segunda-feira, 20 de abril de 2009

Lagos, 19 de Abril 2009


Nada. De tudo o que sinto não sei nada. O vento no meu rosto e nada mais. Isto bastaria por muito tempo. Queria realmente lá ficar. Só, como sempre, mas daquela vez bem. Música nos ouvidos e cheiro a mar. Paz. Roubada a cada instante, e então ali. Prestes a ser arrastada para onde não queria, e extraordinariamente bem ali. Deseja ficar por mais tempo. Não queria ser eu a arrastar-me.
Não podia chorar, não conseguia. Não sentia nada, vazia, então não havia razões para a tristeza. Uma agradável e imenso vazio. Frio, sim, e delicioso como aquele arrepio da brisa roçando meu rosto. Devia ser sempre assim. Eu ficaria sempre assim. Desejava somente poder gravar aquela imagem permanentemente no meu olhar, e não veria escuridão ao fechar os olhos, mas aquele horizonte azul.

Agora foi-se. Levada novamente, presa por palavras que não queria dizer, por sorrisos de circunstância, tão forçados que doem. Fingir. Acabara-se a liberdade do vento, naquela sala fechada, onde quis apagar a visão e ouvir somente as notas do violino, por muito, muito tempo. Sem ninguém, sozinha. Sem me modelar, como pedaço de barro nas mãos da sociedade. Eu. Nada mais. Seria tão fácil. Simples. Natural. Como respirar. Mas antes sufocar. E em silêncio, sempre em silêncio.
E de tudo o que sentia, naquele instante de vento e mar, de música e solidão, não havia nada.
E então o mundo estava perfeito para mim.

Sem comentários: