As saudades colam-se a ti. Palavras. A tristeza assoma-se, logo assim, tão rápido chamada, tão de repente na vertigem dos meus olhos. Perdi o trilho de pedra, as migalhas de uma história sem fim.
Não me encontro. Não encontro a vontade, não encontro o gosto em perder horas naquele mundo, não encontro o dom de fazer magia, não encontro a arte da criação. As palavras foram sugadas por um vórtice de nome realidade. O riso, o nada, o insignificante, o supérfluo gasto de horas sobrepôs-se àquele tempo. E a lista daqueles que foram deixados para trás cresce, entre sonho e vida real, com histórias suspensas, que não pesam o suficiente na minha preocupação para que me esforce a dar-lhe continuidade, a dar-lhes um final.
A desilusão acentua-se, corrói, magoa. Prioridades. No fundo tudo se resume a prioridades. E aquela fantasia, aquela romance de papel, aquele mundo paralelo, aquelas pessoas irreais não estão mais presentes, não são mais prioridade. Não me apaixonam mais, porque agora este coração tem um dono real, de carne e osso. E assim aquele sonho concretizou-se e o faz-de-conta morreu. Como sempre soube que aconteceria.
Não posso dar o meu coração a duas vidas ao mesmo tempo. Mesmo que uma delas seja de papel. E escrever sem ser com paixão... não resulta mais. Já divaguei, já filosofei, e agora a racionalização nua e crua. Como este diário, cada página tem sido prenúncio de algo errado. Quando o meu mundo está completo e eu estou feliz, não sinto qualquer desejo de escrever sobre isso. Quero vivê-lo. Como este amor. Pela primeira vez, não tenho de me limitar a escrevê-lo. Posso vivê-lo. Quero-o, mesmo que isso mate a romancista que há em mim.
Entristece-me, chama as lágrimas, aperta-me o coração, mas é verdade. Conciliar os dois mundos é um caminho árduo, sobretudo quando já perdi um deles. E sempre que tento, que dou um bocadinho de mim à fantasia, custa entrar, custa permanecer, porque a realidade chama agora muito, muito mais alto. E se neste momento importa, importa muito, na generalidade dos dias, na maioria das horas, não.
Então talvez entenda agora que não escrevia por vocação, mas somente porque necessitava de preencher a minha vida com algo que valesse a pena.
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