemassem os seus pulsos pelo prazer de andar numa busca cega pela chave. No final, sempre a descobrem, mas por vezes a liberdade não é tão agradavél como se esperava. O medo do desconhecido é uma constante, é inato à natureza humana as pessoas sentirem-se mais à vontade com aquilo que lhes é familiar, daí caírem no comodismo, na rotina. Não falo disto por motivo nenhum em especial. Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando me deparei com a necessidade de escrever alguma coisa. É estranho como as coisas surgem do nada, como as palavras, os temas, surgem do vazio, de uma semente que ninguém plantou, tal como as que são trazidas pelo vento e se transformam naquelas belas flores que encontramos à beira de estrada. Por um acaso elas estão lá. Porque, talvez, devia ser assim. Elas não tiveram escolha, tal como nós. Nasceram num recanto deste infímo mundo, neste recanto, mas poderiam ter nascido noutro qualquer lugar. Não escolheram. Eu também não. E se pudesse escolher, definitivamente não teria escolhido nascer aqui. Apenas me é difícil perceber se isso tornaria a vida mais ou menos interessante. Mudaria tudo, talvez até mudasse quem eu sou e, certamente, mudaria estas palavras. Aliás, estas palavras poderiam nem existir. Mas escolher implica sempre algo melhor, então eu acredito que existiriam de certeza, embora, porventura, noutra língua. No entanto, essa escolha não existe e eu estou aqui por acaso. Escrevo isto por acaso. É tudo uma questão de sorte. E como me sinto sortuda por ter o privilégio de poder escrever isto. Porque poderia ser pior; porque, infelizmente, eu ainda poderia ter nascido num lugar onde ninguém me ensinasse a escrever - porque os há neste mundo. Talvez então devesse queixar-me menos. Mas isso - inconformismo - também é inato à natureza humana. Ambicionamos muito, e contudo, fazemos muito pouco para o alcançar. Eu não quero ser assim. Eu tenho sonhos para concretizar. E no entanto, sou humana...
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