O frio gela até aos ossos e toca o coração.
Mas estou em casa. Há algo de intimamente familiar nisso, como o peso tão denso das memórias e um à vontade ganho desde que me lembro, que aquece lá dentro mesmo quando as mão tremem de frio e as chamas da lareira são rubras aos olhos mas insensíveis na distância à pele.
Nestas tardes que se desenrolam a uma velocidade incomum, ora breves, ora arrastadas, ora estranhamente céleres, o dia acaba e a noite espreita, prometendo uma abençoada lentidão com tempo para todas as pequenas coisas que é necessário fazer ou pensar, já debaixo dos cobertores, quando o corpo protesta para desligar a mente, com o argumento de que no dia seguinte não será capaz de se levantar.
É sempre capaz. Mas não há manhãs nestas férias. Há noite infindáveis onde encontro todas as posições que um corpo e um livro ou computador podem assumir num sofá.
A música penetra até vibrar nos tendões, enquanto as palavras se perdem na semi-consciência da repetição, quando a concentração alcança aquele sublime estado de abstracção, tão difícil, tão inconsciente, tão abençoado. E assim o tempo corre nestas tão estranhas e particulares férias, somente minhas nesta casa, tão longe do novo e já entranhado hábito de atravessar a rua e bater à amigável porta em busca de companhia nestes dias de frio, chuva e vento, dias de chá quentes e mantas em redor do corpo, gorros, casacos e luvas, para os cinco, dez minutos fora de casa, que valem bem as duas, três, seis horas de risos e conversas.
Mas não aqui.
Ainda assim, sabe bem estar em casa.
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