Quando a noite cair silenciosa neste incerto fim do mundo em que a minha alma se atolou sem ti, rasga-me a pele e vem pelo meu coração. Quero vê-lo vermelho e brilhante, palpitando com o meu último fôlego de vida, que sobrou em ti depois daquele beijo. Grita com paixão a tua presença se o meu corpo não pressentir a tua chegada, inerte numa espera velha e gasta, que envelhece e desgasta tudo menos a saudade.
Coloca o meu coração nos teus lábios e devolve-o à vida, deposita-o com cuidado no meu peito e fecha a ferida com amor. Ainda estou aqui para ti. Basta que me despertes deste solitário pesadelo onde me olho ao espelho e não te vejo a meu lado, acordo à noite e não estás lá, procuro-te e tudo, até a minha sombra, me parece só. Um devia ser um número proibido.
Dá-me a mão, puxa-me com força, até quebrar o abraço hostil da solidão. Deixa-me enterrar-me nos teus braços, fundir-me com o teu corpo. Vou algemar-te a mim.
E depois, suga-me as memórias negras da tua ausência e não me permitas jamais recordar o sabor salgado das lágrimas de despedida, nem o frio paralisante que se infiltra nos lençóis ásperos quando tu não estás. E aperta-me contra ti, até sentir a tua pulsação, murmura-me ao ouvido as nossas verdades incontornáveis sobre o amor.
Faz as últimas semanas desaparecerem. Volta depressa.
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