domingo, 3 de janeiro de 2010

Monólogo de quem escreve para quem lê

Sei que sabes que há muito para contar
Sei que os dias passam e sobra tanto para dizer
Ou repetir-te o que foi dito
Sei que se perdem muitas palavras
Mas mesmo sem dormir, não as poderia guardar
Não a todas
Não as que me fogem a cada instante

Sei buscá-las nos confins da minha mente
Mas às rebeldes não chegam correntes
Vem o vazio da não-inspiração
Ideias caídas no buraco sem fim da memória
Não há linha comprida o suficiente para pescá-las

Qualquer coisa para dizer
Não dizes o que deverias no momento que deverias
Não o dizes a quem deverias
Esperas que venham ler, mas sabes que essa pessoa não vai
Senão não o escreverias
Poderíamos estar a falar de preguiça?
Mas o mal aqui é outro

Perdi-me...
Não vou olhar para trás para me encontrar
Dizia que há muito que não escrevia poemas
Isto não é um poema
Até os poemas têm sentido, mesmo que não o vejamos
Isto não tem sentido
São os pensamentos que não quis deixar fugir
E não há lógica nos pensamentos

Sempre quisera, desde pequena, ter um gravador de pensamentos
Sempre, sempre, sempre
Já viram o que seria?
Já pensaram no que se perde?
Não podemos andar sempre com um computador atrás
A cada segundo da nossa vida
Sim, um desperdício

E as palavras que ficam são estas
Meras gotas num mar sem fim, que corre livre
Que muda a cada instante, que muda quando o imortalizamos
Que muda quando pensamos em imortalizá-lo

Sim, estes são os pensamentos que ficam
Mais sólidos que os outros, talvez tão confusos como estes
O nada de um todo, que é escrito, é lido
É repetido
Mas com o tempo continua a não ser nada
Somente uma palavra de um livro inteiro que ninguém abriu

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