quarta-feira, 29 de abril de 2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

Janelas & Portas

O que é que nós fazemos quando temos uma janela à nossa frente?
Espreitamos.
O que é que nós fazemos quando temos uma porta à nossa frente?
Abrimo-la.
E se a janela estiver fechada?
Espreitamos na mesma.
E se a porta estiver trancada?
Então nós também o estamos...

É certo para mim que não precisamos de ter uma porta para ter uma janela. O nosso mundo é cheio de janelas, pela quais espreitamos para o mundo em nosso redor, sem sair do nosso casulo. (A minha bolha.) A porta é dispensável. Também podemos sair pela janela, não é? Quando tivermos a certeza. Porque a janela tem um problema (dois, mas já vamos ao segundo): a partir de uma certa altura só dá para sair, torna-se impossível - demasiado alta - regressar, pelo menos, sem ajuda. Os nossos pés escorregam na parede, os dedos mal alcançam o parapeito. É um caminho com uma só direcção. Então o segundo problema: quando a janela é demasiado alta, não se pode saltar. Muitos riscos, tudo ou nada. A quebra é muito grande, às vezes fatal. Ficamos então, procurando uma corda, esperando uma escada que nunca vem.
A porta é mais simples, precisa apenas de uma chave. É somente mais assustador, porque não sabemos à partida o que vamos encontrar do outro lado. Às vezes vale a pena; outra não. É uma questão de arriscar, como andar no escuro, às apalpadelas, bater contra a parede, cair, levantar e continuar outra vez, à procura do interruptor para acender a luz. Basta coragem. E a chave. Não nascemos com ela pendurada ao pescoço, infelizmente. O tempo aproxima-nos, a vida guia-nos, mas somos nós que temos de a agarrar quando surge à nossa frente. E ela aparece poucas vezes, e na maior parte, por acaso. Quanto mais procuramos, menos encontramos. Depois basta ir até à porta, afastar o medo, reunir a coragem, e avançar rumo ao desconhecido. À nova etapa. Quem sabe, rumo a uma nova vida...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Reflexo

Vento. Som. Suspiros de alma. Gritos. Paz. Natureza. Vazio de multidão. Uma história. Um caminho na mata. Lixo. Luz. Vida. Ou restos dela. Obstáculos. Uma mão que nos ampara a queda. Velocidade. Silêncio.
O que encontramos ao nosso redor não é mais do que um reflexo do que há em nós próprios. O chão, firme, duro, quente, sob os meus pés. O mesmo de ontem, e ontem, e ontem. O mesmo de amanhã. Imutável, ou assim podia parecer. Uma história, milhões delas, todos os dias. Tantas vidas, lentas, pausadas, velozes, descompassadas, ofegantes, relaxadas. Cada passo um espelho dessa mesma forma como levamos a nossa vida. Uns correndo, outros arrastando os pés, por obrigação ou por prazer. É fácil descobrir: olhos no céu ou olhos no chão. Mas ninguém olha para si. As pessoas preferem olhar umas para as outras, ver os defeitos das outras: demasiado depressa, demasiado devagar. Nunca olham para elas próprias. Medo talvez. Vergonha, diria eu. Não importa. O melhor reflexo de uma pessoa não está no espelho, mas no que a rodeia.
Pergunto-me o que mostra o meu reflexo. Silêncio. Solidão. Tristeza? Não hoje. Nostalgia. Melancolia? Perto, neste momento. Alma de negro. Luto por um sonho. Lábios colados por segredos. Olhos que nada perdem, mas quase tudo ignoram. Um reflexo de espelho antigo, moldura retorcida de ferro escuro e vidro baço, esfumado, que dá uma imagem distorcida, errada. Eternamente esperando que alguém venha e limpe o espelho, para deixar somente de olhar, e ser também vista.

sábado, 25 de abril de 2009

Natureza Humana


Não há nada de muito certo. As pessoas criam rotinas para depois desejarem conseguir quebrá-las, como se algemassem os seus pulsos pelo prazer de andar numa busca cega pela chave. No final, sempre a descobrem, mas por vezes a liberdade não é tão agradavél como se esperava. O medo do desconhecido é uma constante, é inato à natureza humana as pessoas sentirem-se mais à vontade com aquilo que lhes é familiar, daí caírem no comodismo, na rotina. Não falo disto por motivo nenhum em especial. Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando me deparei com a necessidade de escrever alguma coisa. É estranho como as coisas surgem do nada, como as palavras, os temas, surgem do vazio, de uma semente que ninguém plantou, tal como as que são trazidas pelo vento e se transformam naquelas belas flores que encontramos à beira de estrada. Por um acaso elas estão lá. Porque, talvez, devia ser assim. Elas não tiveram escolha, tal como nós. Nasceram num recanto deste infímo mundo, neste recanto, mas poderiam ter nascido noutro qualquer lugar. Não escolheram. Eu também não. E se pudesse escolher, definitivamente não teria escolhido nascer aqui. Apenas me é difícil perceber se isso tornaria a vida mais ou menos interessante. Mudaria tudo, talvez até mudasse quem eu sou e, certamente, mudaria estas palavras. Aliás, estas palavras poderiam nem existir. Mas escolher implica sempre algo melhor, então eu acredito que existiriam de certeza, embora, porventura, noutra língua. No entanto, essa escolha não existe e eu estou aqui por acaso. Escrevo isto por acaso. É tudo uma questão de sorte. E como me sinto sortuda por ter o privilégio de poder escrever isto. Porque poderia ser pior; porque, infelizmente, eu ainda poderia ter nascido num lugar onde ninguém me ensinasse a escrever - porque os há neste mundo. Talvez então devesse queixar-me menos. Mas isso - inconformismo - também é inato à natureza humana. Ambicionamos muito, e contudo, fazemos muito pouco para o alcançar. Eu não quero ser assim. Eu tenho sonhos para concretizar. E no entanto, sou humana...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um momento de meditação

Porque o passado nunca se esquece

Se compreendesses não falarias assim. Se pudesses imaginar não lhe chamarias de loucura. Não vês como não é dor, porque dor, essa não sente na pele mas no coração. É a fuga para o desespero. A alternativa às lágrimas. Porque nem sempre se pode chorar, nem sempre se pode mostrar a nossa fraqueza. E suportar uma dor insignificante é tão melhor. Igualmente mal visto talvez, mas deixa de ser sinónimo de dor, para ser sinónimo de loucura. Felizes são os loucos e isto não é felicidade. É agonia. Uma revolta que não se expressa com palavras; uma dor que se combate com dor. A nossa dor. Dizem não fazer sentido. Há quem prefira descarregar a frustração nos outros; eu simplesmente não me magoo mais do que a mim própria. Altruísmo quem sabe? Mas não é esse o propósito. E porquê explicá-lo? Ninguém entenderia de qualquer forma.
Dez 08

Algo que eu escrevi há meses, pensando num passado ainda mais distante. Um passado com anos, que ainda hoje me acompanha. Fora uma conversa que o trouxera, e então expressões de choque, porque fizeste isto, porque fizeste aquilo. Ninguém compreendia. Ninguém ainda compreende. Nem eu. Ultrapassei-o, devaneio louco da primeira paixão, mas o mal, o vírus continua cá, esperando uma quebra nas minhas defesas - uma quebra grande - para me atacar outra vez. Não tenho medo. Todo o mal que eu possa fazer a mim própria, não é nada comparado com o poder que os outros têm para me magoar. Sou vulnerável, como todos nós. E cada um de nós tem a sua maneira de se amparar aquando dos empurrões da vida. Cada um de nós tem o direito de escolher como se há de levantar, ou se se há de levantar. Cada um de nós tem o direito a lidar com a sua dor conforme quiser. Não me arrependo. Mostrou-me que há maneiras correctas de fazer as coisas, e aquela, bem, aquela era errada...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Há sempre algo sobre nós, o segredo é admirá-lo

Palavras

Palavras e palavras. Vida de palavras e palavras de vida. Abrir um livro ao acaso, escolher uma palavra ao acaso e então essa palavra é: palavras. Coincidência? Eu pessoalmente gosto mais do termo destino. Era suposto ser assim. Que palavra melhor para mim que a própria palavra? Talvez fosse essa a ideia, a mensagem subliminar, pelas palavras da professora de português: viver mais a vida e menos as palavras. Elas complementam-se, equilibram-se, como numa balança. E a minha está desequilibrada, mas eu estou a ver se resolvo esse problema... Talvez tenha sido um incentivo a não desistir, ou um aviso de que não me estou a esforçar o suficiente. Sempre muito fechada por detrás das palavras, dando-lhe um peso excessivo. Há que admitir que não são tudo. Não viver unicamente para aquele talento, porque quando ele falhar – e falhou –, quando for ultrapassado – e foi – então aí não sobra nada. Isso é errado. Como aquele concurso da escola, ganho no ano passado, invisível este ano. Um nó na garganta, frustração, e depois, ao ler o texto vencedor, comoção. Não sou única, percebi. As palavras pertencem a todo um mundo. Apenas as ideias, as histórias, são minhas. Mas elas não passam de imaginação e há que viver no mundo real.
Como um dia alguém disse: "Palavras leva-as o vento".

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Antes de aprendermos a andar, aprendemos a cair

Devaneio de Autocarro

É irónico quando as pessoas procuram uma vida perfeita num mundo perfeito, e afinal precisam de muito pouco para serem felizes. Como quando olham pela janela do autocarro e não vêm realmente o que está para lá do vidro. Ou como quando cruzam a cidade a correr e não têm um segundo para apreciar a beleza que se esconde entre cada rua, a história que conta cada fachada. Não têm tempo para ver, apenas para olhar.
As vozes altas enchem o ar, sobrepõem-se, e nunca ninguém dá valor ao silêncio porque simplesmente não o conhecem. Não sabem que pode dizer muito mais que todas as palavras do mundo.
E aqui estou eu, vendo, pela milésima vez, essa paisagem. Música abafando as vozes que são ruído. Som e imagem familiares, tranquilizantes. Tantas e tantas horas, ontem, hoje e amanhã. Todos os dias. Sempre igual, mas sempre diferente.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ouro sobre azul


É tão certo com o calor do sol no meu rosto que há algo de errado aqui. Planos sob um céu azul para um dia que vai ser negro. Para mim.
Ouro sobre azul, só agora compreendo. Sol e céu, céu de Verão. Um brilho falso, de exuberância forçada, entre o que é realmente natural. Uma nuvem perdida, sozinha nessa vastidão. Não as há, eu não vejo nenhuma. Talvez não devesse olhar para o céu mas para um espelho. Mas tal como eu, todos. Ninguém a vê.
Uma promessa calada de que algo melhor estará para vir, é este dia. O prenúncio de um calor que não queima mas aquece; um delírio de sol a mais. Cheiro a Verão, e o que verão esses olhos posto no céu se não mais que essa vastidão infinita, até onde a imaginação pode alcançar, para lá da vista. Um sonho. Aquela madrugada de hoje, repetida anos e anos sem realmente ver: ouro sobre azul. Acordar com esse sol gentil no meu rosto, com esse brilho de esperança, pálido e intenso, forte e vulnerável. Foi perfeito nesse instante.
Agora é errado, muito forte. Queima. Encandeia. Personifica aquelas vozes, planeando; palavras tentadoras que não são para mim. A história da nuvem invisível esquecida nesse dia de sol. O brilho é demasiado intenso para a poderem ver, mas está lá. Esteve sempre, sempre lá.
Como ouro sobre azul, rico e privilegiado. Privilégio de todos nesse dia, excepto dos que preferiam a noite, mágica e singela, pois se a nuvem é obrigada a estar sozinha, antes na escuridão onde ninguém a pode ver, do que sob o brilho do sol num dia de céu azul, onde ninguém a quer ver.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

20 de Abril 2009


É estúpido como perdemos a maior parte da nossa vida com coisas sem sentido. Agora sei que enquanto chorava por algo insignificante havia alguém que chorava por algo realmente importante, e as lágrimas que tanto me custaram derramar foram espelhos de uma dor ilusória, exagerada talvez, e ainda assim sincera. Mas não foram nada. Não valeram nada. Reflexos da forma irreflectida com que levamos a vida: cegos, surdos e muitas vezes mudos. Sem perceber o que é realmente importante até o perdermos. Foram lágrimas infantis, de quem baixa os braços, de quem se deixa derrubar ao menor obstáculo, de quem já saltou muitos e não tem força para mais. Mas principalmente de quem vê apenas os motivos, verdadeiros, que tem para chorar, e esquece todas as outras razões pelas quais deveria sorrir.
Cometemos todos erros, é certo. Cada palavra não dita é um erro. E eu deveria dizer que lamento, porque lamento, e deveria dar-lhe os meus pêsames, porque os sinto, mas sou fraca demais para admitir que é assim, que acaba assim. São palavras que odeio, que não ouso proferir porque jamais na vida eu vou querer ouvi-las.

É triste como pensamos que tudo é tão certo, e então vemos que não só há melhor como há igualmente pior. Acho que muitas vezes nos esquecemos deste outro lado, das vozes familiares que escutamos todos os dias, dos rostos que sempre conhecemos. São certos para nós. Até não mais estarem lá. Até um dia acordarmos e percebermos que tudo mudou. E para pior. É irónico como não consigo deitar lágrimas por isto. Ainda. Talvez não tenha acordado efectivamente. Mas eu queria chorar. Queria chorar por isto se aliviasse um pouco daquela dor tão mais verdadeira que a minha.

As pessoas vão, as memórias ficam. Sempre.

Lagos, 19 de Abril 2009


Nada. De tudo o que sinto não sei nada. O vento no meu rosto e nada mais. Isto bastaria por muito tempo. Queria realmente lá ficar. Só, como sempre, mas daquela vez bem. Música nos ouvidos e cheiro a mar. Paz. Roubada a cada instante, e então ali. Prestes a ser arrastada para onde não queria, e extraordinariamente bem ali. Deseja ficar por mais tempo. Não queria ser eu a arrastar-me.
Não podia chorar, não conseguia. Não sentia nada, vazia, então não havia razões para a tristeza. Uma agradável e imenso vazio. Frio, sim, e delicioso como aquele arrepio da brisa roçando meu rosto. Devia ser sempre assim. Eu ficaria sempre assim. Desejava somente poder gravar aquela imagem permanentemente no meu olhar, e não veria escuridão ao fechar os olhos, mas aquele horizonte azul.

Agora foi-se. Levada novamente, presa por palavras que não queria dizer, por sorrisos de circunstância, tão forçados que doem. Fingir. Acabara-se a liberdade do vento, naquela sala fechada, onde quis apagar a visão e ouvir somente as notas do violino, por muito, muito tempo. Sem ninguém, sozinha. Sem me modelar, como pedaço de barro nas mãos da sociedade. Eu. Nada mais. Seria tão fácil. Simples. Natural. Como respirar. Mas antes sufocar. E em silêncio, sempre em silêncio.
E de tudo o que sentia, naquele instante de vento e mar, de música e solidão, não havia nada.
E então o mundo estava perfeito para mim.

Diário de um Sonho


O que faz sentido? A vida não faz certamente. As lágrimas não fazem definitivamente. A dor, a angústia, este nó na garganta que não deixa as palavras sair. Porquê? O que há de assim tão errado? Já vi vidas piores, e a minha é tão estupidamente perfeita, que me faz rir do quão ridículo é chorar. Mas não é. Nunca o é, porque afinal o espelho brilhante está partido, esquecido num canto escuro, reflectindo o vazio de memórias que nem lhe pertencem. Injustiça? Há tantas piores... E daí? Também ninguém vê as lágrimas. Estas lágrimas. Não fazem sentido, como tudo no mundo. E que mundo... Num universo tão grande, havia eu de ser confinada a este planeta minado de gente cega, surda e muda. A este poço de dor, outrora colorido, agora negro. Porquê? Ora, onde nada faz sentido, faria sentido existir uma resposta para esta pergunta?

Viver é uma lenda. Actualmente, a palavra correcta é sobreviver. Faz como podes, não há regras para este jogo e o objectivo é unicamente aguentar o máximo de dias possíveis. Eu não quero esta realidade. Eu não quero este mundo, que não é mundo. Ele não é natural, simples como deveria ser. É confuso, como um sonho. Distorcido do real, como um sonho. Não faz sentido, como um sonho. Por vezes, um pesadelo, tão difícil, tão cruel, que desejamos acordar, ou dormir profundamente para sempre. E no entanto, é e será sempre um sonho. Porque, bons ou maus, sonhos são sempre sonhos. E as palavras são os seus espelhos, o reflexo de um reflexo. Porque viver é sonhar, e sonhar, para mim, é escrever.

Então este será o Diário de um Sonho.