quarta-feira, 24 de junho de 2009

Consciência de Sonho

Hoje tive um sonho estranho. Ao acordar lembrava-me de quase tudo, mas agora as imagens desfizeram-se na minha mente como cinzas ao vento. No entanto, a ideia ficou cá. A certeza e a dúvida; a desilusão que roçava as lágrimas; o nó na garganta por perceber aquilo que andava a tentar ignorar, não para enganar os outros, mas a mim própria. Uma verdade, ou melhor, uma realidade que, para não fugir à regra, não era tão brilhantemente colorida como a pintamos – como a pintava. E de afirmá-lo a pé fincado, eu dei comigo deambulando por sei lá onde, admitindo para comigo que era mentira, que era tudo mentira. E, se a memória não me trai, eu afirmei-o em voz alta, para quem quer que fosse que me estivesse a ouvir. Julgo que havia a consciência para lá do sonho que me fez arrepiar com a certeza daquelas palavras, cujas letras não me lembro, mas cuja essência guardo.
O sonho era sobre uma menina-mulher – eu – que abria os olhos para uma realidade mais cruel do que aquela que queria ver: ela não tinha o pai que desejava. Ele era bom, mas não tão presente, não tão atencioso, não tão compreensivo, como ela se iludia. E a consciência dessa imperfeição soterrou-a tão subitamente que ela se viu sob a ameaça de lágrimas.
Eu era essa menina-mulher, não apenas porque era eu fisicamente, mas porque sentia o mesmo que ela, fora dessa realidade fantasiosa que era o sonho. Apenas que aqui e agora tenho uma consciência diferente, que não chora mas que aceita, talvez porque já não seja tão menina e já não sinta – ou julga sentir – falta dessa parte de amor paternal, que existe, claro que existe, e sempre existiu, só que, por vezes, não é demonstrado da melhor forma – e às vezes, essas vezes que deixam o coração apertado mesmo que não nos demos conta, não é demonstrado de todo. Mas, claro, ninguém é perfeito. É só que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, nos sonhos nem tudo é mais bonito e fantasioso. Por vezes, é até mais cruel e real.

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