O tempo é uma dimensão rara do ser. A velocidade a que se criam memórias é uma eco vago no plano da consciência distorcida, em eterno processo de regressão, que transforma as melhores horas da nossa vida na mera certeza de terem acontecido. As provas são fúteis. Não há pedaço de papel pintado a luz que reacende a vida com tanta intensidade como um imaculado sonho revivalista que a nossa anatomia não nos permite ter, nem no segundo imediato ao acontecimento. O passado é nevoeiro. É o diz que disse e a recordação distorcida da nossa visão subjectiva. É um consolo pobre mas suficiente, tão desgraçadamente suficiente para ainda arrancar lágrimas ou sorrisos, mesmo que errado, errante e destruidor. Porque é igualmente capaz de produzir saudades, perigosa nostalgia do ser que se sente inadvertidamente atraído por um tempo que não pode recuperar, mal pode recordar e jamais poderá transformar. E esse estágio de arrependimento ou melancolia entranha-se, não se estranha, e vira as prioridades da nossa alma progressiva no sentido da auto-destruição. O tempo é uma dimensão suicida do ser. Aquela em que a felicidade está dependente de uma história já gravada em pedra, que se deteriora e esvaísse como areia ao vento.
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