Nestes dias de barretes vermelhos e árvores decoradas, desejos de presentes e jantares com muita gente, penso o que sempre pensei. A Consoada não pareceu como uma Consoada.
Recordo uma vez que era pequena e passei a véspera de Natal em casa do meu avô paterno com os meus tios. Nunca gostei daquela casa. Nunca gostei das prendas que ele escolhia, isto quando ele ainda se lembrava de oferecer alguma coisa. Agora, já é bom que telefone. Mas, por alguma razão, essa noite assentava melhor no ideal de uma Consoada. A família reunida, confusão, a mãe stressada, a prima chateada, enfim.
O geral é nunca ter nada disso. À mesa somos poucos e tendeu a diminuir. Não são os lugares à mesa que contam, sei, mas parece, cada vez mais, que há muito pouco de natalício neste Natal. Talvez porque é habitual sermos nós cinco à mesa. Bem, quando eu estou em casa. Antes era diferente. Antes descia à casa da avó no rés-do-chão para o almoço de Natal. Antes éramos seis à mesa e a Raquel está a ficar comovida. A questão é: antes costumávamos ser só quatro no dia-a-dia, e sempre havia que somar mais dois no Natal para fazer a diferença. Mesmo que fosse igual a todos os almoços de domingo, aqueles que nunca mais tivemos, na casa dos avós. Geralmente, nós descíamos. Eles dois só subiam em ocasiões importantes.
Então, se não fossem as travessas exageradas de doces, os bolos, as tartes, não teria havido grande diferença entre a Consoada e qualquer outra noite.
Dia 25 foi algo diferente, mais natalício, se não lhe tivesse perdido o espírito. Mais família, tios, primas. Talvez tenha posto as coisas de forma errada. Mais família não é igual a mais Natal. Faltou-me o calor, faltou-me a magia.
Faltou ser criança.
Tenho saudades dos tempos em que havia pelo menos um presente cujo conteúdo eu não sabia qual era. Tenho saudades da curiosidade, quando a minha mãe não embrulhava os presentes no próprio dia e fazíamos uma pilha com eles a um canto. Não são saudades do tempo em que podia fazer uma pilha com eles, mas sim daquele momento em que olhávamos para as etiquetas e dizíamos "este é para ti".
Tenho que comprar uma prenda para a minha mãe. Lamento não ter tido oportunidade antes.
No fundo, o Natal realmente é das crianças e, mais não seja, tenho saudades de quando a minha irmã ainda era realmente criança, e pedia brinquedos de crianças, e eu gostava quase mais de a ver abrir as prendas dela do que as minhas.
Afinal de contas, não é só um dia em família. Porque todos os dias devem ser dias em família. Natal é mais que isso. Foram sonhos, esperanças, coisas de criança que se perdem quando temos idade para pintar o mundo com as suas verdadeiras cores. O espírito de Natal mede-se pela intensidade com que fazemos a contagem decrescente e, este ano, senti-me como se tivesse tropeçado na data, olhado para o calendário e perguntado "já é Natal?".
Era. Veio e foi. Deixou gravada uma marcada entretanto, chamada nostalgia.