quinta-feira, 9 de junho de 2011

Ah, saudade!

Ah, se soubéssemos o preço emocional da distância, partiríamos quando decidimos ficar e ficaríamos quando escolhemos partir.
Se soubéssemos, ah, se soubéssemos... Escrevíamos o guião do filme sem intervalos, cortaríamos tudo o que é descrições, apagávamos despedidas e ficaríamos apenas com os reencontros, as noites apaixonadas, as horas acompanhadas.
Ah, se pudéssemos! Não fomos habituados a crescer separados. Não fomos habituados a dormir sozinhos. E agora, criança, enroscas-te sobre ti debaixo do cobertor, afastas os romances cor-de-rosa, e sonhas com um comboio azul e vermelho.
Se não o adivinhássemos, se não tivesse sido avisada, seria uma grande surpresa. Ainda só não podia prever a quantidade exacta de saudade que brotaria todos os dias, todas as noite, todas as manhãs. Só ainda não podia conceber a quantidade exacta de amor e a sua conversão em nostalgia.
Se soubéssemos, ah, se soubéssemos. Deixava o comboio azul e vermelho passar, não sairia sequer do calor dos lençóis. Mas voltar a casa... Quando a obrigação se converte em vontade e esse desejo entra em conflito com esta nova necessidade básica, ah, quando os quilómetros nos dividem o coração, acabamos a desesperar por uma mensagem e a desabafar no computador às três da manhã.
Porque não fomos habituados a dormir sozinhos.

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