Quando a vida não encaixa,
ah, quando as nossas palavras se juntam numa figura disforme que não cabe na forma perfeita de um círculo, e o seu significado não tem o equilibro certo de um triângulo equilátero, nem a rectidão de um quadrado
apenas as lágrimas preenchem as covas do nosso rosto com uma naturalidade quase divina.
Mas não há nada de divino em chorar. É o mais humano, humilde e inferior caminho a que a vida nos pode levar. É onde as cores se borram, as formas se desfocam, as palavras perdem o sentido e as emoções se confundem.
É onde o mundo é quadrado e nós estamos à beira do precipicio.
Não há gravidade. Mas é tudo grave.
E o encaixe perfeito entre dois corpos,
ah, duas luas em fases opostas, tão distintas mas tão correctas, como a negação do nunca e a afirmação do para sempre, aconchegadas assim, no interior da forma perfeita do eterno ciclo
é desfeito pela actuação do tempo sobre a vida.
Mas o amor subsiste, como forma sem forma e sem cor, desenhado com agulhas sobre um coração de pedra, cheio de palavras que tiram o sentido às emoções e emoções que confundem as palavras.
A perfeição da vida foi derrubada pela lógica, pela razão e pelos teoremas matemáticos.
Já nada encaixa sem oposição nesta realidade. Não agora que o mundo foi desenhado com linhas rectas.