segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Alquimia

Nunca sabemos exactamente quando é que os nossos pulmões vão cuspir o lixo que os obrigamos a ingerir. Nunca sabemos quando é que o nosso coração se vai revoltar por solidariedade aos outros que destroçamos. O nosso corpo segue a alquimia do amor e da sorte.
E o mundo pode ser redondo, mas a vida é quadrada. Mas cedo ou mais tarde, chegamos ao fim e caímos.
Esta imaginação que borbulha sob a pele não encontra as palavras necessárias para descrever a falha essencial que é o sujeito e a causa de toda esta curta mas profunda reflexão. Tomar consciência de algo é como ficar sem ar, asfixiarmo-nos na intensidade arrebatada da descoberta. Por certo é uma metáfora, mas a escrita é uma metáfora, cada palavra que escrevemos é uma metáfora, até esta própria metáfora. A realidade não está nas letras, os sentimentos não estão no papel. O mundo não se escreve — descreve. E para o mostrarmos, para que o imaginemos como é, tão próximo possível do que é, usamos comparações: usamos metáforas.
Isto não significa nada. O significado não está aqui. É tudo físico. Começa no coração, passa pelos pulmões e só depois chega à consciência. A percepção do mundo está nos sentidos, não na razão. E o mundo é nos dado no ar que respiramos. Quando ele falta, a razão é lixo para uma consciência cega da realidade.
E alquimia do nosso corpo entra em reacção química...

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