Sento-me aqui de novo, com as mesmas palavras que cercam e sufocam. Continuamos iguais, na distância e na proximidade, no amor e no ódio. A história escreve-se cada vez mais longe do presente, como uma memória gasta de tão revisitada, sempre com uma linha a mais de gratidão que agora se desfaz no chão que a proclamada injustiça pisou.
Talvez não tenha sido jamais pintada do branco imaculado que as rememorações crêem. Quem sabe se não se tratou tudo de uma ilusão. O coração gosta de acreditar que não, mas o certo, o presente deste minuto do relógio, é que ele está enroscado como um novelo, fechado sobre si, pequeno e insignificante, ignorado até à artéria mais distante deste complexo sistema de emoções e aspirações.
As articulações sofrem com o frio da solidão que o tempo, tão escasso, impõem como se tivesse sempre presente. O dia arrasta-se penosamente, mas os dedos não se movem nem concretizam. As metas desfazem-se no desleixe de uma vontade por realizar. Esta outra é maior e move o meu corpo cansado para os únicos braços que ainda o recebem com um sorriso. Os antigos prazeres da vida são agora difíceis de recuperar, atirados para o segundo plano de todas as coisas. Os olhos doem e nunca custou tanto acordar. A nostalgia vence.
A vida é melhor na horizontal.
1 comentário:
Estranhamente concordo bastante contigo, especialmente com a ultima frase, embora por motivos muito pouco óbvios, mesmo para mim.
Já agora, continuas a escrever muito bem, parabéns.
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