terça-feira, 30 de novembro de 2010

Desejo Paradoxal

Esta noite fria é minha e tua, para recordar os desejos perdidos de ser o que nunca fomos. No abraço incerto deste meu corpo, não há memórias, apenas lembranças, e na solidão dos cobertores, o calor nunca é quente. Ao som da música que bate com força entre os pensamentos dispersos desta mente, já caíram demasiadas lágrimas, mais do que chora hoje o céu.
A poesia é algo que já não me inspira confiança. Quebrem-se ou não as palavras, amontoem-se ou alinhem-se as palavras, o caminho sem fim que um cérebro poeticamente programado traça leva sempre à mesma crua realidade.
Os olhos comem mas não alimentam a alma.
A necessidade corrói um ser por dentro, e as mão andam cegas a apalpar o mundo, mas só virando a pele do avesso poderíamos absorver alguma coisa. Estamos cirurgicamente fechados ao prazer. Tudo é tão efémero que se torna inútil, tudo está tão visto que somos cegos. E água já não basta para matar a sede.
O tempo é a eterna constante do nada, e para nada há sempre tempo. Esperamos e desesperamos, estranhamos mas entranhamos; as palavras dos outros são a nossa voz no futuro. Amamos e prendemos, mas odiamos que nos prendam.
Somos um paradoxo caminhante e está tudo dito.
Uma vez mais, como tudo na vida, o começo é sempre o mesmo. Mas os finais variam a cada momento.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Nocturna sobriedade em gélida solidão

Falta qualquer coisa na noite que cai, no riso do ar gelado que afaga as gargantas como promessas luxuriosas de um amor que está por vir. No frio do luar caiado de branco num céu com cor de carvão, as ilusões são tantas como as estrelas que brilham no tecto negro do mundo, e mais ainda as contamos quando a visão falha fruto do copo que sustemos em parco equilíbrio na mão.
As mentiras não coabitam neste infame segundo que se arrasta como uma hora ao sol pelo derramar da luz nos becos imundos onde afogamos as nossas mágoas um dia atrás do outro.
Neste momento a perdição é um alegre sonho onde o esquecimento é um banho de água quente sobre os ossos enregelados pelos dedos cruéis da vida não-misericordiosa que nos abraça com um sorriso falso a cada amanhecer, como um despertador suave que vai ganhando intensidade com a nossa resistência em aceitar o que está para vir.
A história é sempre longa, mas já foi dito e sobredito que o final, meus amigos, é sempre o mesmo, e não importa que o sol brilhe tanto que cegue, a noite vem sempre cobrar pelos pecados adiados e a cobrança é ferro em brasa sobre a pele, até que os moribundos se atirem ao chão e chorem as desgraças e os males de que foram vítimas e culpados em virtude do único crime que foi terem nascido humanos.
Este é o século do declínio, e a descida faz-se num caminho ascendente, porque os sentidos vivem deturpados por imaginações infantis e ingénuas e pelos delírios vendidos de que se pode comprar a felicidade e apagar os erros fatais que em tempos idos condenavam o infame a uma ida directa para o inferno. A coberto da noite, os sussurros são brandos e sob a longas capas dos pecadores se transacciona as drogas que vão pôr o mundo a sorrir durante o dia, seja uma agulha bem destilada, uma nota verde de inveja e vermelha de sangue, ou um encontro clandestino nas traseiras do bar do ócio e da paixão, quando os desejos são carnais e o espírito é uma palavra que só filósofos e religiosos usam, que a alma essa já derreteu e se arrasta aos nossas pés como uma sombra tão substancial como um fantasma preso à terra.
Na loucura encontramos o berço que nos aquece sobre a chuva gelada que nos ensopa a ambição e disfarça as lágrimas que de outra forma só cairiam no canto escuro do quarto mal iluminado onde a solidão pesa demais e nos pressiona até que as vísceras se sintam tentadas a fluir pelos poros, deixando um corpo seco e vazio de vontade, que a liberdade foi aprisionada pelos pesadelos que a humanidade injectou no nosso cérebro desde tenra idade.
Vencer, vencem os heróis dos contos de fadas, onde a imortalidade é tão banal como o amor eterno, mas sabemos nós com quantos problemas esta imunda e imoral sociedade se depararia se a morte tirasse umas férias e pudéssemos sonhar com um certo e seguro para sempre.
E o que falta esta noite é o calor de um outro corpo, um beijo nos lábios e palavras doces que murmurariam às minhas mãos para sossegarem esta euforia maníaca que as pôs a comando de uma consciência tortuosa que se perde em vocabulários tão fundos que a luz da verdade é tão real e próxima como a da lua. Mas o silêncio é vibrante e ensurdecedor, e a realidade grita lá fora por uma voz para cantar as suas mágoas, e não importa que o que diga não faça sentido aos ouvidos do homem, há sempre alguém que encontra algo de si somente de olhar para as letras esquizofrénicas que alguém atirou para aqui. E isso é tudo o que importa.

sábado, 20 de novembro de 2010

Pensar na vida...

Algarve, de novo. É estranho ver como passaram tão rápido estas três semanas. Ou assustador como certas memórias permanecem tão vívidas e fortes, que é como se tivesse sido ontem. Estar longe arrasta o antigo habitual para essa categoria de incomum que nos marca de forma diferente. Mas há algo de muito bom nisso. As velhas relações deterioram-se como papel no chão pisado vezes sem contada a cada passo de distância, mas aquelas que permanecem ganham uma importância sublime destacada pela saudade.
É com orgulho que declaro nenhum arrependimento nas escolhas que fiz. Não me canso de o dizer porque não me canso de o constatar. É como ter o melhor dos dois mundos, e ainda me assombra como tudo ficou tão bem e tão certo com uma única decisão.
No fundo, tudo se resume a pessoas. É tão simples quanto isso. Proclamamos independência, aspiramos a governar a nossa vida sozinhos e a construir com as nossas mão a tão cobiçada felicidade, mas ela não depende unicamente de nós. Depende, sim, de estarmos rodeados pelas pessoas certas. Lembro-me quando há uns meses me imaginava na universidade e censuro-me por desejar essa suprema independência de fazer tudo a contar só comigo. O melhor de Aveiro são as pessoas, e só compreendendo isso alguém percebe porque é que nós, algarvios, não morremos de amores pelos fins-de-semana lá — porque quando eles vão para casa, nós ficamos, mas não é igual.
Enfim surpreende-me que só faltem quatro semanas. Choca-me até. Eu gosto realmente daquilo, e embora quisesse poder alargar um pouco este curtíssimo fim-de-semana em casa, sinto-me algo dividida. E nunca volto triste para Aveiro.

domingo, 14 de novembro de 2010

Coração

Quando um coração de gelo racha, os pedaços são demasiado pequenos e derretem demasiado depressa para que os consigamos devolver ao lugar.
Se te abrem uma brecha na alma, derramam-se-te os fluídos cardíacos e é ver o amor e o ódio rolar pelo chão como contas de um colar de pérolas. Por dentro, somos todos algum tipo de pedra, uns diamantes, outros carvão. E cada um se quebra de modo diferente.
O gelo é o revestimento preferido dos quentes de espírito mas frios por experiência. A condensação das mágoas é por natureza uma nuvem muito carregada mas que nunca se precipita. E porque não chovem lágrimas, elas gelam contra o miocárdio, umas sobre as outras, numa parede transparente de sonhos desfeitos.
Mas água é sempre água, e uma chama quente consegue o milagre que nenhuma palavra no mundo pode. Às vezes o fogo é real, outras materializado num gesto, num olhar, num beijo.
Ou numa esperança.

sábado, 13 de novembro de 2010

Just a thing

Porque toda a gente anda a usar os blogs para escrever histórias???
I have NO time, and NO memory to remind it all.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

K.I.S.S.

A semana caiu. Não sei bem como a apanhar, se a deixo ir, se me perco até ela voltar.
Tenho a consciência do muito e a vontade do pouco. Mas não são senão os antagonismos a nossa especialidade? E distorcer a realidade, com sal para tempero e pimenta para aquecer a língua. Como se não tremesse já o corpo, que este delírio é frio e a febre é uma desculpa para amainar a dor com analgésicos.
O conforto de um colchão é todavia doce demais e lutar contra a preguiça que faz de todos nós pecadores. Vamos lá, vamos lá. Ando sem paciência para textos longos, quer lê-los ou escrevê-los. Quando mais palavras, mais mentiras. Aprendam a regra do beijo.
KISS - Keep It Short and Simple
Talvez ande a aprender alguma coisa em inglês... Mas de momento penso que algures nos próximos dois dias terei de me reprogramar para o modo espanhol. Universidad...
Mas há no português este lirismo só nosso, um modo de conjugar as palavras em metáforas que resultem, expludam, marquem! Compreende quem compreende.
E vamos seguir o beijo a acabar agora. Curto, sim. Simples? Ahahah. Quem quer literatura simples que compre livros para crianças!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Touch of White

Stay close to the nightfall. Drop the tears one by one, in the silent of this broken heart. Know the story of humanity since the beginning of hate. It’s a hell painted in white and written in red. The truth about love lies in the back of revenge, and the face of anger is in fact an overdose of passion. Let me be simple. We don’t know how to use words to describe the world. We don’t know how to do it. Our vision set the rules, our eyes command our mind, and they are the toys of society. Feelings are impossible to write down. These lines are lies and compulsive imagination. Just shut up and listen the night. The silence is a utopia. Peace is a dream. And nightmares are the reflections of our fears. Let us be fearless. The reason is the reason of hypocrisy. All of us are sinners once in a while. Dear God, whoever you are, you know that. Perfection is to breathe and to love — unconditionally. Kindness is to forgive. And be human is to wake up every morning, rather rains, or the sun sparkles, and have the ability of smile and the conscience that a new day is coming.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tentativa de post

Tinha saudades de me rir e dizer asneiras com a minha prima.
Não tinha saudades desta chuva e vento que quase me levantam do chão.
O primeiro suplanta o segundo. Depois de um momento de nostalgia à janela, estou surpreendentemente bem disposta.
Parece que não tusso à muito tempo; o xarope começou a fazer efeito rapidamente — eu provavelmente não tinha referido isto antes mas não importa, tosse é tosse and sucks — ups, não estou assim tão curada.
Não me apetece continuar. Há uma coisa chamada Skype que o mais próximo que posso estar dos meus amores algarvios.
See u

Lamento Selenita

O silêncio é de pedra e a noite de gelo. O abraço da chuva não tem nome mas é memória fria e húmida da hora que antecedeu o fim de tudo. As palavras rangem. É o momento.
Não sei mais por onde caminhar. Não há mais véus para levantar nesta cortina de luz e escuridão que encobre as mentiras plácidas da humanidade. O abrigo é de papel e derreteu. Só tu sabes como o sol queima neste dia nublado. Mais arde a ausência das vozes que não percebes. E as perguntas são as mesmas em todas as gerações.
Um dia seremos grandes conquistadores em cavalos de madeira e espadas de plástico. Encontraremos o fim do arco-íris e o pote de ouro. A vitória é uma criança que ganhou um doce em forma de coração. E tudo o que esperamos de amanhã é acordar. Um beijo nesta face gélida e a rua ganhou novas cores. Mas a distância que separas dois corpos é a meta mais difícil de se ultrapassar. Compreendemo-lo ao crescer, quando a inocência é pecado e os gestos são todos obscenos. Quando um abraço tem o preço de mil amores comprados e um milhão de dívidas para saldar.
A oração é baixa e para ninguém. A ajuda é ilusão dos pobres e dos afogados, e o divino é crença dos ricos e dos que ainda têm esperança. O chapinhar dos pés descalços na rua molhada sim é a canção dos deuses. E nas mão calejadas e imundas está a sabedoria mais amarga desta vida e da outra. Sob a sombra do preconceito, nascem artistas e anjos. E à luz do sangue dourado que bombeia nas raízes deste mundo, morrem todos os outros corações. Porque a arte permanece e a bondade escasseia mas subsiste, para alimentar com água pura as almas daqueles quem têm olhos para ver e não para se deixarem cegar.
A história é longa e na verdade nenhuma. Gasto insano de palavras e papel. A moral não existe fora das nossas consciências.

sábado, 6 de novembro de 2010

Juízo Final

Vamos medir a consciência do mundo com uma fita métrica e somar todas as lágrimas que caem num segundo. Então subtrair cada beijo sincero por metro quadrado e dividir o valor por todas a vezes numa vida que alguém diz "amo-te" de verdade. No fim, multiplicamos tudo pelo número de pecados que cabem num minuto e percebemos que restam muitos anos de penitência à Humanidade.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Humor 'de trazer por casa'

Estou com um humor complicado. Chama-se ser mulher. Dançando na corda bamba entre a vontade de bater em alguém e tapar o rosto e deprimir. Chama-se cansaço também, que é o que acontece quando nos obrigamos a nós próprios a sair da cama para ir ter aulas depois de cinco horas mal dormidas após um dia de ressaca (não contem a ninguém).
Apetece-me aterrar definitivamente na cama, mas não quero dormir. O tempo livre em frente a um pc ou com um livro parece tão curto, mas que literatura resiste quando a mente desiste?
Nunca tinha sido uma pessoa de pessoas. É bom, mas eu preciso de escrever. Não funciona quando o tempo é todo dos outros, e todavia, não se sinto egoísta a esse respeito, como bem me lembro de ter sido com algumas pessoas. Quero dar esse tempo. Apenas sinto falta que me sobre algum. Neste momento tenho-o. Mas não sei se consigo pôr a cabeça no sítio — ou por quantos mais minutos me manterei assim desperta.
Still... pode ser que não responda torto a mais ninguém hoje.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

(re)tomar a paixão

Tenho que retomar o ritmo diário disto. Agora já não desculpas.
Aveiro está mais frio, mas a vida segue sendo quente nestes laços que se aprofundam como irmandades de corações que estão fora dos círculos das suas casas e precisam de uns braços para os confortar; e tão meigos são os que encontram, que esta é já a sua nova casa.
O conceito de tempo é uma variável ainda mais relativa quando nos referimos à amizade. Nem sempre os anos fortalecem os sentimentos. Por vezes, fazem exactamente o contrário...
Por vezes é a distância que nos mostra o que queremos e a proximidade que nos diz o que não queremos. Talvez tenha deixado algo a amadurecer no Algarve e só agora me aperceba...
Ainda não peguei na máquina fotográfica e fui tirar fotos pela cidade. Quem sabe este fim de semana. Há um sem fim de possibilidade quando temos o tempo e os meios para ir onde quer que queiramos nesta formosa cidade — isto porque só a pé vemos a beleza da paisagem.
Já tenho madrinha (aka patroa, segundo o vocabulário aveirense). Tenho de pensar numa cartinha bonita e original para completar o pedido.
Hoje há jogo de futsal de LEE. E festa. Que possamos comemorar uma vitória também, que as meninas merecem! ;) Go, LEE, Go!