terça-feira, 22 de março de 2011

Se te puser num pedestal, Caio

Ainda sinto o teu cheiro na minha roupa. Esse odor forte e suculento que me embalou durante uma noite e me persegue, como um ensaio sobre o desejo e a improbabilidade da repetição.
Não consigo afastar a tua memória, impregnada como tinta permanente no tecido dos meus pensamentos. Não consigo calar a incredulidade, como se tivesse acabado de acordar de um sonho, doce e efémero, tão incorruptível.
Ainda oiço a tua voz rouca e sensual, rogando-me num murmúrio, e revivo trinta vezes por dia o choque de te saber partilhado assim, a nu e a cru, neste segredo que guardam três paredes.
Tento calar a voz que persegue o teu silêncio como cobrador de pecados.
A nossa dívida está saldada.

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