No final, sorrimos enquanto pensamos no trabalho que foi feito. Nas horas gastas com os pequenos detalhes, a escolha minuciosa das palavras, o timbre e o desenho certo das ideias, a estética da razão.
Afinal, depois de tantos dias de calos nos dedos e mãos geladas, a perfeição acontece. Ilusão, mera ilusão. O erro do escritor é pensar que a obra acaba quando se põe o último ponto final.
Não.
Na infantilidade da aprendizagem, nesses primeiros quilómetros artilhados do caminho, julgamos-nos com um orgulho inocente privado de perfeccionismo e de visão crítica. Depois, deixamos assentar as palavras e percebemos que estão todas erradas. Deixamos assentar os discursos e compreendemos que as falas estão todas trocas. Deixamos assentar a história e entendemos que teria sido melhor de outra maneira.
Exactamente como acontece na nossa própria vida.
Então, e ao contrário da nossa própria vida, rescrevê-mo-la. Corrigi-mo-la.
No final, sorrimos enquanto pensamos no trabalho que foi feito. Nas horas bem gastas com as grandes decisões e os pequenos pormenores, a selecção ora aleatória, ora fundamental das palavras, a música contínua das teclas, a paisagem firme das linhas crescentes, a estética da paixão.
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